Dramaturgia

28/07/09 - Sobe o pano. Aula com Igor de A. Silva, nosso professor de Dramaturgia, a disciplina favorita de André Filho, que durante seis meses de aula de interpretação nos falava sempre "a dramaturgia isso, a dramaturgia aquilo..." ele se sentiria realizado pagando essa cadeira conosco. Que saudade de André, grande figura.

Primeiro fomos informados que ganharemos ingressos para o aplauso semana que vem e não assistiremos aula, massa. Nos lembraram de novo das faltas, que uó.

Aí sim, tio Igor, acho que ele tem um sotaque carioca, não tenho muita certeza, foi só uma impressão, é formado em Cênicas pela UFPE e acabou faz pouco tempo um mestrado em cima de duas peças de um dramaturgo chamado Luiz Marinho, que pesquiso depois e dou mais informações.

Aí, muito bacana do professor ter montado a cadeira com foco no estudo da personagem, procurando assim com os conhecimentos a serem estudados nos instrumentalizar mais como atores.

Porque podíamos passar seis meses fazendo unicamente o exercício dos críticos - chatear - mas pela primeira impressão professor Igor fará muito mais por nós.

Durante a aula tive uma reflexão assim, vou passar adiante - O ator, quando pega um texto para interpretar; é bom que ele olhe o texto sem preconceitos, tenha uma visão limpa sobre o mesmo para poder criar em cima dele de forma que fale aos homens de seu tempo e espaço, massinha até aí. Agora não dá pra ser débil, alienado; é preciso também entender o texto no seu contexto histórico - que palco foi pensado para suportar esse texto, que tipo de atuação foi pensada na época do texto, qual o contexto histórico, o texto quer divertir, quer criticar; e se quer criticar, o que da critica do passado é pertinente hoje, o que da comédia do passado ainda nos fala hoje. Portanto creio que para negar e criar sem preconceitos é necessário sim conhecer todos os preconceitos, para saber que os derruba aos derrubá-los e não fazer os "experimentalismos" dos quais Neemias tanto nos prevenia. E nesse sentido talvez essa cadeira venha suprir uma necessidade da turma como um todo - Instrumentalizar o ator na abordagem do texto.

Nos foi passado que teremos quatro momentos na disciplina:

1) Análise e pressupostos teóricos

2) Panorama da dramaturgia dramática

3) Análise de Textos

4) Estudo da relação Texto - Cena

Nós tivemos que nos apresentar ao professor, o que foi super constrangedor de uma certa forma porque todos nós já nos conhecíamos e na verdade nos apresentamos unicamente para o tio, mas foi legal também, sei lá.

Nessa história de se apresentar Ingrid fez uma grande revelação pra turma: Ela teve seu grande insight "quero ser atriz" no dia em que interpretou uma árvore na estória de chapéuzinho vermelho. Supreendente, não?

Começamos nosso estudo propriamente dito na poética, de Aristóteles - Isso porque professor Igor citou Aristóteles como uma das primeiras referências que temos de como construir e apreciar uma obra dramática.

O foco foi na teoria de gêneros, onde Aristóteles conceituava o épico, lírico e dramático, noções que temos desde as aulas de literatura do colegial, interessante mesmo foi o que ele disse sobre essas noções "não são de todo inútil". Fica claro aí a intenção dele de nos mostrar tais definições por sua importância histórica muito antes da prática. Ainda que ela funcionem hoje pela simplicidade da análogia de seus conceitos ao fato de toda obra literária de fato se dirigir à alguém de forma peculiar.

Até porque, estava pensando, essa coisa de definição é mô furada, importante mesmo é saber identificar as características marcantes da obra em estudo, como tu vais chamá-las depende exclusivamente de seu senso critíco e sua capacidade de leitura de mundo. Agora que é muito importante mesmo saber como outras pessoas pensaram isso é, já que dá embasa o pensamento contemporâneo.

Interessante mesmo nessa teoria de gêneros foi a questão do gênero adjetivo. Já assumindo que as características marcantes de um gênero podem se misturar com características pertinentes à outros na mesma obra Aristóteles usou de um gênero adjetivo na sua forma de classificar uma obra, admitindo assim a tolice de um "purismo literário" (diga isso aos franceses da renascença). Recurso ressucitado no Brasil por Nelson Rodrigues, que fazia piadas ótimas nessa história de gênero substantivo e adjetivo, como "farsa irresponsável" ou "Tragédia carioca".

Pronto, tá bom.

Aula Inaugural

27/07/09 - Sobe o pano numa velocidade da gota. Alguém considerou dar férias pra gente por acaso? Evânia Copinho (ah, que saudade eu tava dela!) me liga lembrando que as aulas começam hoje e tem que ir que é aula inaugurau mais que especial com Zé Manoel (História do teatro brasileiro) e Maria Rita (a cantora que namorou Falcão... Quer dizer, professora de interpretação). Maria Rita inclusive, fiquei sabendo depois, foi atriz do teatro de Arena em sua última fase, ói que chic!

Bem, não fui à aula por motivos pessoais, mas o pessoal me contou que foi muito bom, Zé Manoel aplicou exercícios de espaço e companheirismo, Maria Rita ensinou a turma como pronunciar corretamente o nome de Brecht (como se eu falasse alemão né meu bem?!).

Também teve pegação de pé por causa das faltas, nos cobrando presença, nos cobrando não reprovar para não termos problemas em tirar o DRT depois. Enfim. Do que sei foi isso. Depois alguém (não sei porque ainda tenho esperanças que alguém vai escrever aqui) completa.

Abraços

Recuperação

08/07/09 - Sobe o pano para a recuperação de Evânia. Eu tinha tentado ensaiar a 'interface' antes, mas por já que metade do meu grupo estava na recuperação e a outra doente (eu inclusive, descobri depois) não pudemos, fiquei tomando sorvete com Mauro e Paulinha até o horário da aula.

Na aula mais surpresas. Muita, muita gente doente, mas a recuperação não estava nem aí para as doenças dos outros.

A primeira a tentar se recuperar foi Ju, com Shakespeare; mas acho que não dei certo. Os trabalhos todos para a semana somados a sei lá mais o quê resultou num trabalho feito com pressa que não funcionou em sala de aula. Para a cena também não aconteceu muita coisa, ela leu um trecho de Romeu e Julieta (ela não me deixou fazer Romeu, que eu queria tanto...) e fim.

Evânia, fazendo perguntas para tentar ajudá-la a desenvolver a pesquisa dela levantou uma coisa interessante: Shakespeare como insurgente. Neemias diz que ele não existe, Evânia que ele foi um 'revolucionário' (ela não disse isso desse jeito não, eu amentei com licença poética) que nos seus textos, mostrava os podres da nobreza. Fiquei pensando o seguinte: Primeiro ele trabalhava para a nobreza, depois ele nunca atacava diretamente, então se ele fazia, fazia na surdina, o que não é nenhuma novidade.

A outra coisa que pensei foi: Na época não se falava do homem comum, não se escrevia peças sobre gente simples, só sobre gente importante: Nobres, personagens históricas; e como toda história tem que ter conflito, se não a peça não rola, então é claro que ele tem pôr defeitos na nobreza. Não sei se vejo a obra dele tão insurgente assim, principalmente quando há relatos que a Rainha vivia bancando ele. Tudo bem que a Rainha Elizabeth é conhecida por ter sido excêntrica e sem papas na lingua. Enfim o questionamento fica suspenso.

Depois foram Dolores e Geraldo nos dar uma prova de amor - Dolores e Geraldo, não sei dizer se os dois estavam de recuperação e fizeram juntos ou se um ajudou o outro, sei que foi junto e ponto. Ah, e o tema foi Sófocles, com Édipo rei. Geraldo falou bastante e trouxe um questionamento massa, que é assim:

Sófocles contribuiu para a segunda 'fase' do teatro grego - e por segunda fase entendemos que ele introduz entre os homens e os Deuses conflito - Os homens ainda devem obedecer aos Deuses, mas ele já podem questionar, eles já podem desafiar - e encarar as consequencias - mas antes a obediência era a lei. Na verdade, antes os homens quase não eram protagonistas das tragédias - Prometeu, Bacantes - Os deuses eram os personagens principais, na segunda fase os homens ganham mais espaço, um espaço que 'históricamente' só é firmado no renascimento, quando os Deuses ficam quase completamente escanteados.

Agora a lição de amor da apresentação de ambos foi: Dolores tem uma vida corrida e não pôde dedicar à recuperação o devido tempo, Evânia percebeu, ficou aquele clima chato onde todo mundo não se encarava direito... E Geraldo usou de todas suas forças para empurrar Dolores para frente, usou dos truques e artifícios mais óbvios imagináveis para ajudar Dolores a passar na recuperação. Dolores desistiu antes de começar; se culpou por não ter se dedicado mais.

O próximo seria Biaggio com o teatro do Absurdo, mas eu estava muito doente e tive que ir embora. Fiquei pensando no dilema ético do professor numa hora dessas e como tudo fica amarrado no aluno: Evânia deu quatro trabalhos para nos avaliar, para quem não conseguiu, seja por falta, seja por nota, houve trabalhos de recuperação. Ou seja, ela deu todas as chances. Mas se o aluno não aproveita nenhuma das oportunidades?

O curso do Sesc não tem, em hipótese alguma, caráter eletista ou de exclusão - muito pelo contrário, é um curso de Teatro, por Deus! Mas existe um compromisso ético, porque quando você diz que uma pessoa está formada num curso, ela precisa estar formada. O que fazer?

A solução encontrada pelo Sesc é boa - Fazer de novo as cadeiras reprovadas. Mas que ainda é uma cruz triste que como curso a escola Sesc tem e deve carregar. É.

Sobe o Pano. Finalmente

07/07/09 - Sobe o pano. Dia de ensaio geral e apresentação de fim de módulo/período/cadeira/ o que for. Eu mesmo subi meu pano às dez da manhã quando fui no Sesc pegar a curtina para usarmos de coxia. Para outros subiu à meio dia e meia para pôr cortina, passar a cena, rever o texto. Para André Filho subiu lá pras duas horas da tarde. Para outros subiu as dez pras seis...

Enfim, num dado momento o pano sube para todos. Depois de posta cortina foi um sem nada pra fazer danado. Ainda tentamos ensaiar Mauro, Thaysa e eu, mas não deu muito certo. Foi bom para Mauro aprender a me espancar, mas não dei muito certo. Enquanto isso na sala de justiça Biagio e Camilla ensaiavam 'A obscena senhora D' com André pela primeira vez. Entre quatro e cinco da tarde começamos o primeiro ensaio gerla a fim de orientar os contra-regras, e mesmo para um negocinho simples como nosso é necessário um serviço horrendo de contra-regragem. Arruma cena, arruma luz, desarruma a cena, desarruma a luz. Oito vezes no total. No meio disso chegam Dolores e Geraldo para ensaiar, também pela primeira vez com André, Roberto Zucco.

Seis da tarde. Todos muito nervosos começamos o verdadeiro ensaio geral - para mim, em particular, horrível - Ainda não muito afinado com Mauro na cena de 'Navalha na carne' com dificuldades nos figurinos e objetos de cena. Com Biagio completamente ausente de 'Álbum de Família' porque voltou todas as forças para 'A obcena Senhora D'. Eu entendo que ele só foi pensar na 'Senhora D' ontem, mas fiquei triste por ele ter meio que escanteado 'Álbum' de seus pensamentos.

Mas existe um ditato milagroso que prega uma excelente estréia para um péssimo ensaio geral. Ditato que contraria todas as leis da lógica e encontra seu fundamento em uma da psicológia - Quando o esnaio geral é uma merda, o ator se conscientiza e dá o dobro na estréia. Talvez seja. Só talvez. Talvez seja uma dessas forças misteriosas do teatro, só talvez.

O que sei é que a apresentação foi mil vezes melhor que o ensaio geral. Em Álbum houve uns tropeções de texto e uns probleminhas de marca, mas no geral a cena foi muito boa. E em Navalha eu me surpreendi em como tudo funcionou e se afinou na cena. Realmente mágico.

Senti muito por não poder ver o trabalho dos outros grupos, coisa que queria muito.

Agora deixo no blog minha proposta - Deveríamos montar uma temporada chama 'pout-porri' com essa esquetes, e passar dois, três meses do segundo semestre apresentando, é uma experiência de palco e temporada importantíssima para todos os alunos da escola SESC; é uma maneira de nos mantermos unidos e nos experimentarmos mais afundo com grupo e é uma forma de termos consciência do contato com o público. Fica a sugestão.

Muita merda.

Memorial

06/07/09 - Sobe o pano para a última aula de Neemias Dinarte Produções. Primeiro enrolamos muito para começar, já que o grupo de realismo/naturalismo e seu reflexos nos dias de hoje terminou o trabalho meia hora depois que a aula começou.

