Preencha as lacunas

16/04/09 - Sobe o pano. Tívemos três tópicos de trabalho ontem:

- Brincar com a dramaturgia

- Discutir Stan

- Experimentar a posição e o relacionamento do Diretor x Ator

Quanto à dramaturgia, tivémos um texto assim para compeltar:

Título:__________

A - Oi, a quanto tempo não te vejo... como tens passado?

B - Eu vou muito __________

A - Nossa, o que foi que aconteceu? Você __________

B - Exatamente. Eu nunca pensei que isso um dia fosse acontecer comigo, mas __________

A - O que você vai fazer agora?

B - Eu já decidi... vou agora mesmo lá e __________

A - Eu estou surpresa com tudo isso, não seria melhor ir lá e _________

B - Não, preciso fazer isso. Ai, olha que vem chegando _________

C - Oi gente, como vão? _________ o que aconteceu com teu _________?

B - Isso é o que eu vou _________. Você já sabia, não era?

C - Na verdade, eu desconfiava, mas _________. Vou contar um segredo a vocês, eu ________ sempre foi assim.

A - Meu Deus, hoje é o dia das surpresas. Vamos eu vou dar uma coisa pra vocês. __________. Antes, que _________ chegue. Ninguém pode saber, viu!

C - _________. Eu não prometi nada. Ele está vindo... disfarça.

D - Eu quero saber o que está acontecendo aqui? _________ ai, eu não acredito que você fez isso... eu _________ agora não posso mais confiar em você. Eu já sei como vou me vingar... eu _________

E - Minha gente, vocês souberam o que aconteceu lá na _________ -, Ele estava lá, _________ ameaçando tirar a roupa de _________, um escândalo.

A - Essa eu quero ver. Vou _________. Quem sabe não sobra um pouquinho para mim também.

E - Adoro saber as fofocas da área. Vamos ver como essa história vai acabar.

C - Será que ________ vai fazer o que prometeu... Vamos lá.

FIM

Desse exercício eu tirei algumas conclusões como escritor.

Primeiro - sintonia, toda criação coletiva necessita da sintonia, e como nós tivemos que criar em cima do texto de um terceiro que não sintonizou conosco, o principal esforço foi no quesito de assimilar uma hipótese possível de suas idéias.

O texto é escorregadio, no começo ele dá margem a mil possibilidades, mas no fim com a entrada de certos personagens e algumas informações mais concretas ele te força a destruir o que já foi feito e adequar as novas informações ou promover reviravoltas dignas de comédia mexicana.

Num segundo momento discutimos um trecho do livro "A construção da personagem" do mestre Stan. Trecho que ele discute a relação exposição x exibição - e então o mestre nos lembra que expor-se é preciso para interpretar a vida de um papel, entretanto exibir-se é venenoso, até mesmo porque são coisas diferentes, expor é tirar a máscara, exibir é mostrá-la.

Também tratamos da delicada questão da repetição de nossos atributos e sentimentos em cena, da velha pergunta "Como não me repetir no palco?". Eu defendo que se houver o estudo e entrega necessários ao papel, não é preciso ficar se mudando por mudar. Mas tenho muito pouca experiência prática disso, o jeito é viver para testar.

Entrou na pauta da discussão algo que chamou minha atenção, disseram mais ou menos assim "tem atores que três dias depois do espetáculo contínua lá, arrebatado pela personagem. Cuidado, isso é pinta!" Deve ser mesmo. Acho tão interessante para o ator saber aflorar seus sentimentos quanto fechá-los, porque não é um jarro, o trabalho de ator é um delicado controle entre ambos. Então um ator que realmente, caso exista, se arrebate do sentimento da personagem dias depois da apresentação precisa trabalhar suas faculdades de controle, eu acho.

Thaty disse algo muito legal, falou que o ator precisa ter uma "Fase de desmanche" depois do mergulho para voltar a si. Gostei do termo.

