Woyzec

11/05/09 - Sobe o pano. Principalmente para os românticos. Mas antes de chegarmos neles falamos de muitas coisas, entre as quais:

- Fecha dos teatros no período Isabelino. Não sei se ocorreu em outros lugares, mas tenho certeza que ocorreu na Inglaterra, de 1642 a 1660, pelos puritanos, na guerra que instaurou o poder do parlamento maior que o do Rei, na época Henrique VIII, o mais safado dos reis, ou pelo menos um dos mais explícitos na sua safadeza; quase dois séculos antes da revolução Francesa, vai entender a história. Já que o rei pagava o teatro, fecharam o teatro até o rei não pagar mais nada sem aprovação do parlamento.

- O projeto "a escola vai ao teatro" o nome parecido, que acontece às quartas, no Barreto Júnior, para os alunos dos colégios do Pina. É uma tendencia ser preconceituoso com o cidadão do Pina, alguns dos jargões pouco polidos usados para descrevê-los são mundiça, ralé, almas sebosas e por aí vai. Infelizmente quando eles chegam no teatro, nove em dez provam a raíz do preconceito - são barulhentos e pouco polidos - Foi levantada uma questão importante: além de peças, era preciso usar desse espaço no teatro para discutir e comparar a atitude dos alunos com a atitude desejada do público com a importância de se assistir à produção de arte e cultura e tudo mais. Nada disso é discutido e os alunos do Pina continuam levando a má fama.

Depois, com a ajuda do professor Almir, cujo sobrenome desconheço por hora e que nos fez companhia na aula ficamos sabendo o impressionante conhecimento teledramaturgico dos professores. Um barato ver como Neemias concegue explicar pontualmente a história do teatro mundial em comparação com a teledramaturdia brasileira. Brincadeirinha.

Por exemplo, usando como referência novelas, vimos claramente algumas das principais características do romantismo e do realismo, através da construção das novelas em voga nos dias de hoje. O romantismo na construção das personagens e o realismo na estética da montagem.

Tiago levantou as relações entre o melodrama e o melodrama circense, eis o que diz a wikipedia, fonte de pesquisa mais rápida que disponho:

"Circo O melodrama apresentado no circo brasileiro é uma forma constante de manifestação teatral circense que pode ocorrer entre as atrações do circo. De certa forma segue algo do estilo do melodrama teatral do final do século XIX, desenhado em ações, com conflitos polarizados, através de uma dramaturgia simples, baseada em conflitos familiares, atuado de uma forma grandiosa ou exagerada, tendo em vista os padrões de interpretação atuais que sublinham o natural."

Depois fomos ler Woyzec. Tenho uma dúvida que não manifestei em sala de aula: Neemias disse que o texto romântico dialoga com o divino. O que em Woyzec dialoga com o divino? Ele também disse que Woyzec já mostra uma transição, então me pergunto se o autor não teria abandonado esse aspecto nessa transição?

E ainda acho que essa linguagem fragmentada lembra o surrealismo, até mesmo Artaud.

Tivemos uma gaiola das loucas mais que especial com Thaty e Bianca dançando Mamonas e fechando.

Neemias teve a bondade de reservar o final de sua aula para falarmos de Artaud, que vinha rasgando as cabeças de todos nós com questionamentos do tipo "Como faço esse troço?". Para meu grupo, Thaisa e Felipe, nos lembrou da perspectiva do sonho, da exposição ridícula do ser e da visceralidade.

O dia que não fui

07/05/09 - Sobe o pano. Mas eu faltei, então lanço o desafio, quem se dispuder a escrever escreva.

Com shakespeare.

06/05/09 - Sobe o pano. Mas dessa vez de verdade, no teatro Barreto Júnior, onde a turma foi convidada a assistir o espetáculo 100 shakespeare, do grupo Pia Fraus, meus conterrâneos de São Paulo.