Começamos eu, Felipe e Vila com teatro grego e reflexos na realidade. Foi bem, muito ruim mesmo. Nós fizemos realmente a pesquisa e realmente discutimos, mas não nos organizamos de forma a nos articular para a turma de forma convencinte. No final foi feito nas coxas e foi. Morreu esse boi.

Como disse na aula e deixo registrada aqui a reflexão - Desde a grécia, onde houve a institucionalização do teatro, até os dias de hoje, quase são se tem fontes para a produção do teatro que se não o governo. Ainda hoje, quer fazer uma produção que não cara, qual a solução? Caixa, Petrobrás, Funcultra e por aí vai... Apesar de uma certa autonomia de instituições como a Caixa e a Petrobrás, por exemplo, de uma certa forma elas sempre serão 'estatais'. Enfim, ainda são limitadas as fontes para produção teatral, de uma certa forma, o teatro, ainda hoje, três mil e poucos anos depois ainda é, principalmente em Recife, donde vos falo, 'estatal'.

Depois o pessoal do Renascimento não estava pronto, o do realismo não tinha chegado, foi o pessoal mais maluco 'do experimentalismo à destruição das formas' que veio com a seguinte tese - experimentalismo representa uma atitude artística, e não um movimento propriamente dito. Daí mostraram como os caras que andamos estudando com Andre - Stan, Artaud e Grotowski - foram 'experimentais', so sentido que experimental é quem ao entrar em contato profundo com uma linguagem vigente, proponha mudanças na mesma a fim de procurar novos códigos e significantes desses códigos (abri o dicionário de semiótica hoje).

Enfim, quanto à destruição das formas Biagio buscou um livro chamado "O teatro pós-dramático" onde se elabora que há uma tendência para um teatro que destrói a dramaturgia, que privilegia o acontecimento teatral por si.

Eu tava pensando e cheguei a conclusão que esses exercícios de 'destruição da dramaturgia' ainda são ecos do que Artaud propunha, que Meyerhold propos antes dele, que é uma tendência que vem procurando se afirmar já há um século e pouco e muito importante para o teatro como arte - A referência do teatro no teatro - durante o estudo da história do teatro nós estumamos o teatro com referências na literatura principalmente (literatura dramatúrgica) arquitetura, artes plástica (a tão falada perspectiva, no Renascimento) e assim como todas as artes, o fenômeno cênico é uma composição de outros fenômenos, mas é importante afirmar que a arte plástica para o teatro não é um uso de outra expressão plástica, a arte plástica para teatro é arte plástica para teatro. Fim. Para que no todo da composição a referência do teatro seja o teatro, uma espécia de afirmação do alicerce da arte.

Agora pensar nisso me faz pensar em milhões de outras coisas - Legal a iniciativa, mas o que o público, o pobre coitado do público, tem a ver com isso? E nisso eu tenho minhas reservas com essa história de destruição da dramaturgia. Não digo que é impossível, que é errado, nada disso. Digo o mesmo que disse em sala 'experimentar é pôr linguagens distintas em diálogo, não é dar pinta'.

Depois foi o pessoal do Renascimento. Destaque fulminante para a performance de Noronha como seminarista (?) Engraçado, em controle do público, chic. Uma das coisas mais legais que eles trouxeram como legado do movimento renascentista foi a quebra do vínculo divino, foi trazer o teatro para questões humanas. Bacana.

Por fim o Realismo e no realismo chegamos de novo, mas sem surpresas, nas novelas. Esses meses de aula com Neemias foi uma verdadeira reflexão sobre a teledramaturgia brasileira. Vou pular esse tópico, deixá-lo para outra ocasião, chamarei a crônica de "Teledramaturgia Brasileira".

No fim de tudo houve a entrega dos memoriais, destaque para o desenho de Vila, o vaso de Geraldo, a máscara de Paulinha (linda), a brincadeira 'algumas verdades', de Camilla, que nos fez rir muito. O vídeo de Ju com fotos nossas e embaladas por Osvaldo Montenegro, Xuxa e Toquinho - Detalhe, nas fotos embaladas por Osvaldo, se tem a impressão que estamos mortos (!). Por fim a grande atração da noite foi o vídeo de Mauro, com entrevistas de todos os alunos sobre o professor e as aulas. Hilário.

Fim. Muita merda.

Interface III

02/07/09 - Sobe o pano. Iríamos mostrar para Paulinho tudo que fizemos em relação à nossa interface, isso quer dizer, uma imagem de sete. Mostramos, professor nos ajudou no sentido de nos orientar para não sofrermos demais com os compassos, deixamos uma pessoa para marcá-los e nos dar as deixas enquanto podemos nos mover à vontade. Também trabalhamos e pensamos muito esse movimento com expressão. Dificílimo. O tempo vem correndo, vou começar a cortar tudo que não der certo.

Uma coisa que refleti que é muito interessante é como cada um pode participar do projeto. Na hora de definir e escolher as imagens, eu fiz o serviço praticamente sozinho e fiquei muito decepcionado por não ter sido algo feito por todos. Mas ontem, durante os ensaios, cada um foi dando sua pitada no trabalho, não é que não queriam participar, é a cada um cabe uma maneira própria de se envolver, eu preciso aprender isso.

Os ratos comeram os homens e morreram todos envenenados

01/07/09 - Sobe o pano. Ninguém sabia o que Evânia faria na aula. Agora todos sabem.

Primeiro ela vez alongamento, aquescimento com o pega gato e rato em duplas, o que rendeu muitas risadas e uma queda linda de Juju no chão.

Depois nos divulgou as notas... uiuiui... Bem, a maioria passou, mas quem não passou por nota tem que apresentar um seminário para a semana e quem não passou por falta tem que fazer a análise de dois espetáculos da cidade e trazer e entregar, quem não passou pelos dois faz os dois. Bonitinho, não é.

Num segundo momento lemos outro texto de Brecht, O Mendigo ou o Cão Morto, ou como Evânia batizou a partir de uma frase célebre do texto "os ratos comeram os homens e morreram todos envenenados" legal, não é?

O texto é muito bom, também me pegou, fiquei com vontade de interpretar. Trata de um rei que se depara com um mendingo cego e se depara com a própria cegueira intelectual. Faz você refletir sobre milhões de coisas, sobre o que é mais importante: a vitória de um rei ou o almoço de um faminto?

Nós lemos o texto e depois o matraca fez um ensaio do texto para a gente ver. Muito bacana o trabalho deles, dialogam principalmente, pela leitura que fiz, com a dialética e o teatro pobre. Todos muito gostosos de se ver em cena - Lele, Ju Garrafinha, Viva, Maurício e Catarina. Depois de o assistirmos começamos a conversar sobre o texto. Tivemos vários 'vran' no debate - começamos com a questão da cegueira do mendigo não estar pronta, queríamos saber se era proposta ou não foi feito ainda; não foi feito, mas será, a idéia é que ele seja cego - Depois partimos para a questão do humor no texto, do riso que te puxa metade da boca e te faz pensar "porra, tô rindo disso?" não porque é ruim, mas é porque é trágico, não deveria ser tão engraçado...

O texto tem reflexões muito boas, como a dos ratos, a de Napoleão - que não era um rei, mas um marinheiro de cabeça excepcionalmente grande... Enfim.

Depois eu puxei a discussão para o trabalho de ator. Como o texto é interpretado por vários atores nos mesmos papéis, puxei uma discussão sobre como esse rei seria o mesmo rei nas três personagens, mesmo que em momentos diferentes.

Não é bem uma solução, mas eu senti uma vontade estética de ver algo que relacionasse os reis. É claro que é o mesmo rei, mas são personagens diferentes do mesmo rei. Enfim, uma confusão. Claro, eles só tiveram dois ensaios, por isso que não houve a afinação da personagem do rei, com o tempo isso virá com naturalidade. Chatice minha mesmo.

Navalha na carne

30/06/09 - Último dia do mês, sobe o pano. Último dia de ensaio antes do ensaio geral próxima terça. Dia de Navalha na Carne, de Plínio Marcos, comigo, Mauro e Thaysa.

Mauro foi ótimo, pegando a responsabilidade que foi de Felipe e assumindo, no início teve um medo de me esbofetear mas depois pegou no tranco, tenho as aftas para provar.

André se apropriou das cenas fragmentadas para propor um ritual de jogo, como se houvessem interrupções e a cena fosse sendo arbitrada e substituída entre os jogadores. Ficou interessante. Talvez seja um distanciamento. Talvez...

Muito trabalho no quesito de intenção para mim, Thaysa e Mauro que, assim como foi comigo, Ju e Biaggio, ficamos indo e voltando no texto para acertar as marcas e dar o sangue da cor que a personagem necessita.

André mudou as marcações no sentido de tirar as sugestões poéticas que nós imprimimos no exprimento com teatro pobre, como o espelho ser o rosto da platéia, a cama que existe simplesmente de uma mudança de plano do ator e a navalha materializada na mão de Thaysa. Usaremos figurinos de verdade, navalha de verdade, espelho de verdade, o ritual ficou todo na troca; que também dialoga com o sistema coringa de Boal e enfim, alguém também deve ter feito isso antes, porque alguém sempre fez antes.

Thaysa saiu muito mal, se sentindo um lixo. Foi muito engraçado porque Ju também se saiu assim do ensaio de Álbum de Família, abaixo meus pensamentos sobre isso.

Primeiro, se estão pedindo de você, é porque você está dando, quando não pedirem, aí sim se preocupe, segundo, é preciso um acabamento, por isso se pede, por isso se cobra; ninguém é ruim ou bom, existe apenas a sua doação, e sua capacidade de fazer o que pedem.

Exemplo, um diretor vê um ator dar um texto e diz "sublinhe as palavras, como se a pessoa para quem você fala não estivesse te entendendo, faça com escarnio"; um mau ator vai fazer um pouco disse e manter boa parte do que fazia, um bom ator vai abandonar o que fazia e fazer o que pediram. É muito difícil se desligar de nosso vícios e aceitar a insegurança da doação.

Leitura circular

29/06/09 - Sobe o pano para falarmos do moderno ou pós-moderno. Ninguém sabe ao certo e no final, talvez tanto faça.

Nessa história do combate do tradicional com o destrutivo, a vanguarda. Neemias nos falou sobre os musicais da Broadway, os circuitos adjuntos, como o off-Broadway é chamado. E como lá esses dois movimentos são bem definidos. No Brasil ambos os circuitos também são definidos, entretanto representados por o 'Global' e o marginalizado. Assim como em São Paulo e no Rio também existem movimentos de teatro mais comerciais ou puristas. Aqui no estado é menos mas também há.

Outra coisa interessante foi o que o professor comentou sobre os atentados de onze de setembro. Quando a moral estava baixa e estabelecimentos fechavam, nova yorkinos se mudavam de cidade os artistas da Broadway saíram as ruas pedindo para o povo ficar, pedindo fé. Muito bonito.

Outra coisa são esses espetáculos que duram para sempre, os grandes musicais, 'cats', 'oklahoma', 'les miserables' duram para sempre. Isso me faz pensar no teatro brasileiro, que vive jogando suas coisas fora por uma questão histórica de baixo auto-estima e, também, muito público ainda por ser formado. Seria bom pensar num certo purismo no nosso teatro, que quando quer, não faz feio a nenhum outro. Há iniciativas nesse sentido, como o Angu, com a temporada de repertório que fizeram no começo do ano, Zé Celso, com as comemorações dos 50 anos do Oficina, Antunes, com o prêt-à-porter. Mas pode haver mais, bem mais...

Depois ouvimos uma das clássicas de professor Neemias - A relação entre teatro experimental x teatro inexperiente ou mesmo ruim. A frase é mais ou menos assim, acredito que ela valha a transcrição "Minha gente, tem menino aí que faz um curso de iniciação e já quer ser diretor, aí diz que é diretor de teatro 'experimental', pois eu digo o que é esse teatro experimental, o menino não sabe dirigir, mas tá 'experimentando', os atores não sabem atuar, mas estão 'experimentando', os técnicos não sabem fazer o serviço deles mas estão 'experimentando'; resultado: uma merda. Esse teatro experimental não minha gente, por favor, sejam humildes" Palavras de sabedoria. O pós moderno (?) tem disso mesmo. Uma coisa é dominar (dominar, dominar não é fácil nem é feito do dia para a noite) linguagens diferentes e propor o diálogo entre elas; outra coisa é 'experimentar'. Enfim.

Daí fomos para o trabalho sofrido dos atores aqui na cidade. É difícil viver de teatro, e no fim aparecem as mais diversas, e às vezes até degradantes tarefas para os atores. Estavamos falando do 'happening' palavra americana para performance, para francesa para improvisação, para portuguesa para faz na hora, termo nacional.

Enfim daí lembramos o Fon-fon, onde os atores passam 6h por dia no Sol sofrendo com CO² e motorista e transeuntes nem sempre educados; A noite do terror, onde os atores ficam correndo e gritando atrás de pessoas que raramente os desejam; os homem estátua das lojas; promoters de super mercado e todas essas tarefas pouco artisticas para nós. É dura essa vida. Todo esse sofrimento para comer; porque não dá para subir num palco, e mostrar arte de verdade para as pessoas passando fome.