Outra coisa levantada foi a questão da interpretação para novela. Bastante diferente da para teatro porque primeiro os atores não tem as personagens completas no início da trama, apenas o mote e algumas informações, isso ao passo que os torna mais vivos, já que realmente desconhecem o futuro na sua totalidade, também os torna em início clichês de si próprios pela falta de material.

Além, discutiu-se a questão de os atores de novela fazerem sempre si próprios. Talvez, é preciso ver as circunstâncias, as personagens das novelas, no âmbito de tempo espaço, socio-cultural variam muito, mas no âmbito emocional, o mais cobiçado pelos atores, são absurdamente repetitivos. A estética é sempre a mesma, a forma de filmar sempre a mesma, é difícil encontrar saídas, por isso tantas pessoas da classe atacam a teledramaturgia brasileira, porque é um formula que tem experimentado pouquíssimas reciclagens.

No último momento da aula fomos dividos em grupos para improvisar trechos de "Gota d'água" do mestre Chico Buarque de Hollanda. A idéia é experimentarmos as relações diretor x ator. Peguei a direção de Thaty e Thiago e estou muitíssimo feliz com meus atores. Dei tarefa de casa para eles e espero que eles façam e quarta veremos o que sai.

A relação diretor x ator é uma faca de dois gumes, pode ser extremamente prazerosa e pobre, pode ser prazerosa e riquíssima, pode ser traumatizante e pobre ou traumatizante e rica. No fim, tudo depende das pessoas. Meu conselho é que os atores não cheguem vazios, é mais negócio para qualquer diretor, até para os chatos que se acham donos do céu, da terra e da verdade trabalhar com algo que já está construído e é crível no ator que com a obtusidade.

Eu sempri vi o diretor como um olho, ele é quem pode ver para dizer o que funciona e o que não funciona. Isso não reduz o trabalho dele, como olho, ele é um visionário, ele é quem afina, é quem sintoniza todos os elementos do espetáculo - cenografia, luz, produção, atores e tudo o mais que for importante para o espetáculo.

E quando digo atores, não apenas os atores com outros elementos mas os atores uns com os outros. Ele é o responsável pela coerência e coesão do trabalho. Mas isso pode ser um trabalho de ouvir pouco e falar muito ou de ouvir muito e falar pouco. Depende da inteligência da figura.

Até hoje à noite, com professor Paulo, todos alongados, sim?

O objetivo do blog é discutir os temas relevantes à nossos estudos e a nossa arte. Já basta o título infame, o blog pode ser nobre. Não pretendo expor ninguém sem necessidade. Portanto pretendo deixar minha correspodência em paz na minha caixa de e-mail. Perdão.

Professor Tortsóv IV

Acabada a primeira rodada voltámos nós, eu Ju e Bi para o segundo tapa.

Primeiro achei que não faríamos, ou não faríamos todos, e essa semana tem sido para mim o momento de aprender a confiar. Biaggio que está me ensinando. Mesmo ausente ele estava lá conosco, sempre esteve. E mais importante de tudo, veio para fazer a cena.

Não ensaiamos uma única vez com ele a semana toda por motivos pessoais, teve o aniversário de minha mãe, Páscoa, a despedida de um amigo dele para Argentina, e aí vai. Não mentirei, até os 45 do segundo tempo achei que ele ia arriar. Mas não arriou, foi lá e fez a cena conosco. E foi assim que eu aprendi mais uma lição nesse longo aprendizado da confiança.

Essa semana em dupla, eu e Ju trabalhamos mais o aquescimento da cena, muito fácil, na verdade o grande desafio é o quanto de nosso calor, que é um fogo bruto e alto, podemos emprestar às personagens sem confundirmos com nós mesmos. E a improvisação, a execução da cena no improvável, no tapa, no terreno das coisas vivas e espontâneas em oposição às propostas pensadas em excesso.

Sozinho trabalhei a sonoplastia interna e adquiri uma habilidade que antes só conseguia com músicas - a de reter e ouvir um som com clareza na minha imaginação - e o enriquecimento da personagem, reforcei algumas camadas, dei mais um forro para ele novos recheios vieram me preencher em cena. Estudei mais o texto, encontrei novas informações que clarearam minha percepção emocional de Edmundo.