Uma coisa me chama muito a atenção no teatro paulista - excelência técnica e falta de identidade. O que é falta de identidade? É resultado de um ecletismo excessivo. Paulistas fazem de tudo, o que eu me pergunto é: porque eles não fazem as raízes deles? E em São Paulo descobrir sua raíz é literalmente, caçar um agulha num palheiro. Não ouço regionalismo paulista. Pela contrário, um grupo competentíssimo de São Paulo - como são todos os que vêm para cá - usou Gilberto Freire, assombrações do Recife Velho. Quero dizer, onde está o regionalismo deles? Não é uma crítica de forma alguma, até porque a qualidade deles não me deixa criticá-los, mas um indagamento que acho pertinente. A cena Recifense, por outro lado, tem muitas pessoas fazendo, e bebendo em raízes e sendo "popular" ou "armorial" ou "pintoso" mesmo mas toda essa riqueza se torna estéril na mão de artistas sem qualidade técnica. Ver os grupos paulistas me leva a essas reflexões.

Bem, 100 shakespeare se vale, na verdade, de apenas 43 bonecos e diversas formas de manipulação, são tantos bonecos que não é necessário cenário, basta deixá-los ali que o palco se preenche de vida. Ingrid levantou que a expressão dos bonecos é sombria, quase grotesca, conferindo à encenação com eles uma espécie de surrealismo. Enquanto assistia não pensei nada disso. Pensando agora creio que se eles fossem mais bem feitos seriam menos humanos.

Os atores, no debate depois do espetáculo - gostaria de saber o nome do mediador, uma figura engraçadíssima - os atores usaram muito o termo 'imagético' para descrever o espetáculo, não creio que a palavra exista, mas gostei muito do neologismo, achei-o bastante 'imagético'. As cenas representadas vieram de nove peças do dramaturgo inglês e para 'sonho de uma noite de verão' os atores escolheram uma cena ambígua, diga-se de passagem, com cavalos e pênis enormes que deveria aparecer na luz negra, para não ficarmos prestando atenção demais nos seus pênis, mas a luz negra falhou e ficamos lá prestando atenção nos pênis e refletindo a profundidade humana de um pênis de cavalo.

Minha principal crítica desse espetáculo, assim como todos os espetáculos de "linguagem" é que são muito bonitinhos mas não dizem muita coisa. Eu, como público, tenho ânsia de algo humano na representação, na absurda e estúpida necessidade de comunicação do ator, que é uma das grandes garras, que é uma força inexplicável que nos põe em contato com nós mesmos. Esse mais íntimo, mais profundo do teatro não havia nessa representação; era bom de se ver, era bem feito, mas nesse aspecto, estéril. Enfim gostei.

Bichos de Sete Cabeças

05/05/09 - Sobe o pano. Começa a aula com a última apresentação de Vila e Thaísa, em um bonde chamado desejo. Vila prometeu que jogaria as bijouterias de Blanche em cima de André Filho. Não foi o que ele fez, mas melhorou muito, agora Vila estava mal, quase tão mal quanto Marlon Brando, quase tão mal que ele era gostoso, dominador. Thaísa manteve a qualidade do trabalho sem grandes mudanças. Vila quase gritou, isso me deixou incomodado um pouco, queria que ele tivesse gritado, pelo menos uma vez.

Depois a cena final de Beto e Guil. André atentou para a importância dos trabalhos no momento de silêncio, onde Beto deveria entrar, olhar, pensar, e não atirar o texto logo de cara. Desafios, são tudo desafios. Ingrid trouxe cores novas para a personagem e isso nos surpreendeu a todos, a fazendo mais ironica, mais ácida e mais falsa, entretanto a achei monocromática desta forma. Uma personagem deve ser uma mistura de cores, um processo monocromático deve ser muito bem pensado e calculado e creio que não caberia no que ela e Beto se propuseram a apresentar.

Depois fomos conversar de Artaud e Grotowski, os bichos de sete cabeças. Eu falei uma porrada colocando todos os grilos do momento para fora. Foi bom para externar. Depois André respondeu a minhas perguntas com perguntas, típico dele.

Então fizemos dois exercícios de "vislumbre", como ele chamou. No primeiro de olhinhos bem fechados, à la Kubric, nós andamos e tateamos a vontade, tateamos peitos, bumbuns, pe... quer dizer, rostos, peles, cabelos, enfim; a fim de explorar nosso sentimentos perdidos... E num segundo momento gritamos a vontade o que vinha na cabeça, num processo Artaudiano, mas só para desopilar mesmo. Veremos no que isso vai dar daqui a duas semanas, já que semana que vem a Fiadeiros viaja para apresentar o 'Outra vez...' em algum lugar aí, boa apresentação para eles.