Depois fomos ler "aquele que diz sim e aquele que diz não", lemos bem direitinho, num plano de leitura chamado "leitura circular" porque é feita num círculo e cada um lê uma fala, independente das personagens. Brincamos bastante de coro e foi legal para ver como o distanciamento pode ser uma coisa besta, como repetir o texto mudando uma coisa pequena, para fazer pensar.

Depois fomos ler "A lição" de Eugene Ionesco e foi muito, muito divertido. Fiquei com vontade de encenar, não vou nem comentar, porque ainda estou com o texto cá aqui, martelando para eu pensar nele.

Interface II

25/06/09 - Primeiro dia das consultorias com Paulinho para o trabalho da interface corpo-poesia.

Durante a semana houve um encontro entre eu, Dolores e Felipe, nesse encontro suscitamos algumas imagens possíveis e as passei ao resto do grupo por e-mail. Quando nos encontramos com o professor, primeiro buscamos acertar e definir com clareza nosso tema, nossas idéias e principalmente o que faríamos. Conforme a conversa avançou fomos chegando a primeira proposta de imagens, saímos de lá nesse pique, defini uma primeira configuração e fomos para casa. Fim.

Por que não estou falando muito? Porque essas coisas estão todas em fase de feitura, será melhor falar quando sua cara final aparecer.

Saint Joan

23 e 24 - São João.

Perdendo a cabeça

22/06/09 - Sobe o pano. Primeiro de tudo faltam essa mais duas aulas para acabar, aleluia! Foi justamente isso que nos lembrou Neemias, lembrando junto que nós estamos umas quatro aulas atrasados do programa, professor disse não saber como, mas entre a peça que iríamos assistir e não fomos, as dificuldades para ler os textos e os feriados acredito qeu fica fácil saber onde essas quatro aulas foram parar.

Junto às aulas atrasadas fomos lembrados da apresentação do última trabalho da disciplina, falta no meu caso fazer a ficha resumo e organizar o trabalho escrito, quanto a pesquisa e a abordagem dos assuntos sofremos, mas fizemos eu, Felipe e Vila semanas passadas.

Neemias também lamentou não termos a aula extra que ele tanto quis nos dar. E já que ele me deu esse relatório para fazer irei usá-lo como apelo aos alunos - Vamos, por favor, ter essa aula. Não apenas porque o professor quer dar, e isso já é muito, não são todos que teriam essa disposição, mas além, nós precisamos, poderemos fazer bom uso do que ele nos puder passar sobre como ler e abordar um texto.

Enfim começamos a falar do teatro moderno, um dos ponto importantes demonstrados pel oprofessor como tendência do tearo contemporâneo foi o deslocamento do eixo da criação - individual para coletiva - O living Theatre e o grupor Galpão foram usados como exemplos.

Tivemos uma pausa e decidimos deixar a leitura de "Aquele que diz sim e aquele que diz não" para a semana, em compensação tivemos uma gaiola muito especial com Guil, Paula e Ju fazendo com formas animadas uma crítica muito séria. Num primeiro momento uma apresentadora, sei lá, falava sobre valores, ética, moral, essas coisas; num segundo Amy Whinehouse aparecia tão tresloucada quanto é na vida real. Mais simbólico ainda, no final da apresentação, ela "perdia a cabeça" (literalmente) na frente do público. E foi só isso, pronto acabou.

Interface I

18/06/09 - Sobe o pano. Hoje fomos fazer um bate papo coletivo sobre a interface. Foi quente, muito quentinho mesmo.

Eu não estava muito disposto energéticamente por uma série de negligências:

- Foram distribuídos alguns textos para serem lidos pelo grupo, que não foram.

- Não houve uma vontade de participação na concepção.

Aí chegamos na aula, e tínhamos que falar sobre nossas idéias, mas não as tínhamos discutido ainda e nem. Aí fomos discutir, bater idéias, bater boca, blábláblá, tititi. Chegamos num consenso que não é muito consensual, mas foi.

Caminho como metáfora da vida - Agir por não agir. Abstração da força motora. A sustentação dos pólos. Todas essas e outras viagens dentro de imagens conectadas com o corpo.

Prometemos estudar e fazer força para nos encontrar. Veremos.

Os outros grupos farão interface corpo - música (música de liberdade/protesto) e interface corpo - Imagem (cor). Sei lá o que vai sair daí.

Nesse final de curso ando refletindo bem menos, também me interessando menos pelo trabalho alheio, cada vez me foco mais nas coisas que preciso fazer, nas responsabilidades a cumprir. Aff.

Arena Uzona Oprimida

17/06/09 - Sobe o pano lá pras quatro da tarde. Eu, Beto, Thaty, Villa e Mauro tínhamos que preparar a cena para o Teatro de Arena, nosso assunto no seminário de Evânia para a noite.

O teatro de Arena foi um grupo de teatro profissional que foi na contramão de grupos profissionais que escanteavam um pouco o trabalho dos dramaturgos nacionais, além disso era um grupo de forte tendência comunista e de lá surgiram grandes nomes como o Oduvaldo Vianna Filho, Gianfrancesco Guarnieri, José Renato, Flávio Migliaccio e principalmente foi o laboratório onde Boal começou as experimentações que culminariam no teatro do Oprimido.

Nós ensaiamos uma ceninha em cima de um poema de João Apolinário, chamado "é preciso avisar" e pontuamos bem direitinho como cada um ia abordar o tema.

Curiosidade é que Beto e Mauro não conheciam a música "para não dizer que não falei das flores" de Geraldo Vandré; música que usamos e eles tiveram que aprender (pelo menos o refrão) na tora.

Quanto às apresentações, primeiro fomos nós mesmos, fizemos a cena em cima do poema e falamos sobre o teatro de Arena. Legal como algumas pessoas participaram do debate, discutindo coisas como o alcance político de teatro e os limites entre ambos.

Inclusive conto um caso de boal. Eles foram apresentar uma peça para o MST e na peça eles usavam fuzis de mentira. Então o lider do grupo, depois de assistir convidou os atores todos para fazer uma invasão, Boal disse que não, que os rifles eram de mentira e o líder disse que arranjaria rilfes de verdade para eles. Daí em diante Boal começou a rever o que era teatro político...

Depois de nós foi justamenteo o grupo que falou de Boal, eles focaram no teatro do oprimido e fizeram uma apresentação com o texto sendo enrolado em Marquinhos, muito bacana.

Quanto as conversas de Boal, o teatro invisível foi o que mais chamou a atenção de todos. Porque num primeiro momento Thaysa sugeriu que depois os atores revelariam que na verdade foi tudo uma encenação. Depois Evânia desmentiu, dizendo que na proposta de Boal, a coisa seria toda feita na surdina, sendo que o público jamais saberia que foi ator de uma provocação teatral. Começamos a discutir muito sobre isso. Biaggio levantou algo muito interessante - Que Boal fazia teatro pelos outros mesmo, nunca para si. Pois numa proposta como a do teatro invisível, o ator não tem glória, não tem registro, não tem nada para ele, só a provocação que ele faz no outro. Boal é realmente muito mais sociólogo que diretor. Não porque ele não era diretor, porque ele era, e ao que tudo indica, muito bom. Mas o foco de seu trabalho é muito mais pela arte como instrumento social que pela arte como arte.

O que fiquei pensando foi na teoria de Thaysa - As pessoa tendem a se desvincular emocionalmente do que lhes desagrada. Um teatro invisível que depois mostre para o público, aquele que se desvinculou, que aquilo era teatro, que aquilo do qual ele não quis participar era uma provocação. Uma outra forma de sacudir, de quebrar os preconceitos.

Não tivemos Brecht sei lá por que, no fim tivemos o 'oficina uzinauzona', a maluquice de Zé Celso, também muito importante no teatro nacional pela luta de identidade, liberação face à opressão e, tchan, tchan, tcha, tchan, as dionisíacas. Guil, uma das pessoas do grupo, é fã assumida de Zé Celso. É muito interessante colocá-los ao lado do Arena para ver como a questão política não tem nada a ver com a partidária. A questão partidária, muitas vezes, cega a política.

Li isso numa critica sobre Tchekov, que foi criticado na Russia por não ser comunista militante. A critica alertava que quando se vê as massas por ideologias e se esquece das individualidades que a compõe tem apenas ufonismos e demagogia. E o teatro de Arena tem um pouco disso. Desse cegueira ideológica; apesar que se for para apresentar aspectos duvidosos, o Oficina tem em demasia liberalismo e um certo panfletarismo. Mas não sei... acho a busca deles por expressão própria mais legítima que a do Arena, não sei...

Pra valer

16/06/09 - Sobe o pano. Ontem foi para valer, todos sem saber direito que seria o primeiro dia de trabalho para a apresentação final, mas todos já sabendo. Nossa apresentação, inclusive, será dia 07 julho, às 18:30, na sala mesmo.

Primeiro de tudo discutimos o repertório da apresentação, que será:

1 - Prostituta respeitosa - Sartre - Paula, Beto, Villa, Bianca, Noronha.

2 - Dois Perdidos numa Noite Suja - Plínio Marcos - Felipe e Marquinhos

3 - A Obscena Senhora D. - Hilda Hilst - Biaggio e Camilla

4 - Álbum de Família - Nelson Rodrigues -Guil, Thaty e Ju

5 - As Bruxas de Salém - Arthur Miller - Paula e Tiago

6 - Navalha na Carna - Plínio Marcos - Diogo, Mauro e Thaysa

7 - 20 - Placebo - Guil e Thaty

8 - Roberto Zucco - Bernard-Marie Koltès - Geraldo e Dolores

9 - Marat Sade - Peter Weiss - João e André

10 - Álbum de Família - Diogo, Ju e Biaggio

Depois definimos contra-regras para que todos se ajudem, apesar que sei lá como vai ser isso no dia. André às vezes é muito desorganizado, vai na fé que tudo vai dar certo, não se programa direito e quando vê a coisa está saido fora de controle. Vai dar tudo certo no final, porque está sendo feito com muito amor, mas não sei não...

Falando nisso tentamos, na sala, organizar o horário de trabalho de cada grupo com André, um completo desastre, na minha opnião, mas tentamos e meio que conseguimos.

Depois disso fiquei eu, Ju e Biaggio para ensaiar Álbum de Família, assim, na porrada mesmo.

Bem, nem tanto na porrada, ontem de manhã, imaginando que seríamos os primeiros a sofrer, porque geralmente eu sou, ensaiamos. Foi muito bacana nosso ensaio de ontem. Primeiro fizemos uma leitura para tirar a preguiça. Mesmo lá para as dez horas, ainda bocejamos muito... Depois fomos pegando novamente o ritmo de nossa cena, trabalhamos e melhoramos algumas marcas fazíamos e depois passamos umas três vezes trabalhando o todo, mas focando na intenção.

Muito legal pegar uma cena e refazê-la uns meses depois da primeira vez que a fez para um público porque você redescobre o texto, traz novas intenção, lapida antigas, troca, a coisa é toda muito viva, quando você está no jogo, cada cena é diferente, você dará coisas para a continuidade da personagem e da história, mas nunca será a mesma coisa, e isso é muito lindo.

Então à noite, com André, sofremos muito. Juju estava muito nervosa, começou sem ritmo e travando um pouco o texto, para nos ajudar André nos botou para correr e dar o texto, para nos mostrar a energia da pressa, do desespero, do clímax dessa cena e dessas personagens, nos deu uma marcação mais elaborada para a cena e foi só isso. Mas só isso foi feito com tanto esmero que passamos duas horas e meia no "só nisso" Agora é esperar o resultado final.

O malandro/3 vinténs

15/06/09 - Sobe o pano. Fomos assistir à Ópera dos 3 vinténs, de Brecht. Muito, muito legal o filme. Conta a história de Mac the Knife, o grande malandro do Soho londrino e como ele balança entre as esposas, os cabarés, os policias, os políticos e os bandidos do bairro mais sórdido de Londres.

Não surpreende nada que Chico Buarque tenha visto a ligação entre a história e a realidade do morro e do malandro, personagem pitoresca, que existe no inconsciente coletivo e aqui no brasil veste branco, samba e (também) usa uma navalha.

Falando nisso, vou transcrever aqui a letra de "A volta do malandro" música da peça de Chico, que traduz bem a questão e eu adoro.



"Eis, o malandro na praça outra vez
Caminhando na ponta dos pés
Como quem pisa nos corações
Que rolaram dos cabarés
Entre deusas e bofetões
Entre dados e coronéis
Entre parangolés e patrões
O malandro olha assim dei viés
Deixa atravessar a maré
E a poeira sentar no chão
Deixa a praça virar um salão
Que o malandro é o barão da ralé"

Aí o professor destacou a simplicidade do recurso do distanciamento, entretanto como ele não pode ser graça, como às vezes acontece, como ele deve ser pensado, simples justamente para não atrapalhar a peça, para não chamar a atenção demais. A natureza da quebra também deve ser pensada, para dar a sugestão desejada ao público.

O recurso ficou muito forte em mim ao assistir ao filme porque quando ele ia morrer eu estava forte junto com Mac sofrendo por ele morrer, eu gostava tanto dele. E quando ele caí da forca e volta minha vontade foi gritar "Não, agora você morre, eu não sofri tanto pra você viver e brincar de teatro, agora morre! Morre!" Mas ele não morreu, e eu ainda estou com isso me cutucando.

About: Blank

11/06/09 - Sei lá o que teve. Não anotei nada e nem lembro mais.

Distanciamento

10/06/09 - Sobe o pano. Deveríamos ter a apresentação dos seminários de Brecht e Boal hoje, mas devido ao tempo excessivamente curto e os outros compromissos de todo mundo, adiamos todos os seminários para semana que vem.

Hoje fizemos um exercício em cima da função do distanciamento. A turma foi dividida em quatro duplas - Vila e Bianca, Ju e Tiago, Paula e Garrel, Dolores e Mauro e Thaysa e Noronha, eu fiquei de Narrador e a história se chamou "para todo o sempre". A primeira dupla casava na maior felicidade, a segunda representava o casal, um ano depois, distantes, indiferentes; a terceira representava o casal dois anos depois, brigando, culminando com violência física; o terceiro era um 'à parte' onde cada ator falava o que pensava do outro antes do casamento; e a última dupla mostrava a mecanização da desgraça desse casal. Entre cada dupla eu fazia uns comentários débeis que não tinham nada a ver com a verdade, no melhor estilo do speaker, de 'Álbum de Família'.

Infelizmente não tivemos público, fizemos para Evânia e Guil. Através do exercício Evânia buscou nos mostrar que o distanciamento não é uma coisa estranha, mas um recurso estético que busca quebrar o involvimento do público com a cena nos momentos de clímax para que ele pense, para que ele reflita. Tão simples e tão complicado, não é?

Muito interessante o recurso usado por Thaysa e Noronha para mostrar a mecanização, rodando em volta de si mesmos e repetindo os mesmos tristes périplos. Lembrei do teatro pobre ao ver aquilo, como um ator sozinho, com coisas simplíssimas, faz o tempo avançar e retrosceder diante de nossos olhos.

Ficou curtinho essa, mas vai assim mesmo.

Vestido

09/06/09 - Sobe o pano para a leitura de Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues. Houve uma cópia para todos, André tirou as cópias do bolso e depois o pagamos (acho que todos o pagamos, nem sei). Enfim, primeiro conversamos um pouco sobre a importância do texto; a questão da inauguração do modernismo, o texto alinear, psicológico. André comentou sobre as diversas montagens desse texto. Falou um pouco sobre o teatro mítico de Nelson, que não tem nada a ver com Vestido, mas com a montagem de "Senhora dos Afogados", essa sim peça mítica; que foi encenada em 1993 pela extinta (creio?) CTS - Companhia de Teatro Seraphim, onde André atuou e foi dirigida por Antônio Cadengue, nascido em Lajedo, janeiro de 54 que será nosso professor no terceiro período, há uma biografia muito interessante dele, para encher nossos olhos de vontade de conhecê-lo no Itaú cultural, segue o link -

http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_teatro/index.cfm?fuseaction=personalidades_biografia&cd_verbete=8986

- Coisa interessante que André contou sobre a montagem foi em relação aos figurinos, que lembram as roupas do siglo d'oro español. Essa concepção se deu durante a captação de recursos da peça, onde Cadengue foi pedir patrocínio para Geralda Farias, PFL, socialite riquíssima e dita interessada em movimentos culturais. Quando Cadengue a apresentou o projeto ela disse "A elite não quer Nelson Rodrigues" Ele botou um ovo e fez os figurinos Elizabetanos como reação à idéia que Nelson não fale às elites, sugerindo que a família Drummond venha justamente da elite.

Fazer o quê Antônio? As pessoas, ainda hoje, tem medo do espelho...

Quanto a leitura foi, foi menos enfadonha, mas ainda assim a achei tacanha, eu já conhecia o texto e queria ter ouvido na leitura o gosto daquele texto. Egoísmo meu, para muitas pessoas, era o primeiro contato, não dava para querer um espetáculo na primeira leitura, fazer o quê?

Depois do texto fomos discutir o que apresentar na conclusão. Aí tivemos umas pequenas discussões porque parte do grupo queria uma peça nova, outra parte queria trabalhar nas cenas que foram desenvolvidas durante os exeperimentos em cima das idéias de Stan, Artaud e Grotowski. Bem, eu fui assumidamente a favor das cenas. Por que? Questão de tempo, temos menos de um mês para montar algo novo, do nada? Não é impossível, mas me preocupo com a qualidade.

Nisso me vem uma reflexão que tenho feito bastante, é mais ou menos assim: O ator deve amar desafios, tá bom. Mas ser bom não é pegar o desafio maior que a perna, ser bom é saber vencer o desafio de cada degrau de cada vez. E uma montagem feita em 20 dias é desafio de muitos degraus. Podemos nos focar no acabamento das cenas, que é o desafio de um degrau só. Mas não deixa de ser um desafio, como todos descobriremos daqui para frente. Uma das inteligências do ator é saber até onde vai. E explorando esse limite, não o forçando, encontrar a riqueza inesgotável de seu ser.

Aí discutimos, discutimos e optamos pelo mais simples, que poderemos fazer com mais amor justamente por ser mais simples: trabalhar em nossas cenas. Sem falar na questão do tempo.

O Nada.

08/06/09 - Sobe o pano. Dia de assitir o vídeo "Artaud" filmagem de uma peça, elenco Rubens Correia e Ivan Albuquerque. Neemias disse que Rubens passou boa parte de vida artística estudando o trabalho de Artaud, que já conheciamos algo dos exercícios com André. Porém o vídeo me abriu de forma única.

Não posso falar muito da película, pois realmente é difícil explicar, é uma coisa, é fragmentado, de uma lógica caótica, tem muito poder nas mãos, em pequenos gestos que se ampliam, tem a dimensão do sonho, realmente. E também dialóga com Grotowski, é um teatro pobre, não tem pretensão nos seus efeitos, é um ator e o público, só isso. E tudo isso. Ele não urra, não dá chilique, mas se tem a impressão de assistir à um sonho. Muito bom.

Ele fala dos girassóis de Van Gogh no texto. O que sei (posso estar errado) sobre os girassóis é que são quadros que ele pintou para outros artistas que ele havia convidado para um retiro de intensa produção. Colocou cada quadro no quarto que ele havia preparado.

Infelizmente, Van Gogh sempre foi tido por louco, além dos problemas com alcolismo. Nenhum dos convidados apareceu, isso foi pouco antes dele se matar. Ninguém entendia a beleza do movimento pintado, uma pena. E Neemias lançou a pergunta "por que ele pintou o girassou, o girassol é uma flor feia"; mas é a flor que se volta para sol, vale pensar nisso...

Vendo o vídeo também fiquei pensando sobre a relação "levo minhas coisas para o palco" x "não levo nada para o palco" e o que é, realmente, esse nada?

Massagens

04/06/09 - Sobe o pano. Primeiramente fomos discutir os espetáculos vistos anteriormente - "Imagens não explodidas" e "por um fio em lã".

Discutimos sobre a abstração e o aristotélico na construção do espetáculo, sobre o espetáculo que se encerra em si e o espetáculo que o espectador leva para casa.

Eu fiquei viajando na seguinte reflexão, que vou passar adiante - Será que um espetáculo concebido de forma aristotélica mas construido através da abstração não poderia também se tornar um espetáculo que se leva para casa?

Depois fomos fazer alguns dos exercícios mais gostosos que já fiz na escola Sesc. Primeiro fomos brincar de pesado, criando um gestual que explorasse essa qualidade. Fizemos em duplas, fiz com Bianca e acabamos em algumas das posições mais engraçadas de toda a minha vida.

Foi interessante para mim, como ator, saber que posso, quando quiser, pensar em qualidades para minhas personagens e fazer pequenos laboratórios como esse, começar não com o gesto definido, mas com a busca da qualidade desejada no gesto, seja ele o que for. E dessa busca encontrar o gesto que melhor traduza a qualidade adaptada ao contexto, assim as possibilidades aumentam e se tem outra ferramenta para evitar cair nos clichês.

Depois fomos buscar o leve, primeiro sozinhos e depois todos juntos, foi uma viagem muito agradável.

Por fim o melhor. O professor nos dividiu em dois grupos e pediu que uma pessoa de cada grupo deitasse e fechasse os olhos. Eu como mais amostrado fui o primeiro do meu grupo, que era composto por: Eu, Thaysa, Paula, Bianca, Guil e Marquinhos.

O exercício era nada mais, nada menos, que uma massagem de todos na pessoa deitada. Depois a pessoa era içada e ia dar uma passeio de olhos fechados carregada pelas pessoas do grupo. Como fui primeiro tive mais tempo e muito, muito gostoso.

Depois ajudei a massagear todo mundo, uma coisa importante dessa massagem é que conforme você vai se habituado, você busca novas formas de massagear, assim deve ser com a personagem, se ela tem uma tarefa, é importante que o ator descubra mil formas de realizar essa tarefa, para escolher dentre as mil a que melhor serve à personagem. E a única forma de encontrar essas mil formas é fazer da forma que se sabe e depois ir procurando pequenas alterações, ou bruscas, dependendo das circunstâncias, e vendo quais dessas alterações desfiguram a tarefa e quais propõe uma outra forma de fazê-la, criando assim um repertório para a escolha de cada patitura.

Finda as massagens, nos dividimos em grupos para comerçarmos a pensar nas interfaces, trabalho final do lab. de corpo. Meu grupo ficou - Eu, Paula, Thaty, Garrel, Dolores, Felipe e Mauro e nossa interface é com a poesia. Fizemos um exercício de abstração de ideias proposto pelo professor e chegamos às poesias que falam do caminho como metáfora da vida.

Fim. Tchau.

Claro!

03/06/09 - Sobe o pano. Dia da última etapa do trabalho dos diretores, o texto foi "Claro" de David Ives. Mas antes dele ouvimos músicas de Chico Buarque e lemos poemas sobre a época da ditadura e os movimentos artísticos contra a censura. Temas de nossos próximos trabalhos.

Não pudemos muito assistir uns aos dos outros, porque fizemos tudo de uma só vez, entretanto posso falar um pouco sobre o que percebi enquanto atuava (sim, enquanto atuava fiquei olhando para ver o trabalho dos outros, não tenho ética nenhuma) e sobre as discussões depois da cena.

O texto, a título de introdução, narra a história de um casal que vai errando e voltando no texto até conseguirem um final feliz.

Começaremos por Ju, que dirigiu Tathy e Jailton. Noronha como sempre muito bom, com um tempo excelente de comédia, fez um namorado machão. Na discussão se valou que às vezes a relação tempo x qualidade não é diretamente proporcional, outros fatores podem ser levados em conta, ainda que quanto mais tempo maior a qualidade, muito tempo não significa necessariamente qualidade. No caso de Ju, mesmo com poucos ensaios a cena ficou boa. Isso porque a diretora não foi pretensiosa e ao assumir todos os encalques do processo, ganhou sustentabilidade na cena.

Depois Paula, que dirigiu Thaysa e Mauro. A grande pergunta de Evânia era se Paula teria o pulso para dirigir amigos, mas Thaysa e Mauro são tão generosos que mantiveram o respeito durante todo o processo. É muito interessante você calçar os seus sapatos e se entender quando ator, como ator, obediente, ainda que criativo; e quando diretor, diretor, detentor da palavra final, responsável (mais que o ator, não quero dizer que o ator não precise ser responsável) seguro.

Coisa interessante foi o momento de Paula dar a nota, ela quis se comparar com Peter Brook para decidir que número se dar. E a gente dizia "não sofra, minha filha" e ela "mas eu não tenho tanta certeza se está bom" enfim a nota que ela se deu foi baixa mas acho que Evânia vai relevar.

Biaggio me dirigiu com Bianca. Primeiro vou falar de Bianca, menina super generosa, adorei contracenar com ela. Quanto ao trabalho de Biaggio, foi o único que tentou desconstruir um pouco a cena, com umas 'esquisitices' (não são esquisitices de verdade, são proposta, ahauhauahuah). Mas no resto ele foi um ótimo diretor, nos orientado durante o caminho.

Ingrid dirigiu Doloros e Tiago, mas Tiago não pode ir à aula, e Guil, num ato de extrema coragem nos moldes de 'o show tem que continuar' assumiu o lugar de tiago com bigodes e trejeitos de homem para fazer par à Dolores. Outra coisa foi marca ousada de pegar nos seios de Dolores, que constrangiu muito Tiago durante os ensaios, o que mostra a necessidade de confiança entre as partes envolvidas no fazer teatral.

Camilla dirigiu Beto e Marcos que fizeram um par gay muito lindo. Roberto como sempre impressiona pela feminilidade bonita que ele sabe fazer, Marquinhos é mais atirado, azar. Uma coisa interessante foi Beto achar que Camilla talvez tivesse dificuldades em dirigir a cena por não identificar nele muito o tempo do humor. Quebrou a cara, Camilla fechou.

Findo o debate sobre a cenas Evânia nos avisou da última etapa de nosso curso - seminários sobre Brecht, Boal, Teatro de Arena e Oficina para as próximas semanas. Vamos ver no que vai dar.

Pobre ou quase II

03/06/09 - Sobe o pano. Hoje sim foi o dia do teatro pobre. Ou quase.

Conversamos um pouquinho e fomos para a pergunta fatal: Quem começa. Eu, Felipe e Thaysa começamos, eu não sei muito sobre o trabalho dos outros grupos, então vou me deter um pouquinho no da gente.

Nossa primeira idéia foi mecher na cena de Édipo Rei, corrigindo o que não deu certo e limpando-a, mas Felipe trouxe o texto "Navalha na Carne" de Plínio Marcos, e acabamos ficando com ele.

Li o texto enquanto lia o livro de Grotowski a procura ferrenha da minha verdade na história daqueles três personagens - um cafetão, um viado e uma prostituta numa pensão sórdida. Todas conectadas por relações de interesse, sadismo e decadência.

Propus ao grupo ligar essas relações aos conceitos de ator santo x cortesão de Grotowski, o grupo aceitou e fizemos três improvisações em cima do texto em que o cafetão, o viado e a prostituta, ao chegarem no clímax, trocam suas inquietações por inquietações ligadas ao trabalho do ator, sugerindo a platéia a relação entre a pessoa que se prostitui e o artista que se prostitui.

A cena foi construída numa estética 'pobre', ou seja, os atores, sem auxílio nenhum, foram responsáveis por criar as personagens e seu ambiente.

Os frutos desse laboratório foram muito mais saboroso que o de Artaud, ainda que ambos, para mim, tenham tido a mesma importância.

Depois Beto, Vila e Paula fazendo uma experiência em cima de "entre quatro paredes" de Jean Paul Sartre. Muito bacana a maneira como eles criaram esse ambiente do inferno e a tensão que une a aprisiona as personagens.

Vou fugir da ordem, pois não a tenho mais em mente. Dolores e Geraldo apresentaram de novo "Roberto Zuco" de Bernard-Marie Koltès (descobri o autor, lálálálá), mas com algumas diferenças, de novo destaque para dolores, muito ritualística oferecendo o corpo do filho como hóstia à plateia.

Biaggio e Camilla continuaram com "A obscena Senhora D" de Hilda Hilst, mas mudaram os excertos. Foi interessante como desconstrução do corpo imediato, que deu lugar à escadas, alavancas, relações de duplicidade e outros afins da viagem de cada um.

Tiago e Mauro fizeram um criação coletiva chamada "Dia grilado". Muitíssimo engraçado, ainda que a dramaturgia tenha sido ferrenhamente criticada por André "era melhor terem escolhido um texto" disse. Mas eu achei que eles encontraram, dentro da mímica e de seu contexto, muita verdade.

Noronha, Garrel, Marquinos e Bianca fizeram um pedaço de "O beijo da mulher aranha" tema trazido pelo professor para um exercício que fiz com Marquinhos nas primeiras aulas. Bacana como eles criaram duas "consciências" das personagens, interpretadas por Garrel e Bianca, e como eles fizeram o beijo passar do plano material para o etéreo. André criticou a dramaturgia, blábláblá.

Por último, mas não menos importante, Guil e Thaty se inspiraram numa música de Placebo chamada "20" para fazer uma cena muito fofa, que também tem um trabalho interessante de desconstruição de corpo e voz. Precisa dizer que André criticou a dramaturgia?

A gaivota

01/06/09 - Novo e último mês da desse período, que como temos sofrido para dar conta de tudo, mas tenho a impressão que o pior ainda está por vir. Enfim hoje fomos ler "A gaivota" de Anton Tchekov, texto pontual do Realismo.

O texto é particularmente importante para a turma pois foi com ele que fizemos o teste para entrar na escola Sesc. Entretanto a leitura foi enfadonha do mesmo jeito. Não li nenhuma personagem e não consegui prestar muita atenção, admito. Entretanto quando prestava atenção ia buscando aquilo de que falei no última crônica: o humor, a ridicularização, os traços caricatos das personagens, tudo que fez Tchekov dizer "escrevi Voudevilles e Stanislavski fez dramas psicológicos" e encontrei muito humor, encontrei traços caricatos nas personagens e consegui visualizar um encenação pastelão da Gaivota muitíssimo leve, dignissímo do maior dramalhão mexicano.

Daí volto à importância do papel do encenador e à reflexão acerca dos clichês que criamos do passado: Artaud era visceral, Brecht político, Stan profundo (que é profundo?) blá blá blá. E entender que esse legados, assim como as personagens, são empobrecidos (no sentido depreciativo) se vistos de uma perspectiva unilateral ou monocromática.

E mais, por que, nos dramas psicológicos de Stan, ele não poderia inserir doses generosas de humor, como Brech inseria de ironia em seus textos? No livro "a criação de um papel" dois dos papéis escolhidos por Stan para demonstrar suas preparação são comédias!

Claro, isso me leva a outra reflexão - Rindo comigo ou de mim? Isso cabe a cada um decidir.

Também foi feita uma comparação, por um santo/pecador da turma, quanto à personagem da gaivota, aquela atriz narcisista cujo nome me escapa, e Augusta Ferraz, interessante...

É interessante também destacar as 'etnias' da sala pela ótica da leitura. Pela maneira como cada um lê é possível deduzir vários traços acerca da pessoa, como formação, hábitos, etc...

Nos foi sugerido assistir ao filme "O baile" de Ettore Scola, o mesmo diretor do capitão tornado. Que ainda não assisti, mas talvez assista em breve.

Semana que vem teremos um vídeo de Rubem Correia interpretando num espetáculo chamado "Artaud". Até lá.

Improvisação.

28/05/09 - Sobe o pano. Bianca, Marquinhos, e mais alguém que já não lembro foram fazer o comentário e exercício sobre o exercício de postura proposto por tio Stan. Já Geraldo e Dolores foram falar de improvisação.

Quanto ao primeiro, vimos como a postura é o início de qualquer partitura, e como deve manter nosso equilíbrio e energias prontos para o movimento que ela prepara, fizemos brincadeiras com cegueira e cabos de vassoura, a título de experimentação.

Na segunda Geraldo falou muito sobre a improvisação que fornece informações ao ator, e a livre. Quanto a isso lembro do que M. Chekov fala sobre improvisação - É necessário algo definido, um começo e um fim, para que o ator se sinta realmente livre para improvisar - penso o seguinte, mesmo que quem coordena o exercício ou o diretor não tenham dado orientação, o ator vai precisar escolher algo, de seu passado/presente/futuro/imaginação/sonhos/o raio que o parta para começar; a única coisa que se improvisa do nada é o nada.

Nisso Chekov apresenta um programa bem legal para exercitar improvisações. Vou falar um pouquinho dos exercícios propostos.

1 - Escolha um começo e um fim, se possível aleatórios ou contrastantes, depois defina um tempo e comece.

2 - Quando se sentir à vontade, vá inserindo cada vez mais informações, novas marcações no meio da cena, um tema. Procure sempre variar ao máximo e trabalhar com situações contrastantes ou caóticas.

Pronto. Não procure mudar o tempo, mantenho instável. 5 a 10 minutos é suficiente para cada improvisação.

Geraldo trabalhou isso com balões e tempo ritmo, com os balões deveríamos improvisar um movimento, então essa foi nossa largada, e, para desafiar-nos mais, uma música foi solta para improvisar no ritmo oposto ao da música, foi uma bruta confusão. Mas gostei. Aprendi e pensei fazendo.

O poder dos Deuses. Será?

27/05/09 - Sobe o pano. Evânia infelizmente não pôde dar aula. Acho que foi saúde. Quem estava lá para nos aparar foi professor Almir, figura interessantíssima. Que nos aqueceu corpo e mente com um exercício de interpretar de olhos fechados algumas das características mais gostosas ou marcantes de personagens célebres, como Medéia, Maria Antonieta e outros...

Foi muito, muito gostoso, porque pudemos interpretar livres de muitos de nossos preconceitos em relação à interpretação, como exercício da fase de preparação da personagem, acho um instrumento muito bacana. Depois fomos ensaiar para a apresntação dos diretores semana que vêm.

Biaggio está dirigindo a mim e Bianca, passamos o texto, vimos algumas marcos, trabalhamos intenção, um trabalho super tranquilo...

Por fim Almir reuniu a turma e fez um exercício com Noronha. o fez ficar parado o encarando e pouco a pouco, bem devagarinho, interpretou a agonia de um choro. Foi muito forte realmente. Ele me contou que da outra vez a pessoa que o ficou vendo chorou junto. Noronha não chorou, mas de fato sua performance nos tocou a todos. No final ele disse "Estão vendo. É o poder de um Deus" Interessante não?

Pobre ou quase I

26/05/09 - Sobe o pano. Dia do teatro pobre. Ou quase. Iríamos apresentar, com a cara e a coragem, os experimentos em cima das idéias de Jerzy Grotowski.

Mas não, nossa cara e coragem era tão frágil que chegou ao conhecimento do professor nosso sofrimento, nossa ânsia em cima da pergunta "que porra eu faço?" e ele decidiu conversar conosco e nos dar outra semana.

Primeiro, poucos leram o livro. Eu entendo que os seminários são consecutivos, dando uma semana, uma semana e pouco entre um e outro, porém a bibliografia está conosco há mais de mês, e se tivéssemos nos programado, não digo todos, mas a maioria poderia ter lido alguma coisa.

Outra das pedras onde tropeçamos foi qual ponto do teatro pobre abordar na cena? A turma tendeu a se concentrar no trabalho de ator. E eu me pergunto, por quê? Porque somos ambiciosos, e para mim, como numa tendência da turma, o trabalho de ator proposto por Grotowski é tentador, dessas tentações de carne, que não sei nem explicar direito. Tamanha doação à arte, mergulho tão longe é extremamente tentador.

Tão concentrados nisso que ficamos esquecemos que podíamos focar em outros aspectos do teatro pobre, muito mais permeáveis à realidade do exercício proposto - A criatividade frente à ausência de recursos, o trabalho partitural do corpo, a exploração do espaço cênico. Meu grupo em particular focou na discussão ator cortesão x ator santo, discussão importante sobre a tensão que existe em todos entre a necessidade artística face à egoísta de se estar no palco.

A aula foi muito importante para firmarmos o laço de confiança que temos todos com André e nos lembrarmos da importância de saber como falar.

Humildade é coisa tão difícil, eu que o diga. Às vezes, em meio ao desespero e à preconceitos, a fôrmas rigidas que passam a falsa idéia de segurança nós começamos à atacar tudo que vemos além dos muros que construímos. É preciso, muito, se entregar ao desconhecido. E nisso, como um todo, a turma falhou, ficamos com medo e atacamos quem procurava nos ajudar.

Eca, ficou muito martirizante esse parágrafo, deixo aqui registrado que a situação é importante para reflexão, mas não é tão trágica assim não.

Outra coisa importante é a questão da autenticidade. Uma das coisas importantes que Grotowski diz, e diz com mais enfase ainda que Stanislavski, na minha leitura, é a destruição da fôrma, do caminho; diz com todas as letras - 'Fiz meu treinamento, que funciona para preparar meus atores; mas o que fazer no palco, é a verdade que cada um deve buscar' E nisso um espelho é escancarado na nossa cara em relação à nossas necessidades artísticas - Nós queríamos, como um todo (dou todas as concessões aos casos individuais) fazer certo, e querer fazer certo é igual a não querer fazer nada, certo indica resultado, não conteúdo. E com isso tivemos que nos enfrentar.

Outras questão importantes que foram levantadas, como é comum em toda lavagem de roupa, foram a questão das notas e dos grupos. É interessante que ao fim da Escola SESC a turma faça grupos que continuem, como muitos, batalhando pela arte dos palcos. Entretanto meu apelo é que os grupos não virem panelas e que preservemos o grupo maior, admitindo os subgrupos, para não competirmos, para não nos degladiarmos quando poderíamos crescer e produzir juntos. Só isso.

E o outro foi a nota. Outra coisa vil. Entendo que os professores devam nos avaliar, mas como nós sofremos por causa dessas notas! Paremos, por favor, a arte não pode ser avaliada em números.

Realidade Cênica

25/05/09 - Sobe o pano. Hoje começamos a falar do realismo, mas não sem antes as considerações gerais tão interessantes que permeiam nossas aulas.

Aliás, nos relatórios das aulas prefiro mesmo me deter nas considerações gerais que no tema propriamente disso, isso porque os temas estão pontualmente registradas na apostila e nos livros da história do teatro, as considerações do professor são história fresquinha, vinda direta do forno. Inclusive noto uma mania ou um padrão na maneira como os gestores do Sesc se colocam em público na seguinte frase "Quero deixar aqui registrado..." sempre que vão falar alguma coisa, começam com a fase célebre, me pergundo, por que? Não creio que verei resposta.

Comçamos com puxões de orelha em relação à nossa leitura, semana que vem leremos "A gaivota", de Tchekov (acho que escrevi o nome dele certo, se não, deixo aqui registrada minha ignorância) para que essa leitura não seja enfadonha, como foram outras.

Estavámos todos muito nervosos com a apresentação de Grotowski no dia seguinte e passamos mais um tempo com Neemias tentando nos acalmar. E aqui vai uma consideração básica:

Eu sei que "Lab. de Interpretação I" deveria ser só Stanislavski. Dito isso é o seguinte: Mesmo que a escola Sesc tente preservar um certo 'academismo' é preciso admitir se há algum 'academismo', também falta algum. O interessante da diversidade entre cada professor não é a disciplina que eles ensinam, mas a pessoa em si, suas preferências, suas manias e generosidades, a maneira como ela encara o trabalho teatral e como ele influenciou sua vida.

Assim defendo com unhas e dentes a iniciativa de André de nos mostrar o seguinte: Eu nunca farei Stanislavski, nem Artaud, nem Grotowski, eu só farei Diogo Testa porque eu sou Diogo Testa. É importante estudar e conhecer o máximo possível. Mas o que passou é fonte, não fôrma. André nos pediu experimentos e nos quisemos dar espetáculo, outra lição importantíssima aí: Humildade, aceitação dos erros. Nosso medo de fazer 'errado' as cenas de André quase nos consumiu, e André veio para nos dizer 'não existe errado, existe teatro, e tentar já vale muito' esse tipo de conhecimento não tem preço.

Falando em realismo e mais precisamente em Tchekov uma das reflexões que tenho feito acerca é a frase do próprio é "escrevia Voudevilles e Stanislavski as transformava em dramas psicológicos" essa reflexão faço acerca da importância do encenador.

Assim como Stan, Grotowski transformou "Fausto" de Goethe, texto romântico, na sua própria estética, o galpão transformou Romeu e Julieta em teatro de rua. Zé Celso meche em tudo que toca, Antunes transformou as comédias de Nelson Rodrigues em peças míticas e as míticas em mais míticas ainda. Aí quando Neemias diz - o documento mais importante é o texto, eu penso 'cuidado'. Tudo bem que Neemias não fala do texto sem preconceitos. Ele sempre dá detalhes e características pontuais que identificam as montagens do período.

Não adianta, essa é minha reflexão, pensar teatro dramaturgia, na nossa contemporaneidade, ou pós-contemporaneidade ou seja lá o que for é claro que a dramaturgia é uma ferramenta na mão dos 'montadores', sejam eles atores, diretores ou ambos. E era sim desde sempre, só não tinha os nomes que tem hoje e pronto.

Não me recordo mais por qual motivo, mas durante a aula nos perguntamos: O que é kichute? Segundo a Wikipedia "Kichute é um calçado, misto de tênis e chuteira, produzido no Brasil desde a década de 70 ".

Uma das coisas que me chama a atenção no teatro do período é a relação universal x temporal, principalmente pelos textos de Tchekov e Ibsen. Isso também acontece em Shakespeare e nas tragédias gregas, mas volta com força aqui. No homem comum, não nos heróis históricos, como era antes, reside o que fala a todos, mesmo que ele seja colocado em uma situação do espaço/tempo que fale da situação social da platéia. A gaivota mesmo, enquanto existir teatro terá sua força. Jardim das Cerejeiras enquanto houver uma classe dominante e uma dominada e assim por diante.

De novo, em algum ponto da aula que ninguém sabe bem ao certo como, caímos na telenovela. Neemias diz que é bom usá-la como exemplo pontual porque todos conhecem a telenovela brasileira, portanto algo perto dos alunos. Verdade, acho difícil que um brasileiro, em algum ponto da vida não tenha contato com a telenovela produzida no país. Mentira, porque não acho algo proximo da maioria dos alunos. Entre faculdades, empregos e a Escola Sesc, acho difícil que existam muitos na turma que assistam telenovelas, portanto nem tão próximo. Desconfio, e faço esse comentário com certa maldade. Que as telenovelas estão mais próximas do professor que dos alunos. Não sei, posso estar enganado.

Mas sim, a telenovela chegou porque ela, em sua concepção cênica se aproxima muito do realismo no quesito que procura imitar com o máximo de fidelidade a vida real. Depois migrou para a acepção de telenovela como 'produto cultural', sujeito à tensões do mercado e da arte ao mesmo tempo. E daí começamos a discutir 'merchan', como chamam os Barbixas, grupo de comediantes constantemente evocado por Beto, Tiago, Mauro e Vila; da teledramaturgia brasileira, chegamos a imaginar um cenário onde não haveriam mais comerciais entre os programas, um cenário onde a propaganda já estaria tão culturalmente enraiazada na programação da TV que elas seriam simbiotícas, e não complementares, como são hoje.

Quanto à essa história de imitar a realidade com fidelidade ferrenha, Neemias também citou a peça "um sábado em 30" encenada pelo TAP aqui em Pernambuco. O texto tem traços muito fortes de racismo, e um casal de negros que assistia a uma apresentação saiu do espetáculo se julgando pessoalmente ofendido.

É isso, o negócio é esperar até semana que vem, a leitura.

dança contemporânea

21/05/09 - Sobe o pano no Apolo, o espetáculo é 'por um fio em lã', solo de dança com Juan Guimarães. O espetáculo foi concebido para trabalhar com o tema do aborto, agora achei que ele procura abstrair bem a temática da qual trata, há quem discorde, mas para mim foi abstrato.

Há vários jogos interessantes com fios, como metafora a linha da vida, há uma cena no final que remete à crianças, talvez no final o espetáculo entregue mesmo um pouco o jogo. Achei o dançarino bom, verdadeiro, depois,voltando para casa no mesmo ônibus que ele ouvi ele dizendo sobre entradas erradas e alguns improvisos e pensei o seguinte:

Engraçado como é ser público, no teatro já sou menos iludido, já fico mais crítico, mas na dança ainda sou bastante inocente e por várias vezes me ponho aberto para o que vem, seja o que for. Na verdade, fico triste pelas vezes que fico analisando peças, digo para mim mesmo "pára e assiste, Diogo, deixa de ser chato, ninguém merece" é verdade.

Interessante mesmo foi o debate depois, mediado por Sérgio Reis, figura muito interessante da qual falo depois. Foi uma grande rasgação de ceda; o interessante disso é a função social deste debate oferecido pelo Sesc depois do espetáculo.

Não defendo que ele seja exclusivo para a classe, de forma alguma, entretanto penso o seguinte - é um debate, um momento para trocar idéias e conhecer sobre o processo dos artistas, não é a hora dos agradecimentos, rosas e afins. Sei que não curarei esse mal com uma crônica, mas parafraseando os gestores do Sesc "deixo aqui registrado..."

Outro ponto engraçado é o que é dança e o que é dança contemporânea, isso porque 'por um fio em lã' diz ser dança, mas é montado com várias intenções do que seria 'dança contemporânea', mas não me aprofundar no assunto, não vale a pena.

Ah, foi isso, acabou esse relatório.

Crueldade

19/05/09 - Sobe o pano, dia da crueldade. Chegamos todos por volta das cinco horas, mas com o nervosismo, põe lona, prepara as bugigangas - e tivemos de tudo, pedaços de carne, uma verdadeira aquarela de tintas guache, carvão, incenso, máscaras, um pedaço de pau para Dolores, uma bacia, tesoura, merda, lanternas, sonoplastia, carvão... Enfim muitas coisas, fomos começar pelas sete da noite.

Primeiro foram Paulinha, Vila e Beto apresentando "Prostituta Respetitosa", de Sartre . Muito bacana, nos colocaram todos pra dentro pelos braços, Mauro (uma vez contra-regra, sempre contra-regra) fez o trenzinho na luz junto à Tiago na sonoplastia enquanto o trio repetia freneticamente frases soltas; as luzes se apagam e Evilásio aparece completamente sujo grudado na parede, como um desesperado; as luzes se apagam, eles nos tiram enquanto procuram por um ministro, um senador, algo assim; as luzes se apagam, Roberto estupra Paula no escuro; as luzes se apagam, Roberto é tingido de todas as cores (teoricamente, na verdade ele foi pintado de verde, como o incrível Hulk, fazer o quê). Fim.

A discussão proposta pelo grupo era sobre o racismo e as verdadeiras cores do ser humanos, achei muito bacana.

Depois fomos nós, eu, Thaísa e Felipe, nervosíssimos. Fomos fazer Édipo Rei. Deitamos todos, tentamos os importunar com a praga que dizimava Tebas, os sentamos e inquirimos, como Édipo, quem havia matado o rei, Tirésias surge e revela a verdade, todos se levantam e acusam Édipo até que ele se cegue.

Tentamos muita coisa e não deu certo quase nada, mas valeu a experiência. Queríamos levar o público, no primeiro momento, á um nível de desespero que o fizesse querer sair dali sem poder, queríamos assutar, fomos ridículos. Azar. Depois, não percebemos que manipular dezessete pessoas leva tempo demais.

O engraçado foram os feedbacks contrastantes. Alguns viajaram bastante, outros não. Enfim, cada um fez seu próprio espetáculo, dessa perspectiva foi válido.

Logo em seguida Tiago, fazendo "Marat Sade", de Peter Weiss, foi estranho, faltou acreditar no que se está fazendo. Mais importante que processo, nota, aluno, professor, cachorro ,gato, dar cambalhota, agradar, não agradar, é acreditar no que se está fazendo. E encontrar isso é a busca de uma vida.

A partir daí a ordem se perde em minha mente, mas acho que depois foram Biaggio e Camilla, com a "Obscena Senhora D.", de Hilda Hilst, a tal. Muito impressionante, entramos todos com Biaggio cheio de fita adesiva falando coisas estranhas e nos posicionando enquanto Camilla dançava loucamente em cima da mesa. Depois descobri que ela estava derrubando o convencionalismo da mesa posta, antes disso pensei que ela era uma striper mesmo. Muito bacana o texto e a maneira como eles brincaram com ele. Adorei a cena em que eles devoravam a carne. Não tem mais muito o que dizer, essas coisas são o que são e são muito válidas assim.

Depois Ju, Thaty e Guil em Álbum de Família. Aplauso para Ingrid, eu sei que as meninas se descabelaram para fazer a cena delas e foi muito bacana, o destaque de Ingrid foi como ela conseguiu contornar a neurose de Ju com as escapadinhas e enroladinhas de Thaty. A cena ficou muito bacana, com elas fugindo de medo da irmã no meio da noite, com malhas super finas, ui ui. Deram beijinhos na plateia, Noronha e Geraldo, para ser mais preciso.

Elas ficaram agoniadas porque não saiu "Artaud" mas no seu consolo eu argumento que a única pessoa que poderia fazer "Artaud" era Artaud, e nem ele se fez, portanto não sofram.

Depois... depois, quem foi mesmo hien? Acho que foi André Garrel e João Lobo, definitivamente a grande revelação da noite. João atuou de uma forma que surpreendeu a todos além dos limites do explicável, no mesmo Marat Sade, inclusive houve o primeiro nu do curso, com João tirando a roupa e entrando na bacia para ficar muito, muito doido. André estava na mesma onda, muito impressionante e saiu ameaçando a todos com uma tesoura para finalmente picotar o cabelo de João, numa paródia de Zé Celso, em "Para por um fim no juízo de Deus".

A penúltima foi DJ Dolores com Geraldo, novamente não foi Artaud, mas foi incrível. Geraldo colocou bosta para cheirar, mas só funcionou para quem estava em linha reta, quem estava nos lados não sentiu o cheiro, tanto melhor ou tanto pior, acho. Dolores se destacou, voz, energia, tudo, muito, muito bom vê-la em cena. Ah, sim, não sei qual foi o texto, depois descubro e corrijo.

Por fim Marquinhos, Noronha e Bianca em outro texto que não lembro. Muito interessante, foi uma cena tapa, Marquinhos, o pai de Bianca e Jailton saia, Noronha estuprava a irmã, o pai chegava, via a filha morta e estuprada e matava o filho. Muito forte, muito rápido. André criticou a dramaturgia.

Deixa eu falar meus pareceres sobre essa história de dramaturgia. Eu entendo perfeitamente que André nos direcione para textos seguros, isso porque somos principiantes e é melhor não arriscarmos em coisas ruins, já que temos interesse e potencial, porém é preciso ver a verdade de cada texto. O ideal é encontrar uma literatura respaldada que nos fale, mas se encontrarmos a verdade em coisas mas simples, também acho que não a devamos ignorar.

No geral, minha visão sobre o trabalho de Artaud foi - Uma liberdade muito maior e menos noiática sobre o ofício de atuar, não tem a ver com menos esforço, e sim com mais liberdade. A grande busca dum processo que vibre seu corpo todo, desde o dedo mindinho até o último fio de cabelo e a grande concessão poetica no palco, necessária a tornar nossa arte mágica.

Morgou

12/05/09 - Não teve aula, a fiandeiros foi apresentar. Evânia daria aula para apresentarmos a quarta etapa do trabalho com diretores. Mas ela não pode por motivos pessoais e morgou.

A dona da história

20/05/09 - Sobe o pano no Teatro Capiba. Evânia estava fazendo mais uma etapa do estudo dos diretores mas eu não atuei nem dirigi, sequer sei que texto foi que elas fizeram, depois corrijo. Eu fui assistir "A dona da história", texto de João Falcão dirido por Thom Galiano com Raphaela de Paula e Cátia Cardoso no elenco.

Eles se chamam 'Trupo Errante' e 'Pé Nu Palco', é o povo de Petrolina. Bem, antes de rasgar a ceda, algumas explicações.

Morei em Petrolina de janeiro de 2004 a julho 2007, dos quatorze aos dezessete, minha formação como homem começou lá, no sertão de pernambuco, terra de uva, de manga, de são francisco, de carranca, do colégio dom bosco, da igreja da matriz, do monumento da besteira, de juazeiro da bahia, da easycomp informática, da orla, da ponte, das ilhas, do samba de velho, dos matingueiros, do river shopping e também do sesc Petrolina, onde o bicho do teatro me mordeu.

Thom Galiano foi meu professor e é um dos encenadores mais inteligentes que já vi. Tudo isso se confirma no espetáculo, que conta a história dessa mulher que fica voltando para seu eu do passado mudar as coisas e melhorar seu presente; ou o seu eu do presente ouvir o seu eu do futuro e mudar as coisas para melhorar. Enfim é uma confusão, sempre é, João Falcão pega o crédito por isso.

Rapha e Cátia são realmente muito parecidas e estão maravilhosas, no debate após o espetáculo, mediado por Leidson Ferraz foi lembrado que na montagem original era usado um aparato enorme e complicado para fazer os efeitos de trangressão cronológica sugeridos pelo texto e aí entra a genialidade de Thom - com duas atrizes, dois pares de all-star, um violão e um degrau ele faz o trabalho de não sei quantos canhões de luz, esteiras, fundos falsos e afins.

Estamos estudando, ainda que por alto, o teatro pobre de Grotowski e não apenas esse, mas os outros trabalhos que conheço de Thom, como "pararupara", "Fatias de um defunto", "eu chovo, tu choves, eles chovem..." já me mostraram como um teatro pobre é imensamente mais rico que qualquer mecanismo que se traz ao palco.

Outra coisa que pensei ao assistir é como precisamos dissociar a conceito de ator de qualidade de atores globais, duas ilustres desconhecidas do interior de pernambuco, por uma hora e meia fizeram a mim e a platéia ir do riso ao choro e de volta ao riso como uma mágica inexplicável. Assim como o espetáculo de Januzelli, "o porco", ou o espetáculo de conclusão de uma turma da federal de brasília "Adubo ou a sutil arte de escoar pelo ralo" ambos trazido ano passado pelo palco, mostra que assim como existe um "cinema de arte" existe o "teatro de arte". É um termo feio, sei, mas ilustra bem a questão.

E com isso um puxão de orelha para a produtora de João Falcão, que limitou o número de apresentações por querer produzir o texto com "atrizes globais" ao invés de investir no que está aí, bem feito e pronto para ganhar a visibilidade que merece, que vergonha.

A Nau Naufragada

18/05/09 - Sobe o pano. O espetáculo "Viva a Nau Catarineta" do GRUDAGE, que estava pautado pelo palco giratório para o dia seguinte passaria essa segunda no Sesc de Piedade para fazer uma visita aos alunos da escola Sesc. Claro, ninguém lembrou que é maio, que semana passada choveu quase todo dia, o espetáculo é teatro de rua e o sesc não tem estrutura coberta para teatro de rua.

Enfim choveu. A turma do GRUDAGE ficou lá embaixo tirando um som e nós tivemos que ter aula. A pegadinha é que prof. Neemias preparou a aula imaginando a hora, hora e meia que perderíamos assistindo o espetáculo e convesando sobre ele. Enfim, foi uma aula mais devagar...

Nós fizemos a avaliação do andamento das aulas responde as seguintes perguntas:

1 - Como estou escrevendo minha história no teatro?

2 - Como estou sendo orientado para isso?

Depois trocamos e fomos lendo uns as dos outros em voz alta. Engraçado como cada um se olha. Ouve muita rasgação de ceda para o lado do professor Neemias, que acho meio sem por quê. Neemias é barbado e ele sabe a qualidade do que faz.

Foi engraçado ver como há os humildes, que admitem com a tristeza dos desiludidos que não escreveram história nenhuma, há os que saem contando os títulos, há os metafísicos, que buscam refletir o que realmente ficou das coisas feitas e há os loucos.

Ver isso me deixou profunda uma marca do perfil da nossa turma, que é uma turma jovem, muito crua de teatro ainda, e extremamente ambiciosa, é curioso ver como todos se punem por não estarem em palcos dando o sangue, como há um clima de frustração por estarem juntos tantos atores a procura de um espetáculo (pirandello); pensei agora que esse povo precisa é gozar mesmo.

Nisso lembro uma coisa importante que Neemias vive dizendo - usem esse espaço para experimentar, para aprender praticando coisas ao invés de ficar louco com milhões de coisas.

Inclusive eu, quando começei a reponder as perguntas quis ser o "esperto que sabia o que era história" e ia mostrar minha história pelos registros que tenho dela, as mensalidades do curso, os programas das peças que já atuei, os certificados dos cursos que fiz e com isso tudo só ia mostrar o metido que sou.

Fiz diferente, e aí é a prova da interferencia de titio Neemias, em vez de sair contando documentos olhei com olhar crítico as coisas que já fiz e vi que estive desesperado, querendo fazer, fazer, fazer para acertar.

De repente agora na escola Sesc estou aprendendo a fazer pela necessidade artística, fazer não por fazer, mas fazer porque é necessário. A necessidade é crucial para qualquer ator.

E com isso também estou aprendendo a me livrar das coisas desnecessárias, mas aos poucos, que sou muito egoísta ainda.

Imagens que não explodiram

14/05/09 - Dia de ir ver Imagens não explodidas no Apolo, não pude, sorry.

O sol e a Janela

13/05/09 - Sobe o pano no Barreto Junior. É a peça de nossa queridíssima professora Evânia Copino, "quando o sol vem a janela", da Trupe Cara e Coragem, direto do Cabo de Sto. Agostinho. Direção e dramaturgia de Luiz de Lima Navarro, direção musical de Zé Caetano e Evânia Copino (oh) e Nice Albano no elenco.

O espetáculo é baseado na história da mãe de Luiz, o diretor, que tem a doença de alzheimer. Na dramaturgia as personagens são Guida, interpretada por Evânia, que tem a doença e Amélia, interpretada por Nice Albano, mulher de Guida, que cuida da enferma e busca desenterrar-lha as lembranças em seus últimos momentos.

Não é porque Evânia é minha professora não, é porque eu achei lindo e me comovi com o espetáculo. É curtinho, uns quarenta minutos de extrema delicadeza em que as duas atrizes, falam, entrecortado a lindas canções de todos os tempos e lugares, o imprescindível.

A cena procura retratar as quatro fases da doença, a saber:

1- perda de memória recente, desvio de atenção, apatia.

2- agnosia e apraxia, perda de memória, empobrecimento do vocabulário, dificuldade de expressão, disfunções motoras.

3- Ilusões, incontinência urinária, ataques nervosos, perda da memória a longo prazo e vocabular.

4- Fase terminal. O paciente fica completamente dependente de cuidados, quase inexpressivo e sem memória.

Nessa última fase ocorre um dos momentos mais poéticos do espetáculo - quando Guida, num momento de lucidez, se recorda da companheira pouco antes de morrer.

Destaque importantíssimo para Nice Albano, que canta como um rouxinol e fez por onde na sua primeira experiência como atriz.

Bem, agora que eu já rasguei ceda deixa eu pensar um pouco. Primeiro notei uma diferença entre Nice e Evânia no palco. Nice não atua mal nem soa falsa, mas existe algo de intangível na experiência que é sensível no palco.

Outra coisa é como cantar na personagem, dificuldade levantada por Nice no debate. Quando foi cantar as primeiras musicas realmente retirou toda a postura e partitura vocal de sua personagem para assumir o tom e posturas corretos para se cantar; mas quando foi cantar as canções de vários lugares do mundo, para relembrar Guida das viagens que elas fizeram ela assumiu uma personagem e cantou na personagem.

Sobre isso faço as seguintes considerações - 1 - É mais fácil e mais bonito atuar quando assumimos que estamos atuando, ao invés de esconder. Digo isso porque quando ela sabia que teria que fingir, assumir sotaques, posições e expressões que remetessem a diversos lugares do mundo ela fez com extrema naturalidade e simplicidade.

Isso é uma dívida psicológica que talvez nós, atores, possamos abandonar. Ser outra pessoa no palco nunca será tão bom quanto fingir ser outra pessoa, na prática e fisicamente isso não muda nada, é uma questão da mentalidade com que o ator vai a cena. Ele deve ir leve, sem nenhuma preocupação em enganar as pessoas, muito pelo contrário, o ator deve saber que vai à cena levar a verdade. Isso é muito bonito.

Nisso talvez eu faça uma ressalva ao espetáculo - por vezes eu vi um esforço das atrizes para fazer a cena, principalmente de Evânia. Entendo que faz parte da natureza do papel, difícil pela questão delicada que ele aborda; entretanto o papel pode ser evoluído ao ponto da completa naturalidade até nas partes mais tensas, até mesmo porque a personagem de Guida não faz força para ter ataques, ou esquecer e lembrar, ela já é escrava da própria loucura, portanto quanto mais natural ela soar, principalmente nos momentos de clímax, melhor.

Outro detalhe que me chamou a atenção depois foi a maquiagem de Evânia, com lápis em cima duma base pálida para marcar o rosto de velhice, é a segunda vez que vejo esse recurso, imagino que não seja nenhuma novidade, mas gosto da plástica dele.

Pronto, já pensei o que precisava. Para fechar registro que chorei, foi muito lindo, saí do teatro com aquela sensação engraçada no peito.

Woyzec

11/05/09 - Sobe o pano. Principalmente para os românticos. Mas antes de chegarmos neles falamos de muitas coisas, entre as quais:

- Fecha dos teatros no período Isabelino. Não sei se ocorreu em outros lugares, mas tenho certeza que ocorreu na Inglaterra, de 1642 a 1660, pelos puritanos, na guerra que instaurou o poder do parlamento maior que o do Rei, na época Henrique VIII, o mais safado dos reis, ou pelo menos um dos mais explícitos na sua safadeza; quase dois séculos antes da revolução Francesa, vai entender a história. Já que o rei pagava o teatro, fecharam o teatro até o rei não pagar mais nada sem aprovação do parlamento.

- O projeto "a escola vai ao teatro" o nome parecido, que acontece às quartas, no Barreto Júnior, para os alunos dos colégios do Pina. É uma tendencia ser preconceituoso com o cidadão do Pina, alguns dos jargões pouco polidos usados para descrevê-los são mundiça, ralé, almas sebosas e por aí vai. Infelizmente quando eles chegam no teatro, nove em dez provam a raíz do preconceito - são barulhentos e pouco polidos - Foi levantada uma questão importante: além de peças, era preciso usar desse espaço no teatro para discutir e comparar a atitude dos alunos com a atitude desejada do público com a importância de se assistir à produção de arte e cultura e tudo mais. Nada disso é discutido e os alunos do Pina continuam levando a má fama.

Depois, com a ajuda do professor Almir, cujo sobrenome desconheço por hora e que nos fez companhia na aula ficamos sabendo o impressionante conhecimento teledramaturgico dos professores. Um barato ver como Neemias concegue explicar pontualmente a história do teatro mundial em comparação com a teledramaturdia brasileira. Brincadeirinha.

Por exemplo, usando como referência novelas, vimos claramente algumas das principais características do romantismo e do realismo, através da construção das novelas em voga nos dias de hoje. O romantismo na construção das personagens e o realismo na estética da montagem.

Tiago levantou as relações entre o melodrama e o melodrama circense, eis o que diz a wikipedia, fonte de pesquisa mais rápida que disponho:

"Circo O melodrama apresentado no circo brasileiro é uma forma constante de manifestação teatral circense que pode ocorrer entre as atrações do circo. De certa forma segue algo do estilo do melodrama teatral do final do século XIX, desenhado em ações, com conflitos polarizados, através de uma dramaturgia simples, baseada em conflitos familiares, atuado de uma forma grandiosa ou exagerada, tendo em vista os padrões de interpretação atuais que sublinham o natural."

Depois fomos ler Woyzec. Tenho uma dúvida que não manifestei em sala de aula: Neemias disse que o texto romântico dialoga com o divino. O que em Woyzec dialoga com o divino? Ele também disse que Woyzec já mostra uma transição, então me pergunto se o autor não teria abandonado esse aspecto nessa transição?

E ainda acho que essa linguagem fragmentada lembra o surrealismo, até mesmo Artaud.

Tivemos uma gaiola das loucas mais que especial com Thaty e Bianca dançando Mamonas e fechando.

Neemias teve a bondade de reservar o final de sua aula para falarmos de Artaud, que vinha rasgando as cabeças de todos nós com questionamentos do tipo "Como faço esse troço?". Para meu grupo, Thaisa e Felipe, nos lembrou da perspectiva do sonho, da exposição ridícula do ser e da visceralidade.

O dia que não fui

07/05/09 - Sobe o pano. Mas eu faltei, então lanço o desafio, quem se dispuder a escrever escreva.

Com shakespeare.

06/05/09 - Sobe o pano. Mas dessa vez de verdade, no teatro Barreto Júnior, onde a turma foi convidada a assistir o espetáculo 100 shakespeare, do grupo Pia Fraus, meus conterrâneos de São Paulo.

Uma coisa me chama muito a atenção no teatro paulista - excelência técnica e falta de identidade. O que é falta de identidade? É resultado de um ecletismo excessivo. Paulistas fazem de tudo, o que eu me pergunto é: porque eles não fazem as raízes deles? E em São Paulo descobrir sua raíz é literalmente, caçar um agulha num palheiro. Não ouço regionalismo paulista. Pela contrário, um grupo competentíssimo de São Paulo - como são todos os que vêm para cá - usou Gilberto Freire, assombrações do Recife Velho. Quero dizer, onde está o regionalismo deles? Não é uma crítica de forma alguma, até porque a qualidade deles não me deixa criticá-los, mas um indagamento que acho pertinente. A cena Recifense, por outro lado, tem muitas pessoas fazendo, e bebendo em raízes e sendo "popular" ou "armorial" ou "pintoso" mesmo mas toda essa riqueza se torna estéril na mão de artistas sem qualidade técnica. Ver os grupos paulistas me leva a essas reflexões.

Bem, 100 shakespeare se vale, na verdade, de apenas 43 bonecos e diversas formas de manipulação, são tantos bonecos que não é necessário cenário, basta deixá-los ali que o palco se preenche de vida. Ingrid levantou que a expressão dos bonecos é sombria, quase grotesca, conferindo à encenação com eles uma espécie de surrealismo. Enquanto assistia não pensei nada disso. Pensando agora creio que se eles fossem mais bem feitos seriam menos humanos.

Os atores, no debate depois do espetáculo - gostaria de saber o nome do mediador, uma figura engraçadíssima - os atores usaram muito o termo 'imagético' para descrever o espetáculo, não creio que a palavra exista, mas gostei muito do neologismo, achei-o bastante 'imagético'. As cenas representadas vieram de nove peças do dramaturgo inglês e para 'sonho de uma noite de verão' os atores escolheram uma cena ambígua, diga-se de passagem, com cavalos e pênis enormes que deveria aparecer na luz negra, para não ficarmos prestando atenção demais nos seus pênis, mas a luz negra falhou e ficamos lá prestando atenção nos pênis e refletindo a profundidade humana de um pênis de cavalo.

Minha principal crítica desse espetáculo, assim como todos os espetáculos de "linguagem" é que são muito bonitinhos mas não dizem muita coisa. Eu, como público, tenho ânsia de algo humano na representação, na absurda e estúpida necessidade de comunicação do ator, que é uma das grandes garras, que é uma força inexplicável que nos põe em contato com nós mesmos. Esse mais íntimo, mais profundo do teatro não havia nessa representação; era bom de se ver, era bem feito, mas nesse aspecto, estéril. Enfim gostei.

Bichos de Sete Cabeças

05/05/09 - Sobe o pano. Começa a aula com a última apresentação de Vila e Thaísa, em um bonde chamado desejo. Vila prometeu que jogaria as bijouterias de Blanche em cima de André Filho. Não foi o que ele fez, mas melhorou muito, agora Vila estava mal, quase tão mal quanto Marlon Brando, quase tão mal que ele era gostoso, dominador. Thaísa manteve a qualidade do trabalho sem grandes mudanças. Vila quase gritou, isso me deixou incomodado um pouco, queria que ele tivesse gritado, pelo menos uma vez.

Depois a cena final de Beto e Guil. André atentou para a importância dos trabalhos no momento de silêncio, onde Beto deveria entrar, olhar, pensar, e não atirar o texto logo de cara. Desafios, são tudo desafios. Ingrid trouxe cores novas para a personagem e isso nos surpreendeu a todos, a fazendo mais ironica, mais ácida e mais falsa, entretanto a achei monocromática desta forma. Uma personagem deve ser uma mistura de cores, um processo monocromático deve ser muito bem pensado e calculado e creio que não caberia no que ela e Beto se propuseram a apresentar.

Depois fomos conversar de Artaud e Grotowski, os bichos de sete cabeças. Eu falei uma porrada colocando todos os grilos do momento para fora. Foi bom para externar. Depois André respondeu a minhas perguntas com perguntas, típico dele.

Então fizemos dois exercícios de "vislumbre", como ele chamou. No primeiro de olhinhos bem fechados, à la Kubric, nós andamos e tateamos a vontade, tateamos peitos, bumbuns, pe... quer dizer, rostos, peles, cabelos, enfim; a fim de explorar nosso sentimentos perdidos... E num segundo momento gritamos a vontade o que vinha na cabeça, num processo Artaudiano, mas só para desopilar mesmo. Veremos no que isso vai dar daqui a duas semanas, já que semana que vem a Fiadeiros viaja para apresentar o 'Outra vez...' em algum lugar aí, boa apresentação para eles.

Ausêncisa I

04/05/09 - sobe o pano. Tentamos ler o avarento até o fim, mas o avarento era avarento mesmo e não deixou. Isso sem mencionar a cena de sete personagens que teríamos que ler com apenas um texto.

Depois fomos ler o experimento de McBeth, a peça amaldiçoada. A quem interessar possa, o texto já provocou o incêndio de um teatro e a morte de produtores e elenco, tudo explicado no artigo da wikipedia sobre o mesmo.

Para isso, tive que buscar Thaty lá embaixo. Lá embaixo Guil estava lendo Grotowski porque chegou atrasada e não queria atrapalhar a aula, fiquei conversando com ela, depois com Ju e perdemos a aula.

Bem, vou me retificar aqui e depois em sala com todas as letras: O que eu fiz não foi correto, foi egoísta e vaidoso. Fiquei sabendo depois que isso contrariou muito o professor e senti remorso, não era intenção contrariar ninguém, eu só comeceu a conversar e fui indo. Aos que tentaram me defender, obrigado. Mas não acho que seja necessário mentir nessas horas, Neemias merece mais que isso, admitamos que ele está sofrendo para nos dar algum senso de estudo de dedicação, coisa que precisamos.

Infelizmente não posso falar mais, não assisiti, se alguém se prontificar a concluir esse diário com os fatos e discussões importantes em aula, eu agradeço.

A serviço do que não existe

30/4/9 - Sobe o pano. Bem maior foi a quinta-feira. Chegamos mais cedo todos para ensaios do texto "Véu e Grinalda" de Miguel falabella adaptado por Evânia Copino para nossa realidade Jaboatonense. Novamente fiquei no vácuo da produção dos outros grupos ensaiando. Então vamos para os resultados.

Os primeiros a se apresentar foram Marquinhos, Bianca e Garrel dirigidos por Evilásio nos papéis de Bebel, Bárbara e Judith, respectivamente. Destaque para a roupa de Marquinhos, curtíssima e a voz da Garrel, cuspidíssima.

A segunda cena foi feita por Camilla, Thaty e Thaysa dirigidas por Beto Brandão nos mesmos papéis respectivos. Destaque para Thaty, na minha opinião, a melhor cena dela no curso; também para Camilla, alesadíssima e Thaysa muito chata.

A terceira fomos Paula, Dolores, e Eu diridos por Mauro Monezi. Destaque para Paula, também alesadíssima.

A quarta cena foi de Guil, Ju e Noronha dirigidos por Geraldo. Destaque para muitas coisas: a caracterização das personagens, tanto nos adereços, quanto no figurino e maquiagem. Destaque destacado para Guil, que em matéria de Alesadisse aguda venceu todas as antecedentes e o balanço sensual de Noronha na pele de D. Judith.

Depois das apresentações prof. Evânia bateu um papo com os diretores e algumas dos pontos importantes da conversa foram:

- A necessidade do diretor preocupar-se com os aspectos técnicos da montagem, como figurino, maquiagem, cenário, marcas. É comum o diretor inexperiente preocupar-se apenas com a marca e desligar-se dos outras aspectos importantes da produção da cena.

- Os diversos tipos de humor. Não é uma questão de certos e errados, mas é possível conseguir amor acreditando numa história ridícula ou expondo o ator ao ridículo. Não acredito que o ator seja um pedestal que não deva ser ridicularizado. Mas acho que esse ridículo não deva ser depreciativo nem de graça. Assim como não concordo com atores que não se enfeiam ou ridicularizam por suas personagens, também não concordo em atores que por não conseguir humor de outra forma, precisam se humilhar de graça e sem necessidade. Coisas para se pensar.

- E junto do tópico anterior veio a questão da exibição x caracterização do ator. Yoshi Oida escreveu um livro chamado "O Ator invisível", onde ele defende que o ator deve ser invisível, ninguém deve vê-lo em cena, apenas a personagem. E eu acredito que parte da mágica que fazemos está nesse conceito. A relevância disso já é outra história, mas como poderemos dar relevância ao que fazemos se não fazemos com poder, com mágica para funcionar? Enfim, Evânia pôs em pauta que nós atores temos atrativos muito chamativos que precisamos aprender a esconder: Os Cabelos da maioria das meninas, que pouco ou nada muda, os óculos de Ingrid, e coisas mais arraigadas, como certos cacuetes físicos ou partituras vocais que são marcas registradas de certos atores.

Um conceito interessante foi o tirado da experiência com Beto, que chegou com o texto já todo marcado e fervilhando de idéias, desse processo vi a possibilidade de um diretor "paleta" do ator, uma pessoa que possa, pela experiência, trazer cores ou formas que inspirem o trabalho dos que estão no palco. Eu me oponho à isso, prefiro ver o diretor como um instigador, uma pessoa que provoca muito mais que uma que oferece. Mas a qualidade do resultado da cena de Beto foi muito boa e acho que há verdade em ambos os caminhos.

- Os fissurados. No caso eu (metido) e Paula (insegura). Tivemos um grande momento terapia, onde verdades foram ditas, e cada dia me impressiono mais com o poder dos verdadeiros mestres e verdadeiros atores de dizer a verdade. Acho lindo e acho gradioso não só a verdade dita, mas a maneira como um bom ator e um bom mestre sabe dizer a verdade. Acho os professores do curso um espetáculo à parte. Então, Evânia me chamou a mim e a Paula de fissurados, e aceitamos numa boa porque não é mentira. Quanto à Dolores, a inquiriu uma verdade que já estava na boca de todos "Não serão nem os professores que passarão a te cobrar, o professor olha o resultado, será a turma, pois com o tempo, a turma irá cada vez mais procurar as pessoas com tempo e qualidade para trabalhar em grupo. Você pode dar o seu tempo e sua qualidade ao grupo?" Dolores não entendeu, viu como um últimato e já ia pulando do barco quando Geraldo, outra grande personalidade disse algo que também estava na garganta de todos e me fez admirá-lo muito "Pare de se desculpar minha filha. Você está fazendo um monstro da escola SESC, que não é um monstro. Não sofra. Faça o que você pode, se der o máximo de si, será bom. Você não precisa pedir desculpas". E é verdade. Que o tempo dela é curto, lá isso é, mas não é só o dela, muitos no curso também tem tempo curto, é a vida, nunca ninguém tem tempo suficiente, e quem tem é um chato. Enfim, lavamos a alma como num verdadeiro drama.

- Trabalho de limpeza. Geraldo mostrou através de sua experiência como usar artíficos simples para limpar as pessoas e dar mais espaço para as personagens. Vozes, roupas, corpos, tudo a serviço do que não existe. Que lindo.