Uma coisa curiosa, que acho que nunca consegui fazer antes foi me preencher sozinho com um sentimento, através da minha imaginação. Antes da cena começar, eu tinha acabado de dar meu primeiro beijo em mamãe, num arrebatamento interior e logo após ouvira papai engatilhar o revólver, assim temi pela minha vida, tão próxima de tornar-se completa. Tudo isso enquanto Totinha morria para quase parir. Aos poucos os estímulos internos geraram um medo que apossou meu corpo, estava assustadíssimo e não no campo dos pensamentos, mas eu só me sentia assustado, na verdade eu nem sabia porque eu estava assustado, foi uma viagem muito louca.

Quanto à cena, teve mais vida mas não tenho grandes comentários, só fazer o que prof Tortsóv mandou:

- Rechear mais o começo da cena, esquentando mais o relacionamento de ambos, buscar mais nitidez e ao mesmo tempo mistura nas cores do amor de filho/mãe versus amor homem/mulher

- Trabalhar a projeção de voz, para a platéia nos entender, claro

- Deixar mais claro os motivos de nosso nervosismo, e separar o de cena do nosso

- Uma pizza de mussarela e um Guaraná Antartica para Beto Brandão

- Nos culmes não ter sequer tempo de respirar

- Trabalhar mais afundo as pausas

- Fixar meu diapasão

- Trabalhar nonô

- Concertar o balé

Algumas considerações sobre essas notas:

1) A pausa talvez tenha sido por um erro de texto no meio da cena, que teve que ser concertado na tora. Talvez, mas vou estudar para ver se não dou umas paradas sem sentido.

2) Meu diapasão, tenho percebido que faço isso, as vezes mudo uma oitava a minha voz quando deveria apenas modular. É importante a cor na voz, mas se eu não controlá-la, fica um negócio muito estranho, tenho mesmo que trabalhar isso para não ruir minha personagem.

3) O balé, foi uma cena muito improvisada, encontraremos o meio termo para a semana e creio que o balé diminuirá.

4) O Trabalho de Nonô é mais de Ju que meu. A culpa não é minha que ela é doidinha por mim e não consegue pensar em outro homem, mesmo quando precisa. Essa mamãe só quer saber do filho em cena. (brincadeirinha, dessas cheias de verdade, mas brincadeirinha).

E falando em trabalho na cena. Thiago e Paulinha deram show. Serei sincero, semana passada, dado os problemas com o texto, eu mal entendi a cena, as palavras estavam soltas, não construiram o sentido. Ontem pude entender e me emocionar, muito, com a cena. Fiquei triste com eles, pensei "coitados, que sorte cruel tiveram!" quis consolá-los, quis tirá-los dali, enfim, foi duas mil vezes melhor. Agora no começo. Houve uma queda nítida do meio para o final, principalmente pelos dois pontos que André Filho levantou: 1- uma carga dispersa, uma energia que ainda não tem um objetivo definido, ainda não tem um contorno bem torneado 2) um crescente.

Agora eles estão no caminho, eles demonstraram claramente que pensaram, que sabiam o que era necessário e são ótimos atores, e mais, são dois atores muito trabalhadores, irão encontrar o caminho para entregar no palco o que eles sabem que deve existir lá.

Vou ser mal agora, aquele beijinho... sei não, é como as lágrimas. Camilla falou um negócio interessantíssimo "Se Paula chora do começo ao fim da cena, e daí" é importante dar o valor que essas coisas tem, tanto o beijo quanto a lágrima não podem ser vulgares, devem vir dum fogo maior que a necessidade mostrá-los em cena.

Entretanto destaque para a entrada de Thiago, me arrepiou a energia e concentração com que ele entrou em cena.

Por fim mas não menos interessante Felipe e Marquinhos em "dois perdidos numa noite suja". Muito pelo contrário, interessantíssima a troca de personagens. Eu discordo de André, acho que a cena perdeu um pouco com a troca, Felipe me surpreende em cena, a entrega dele é ótima. Mas dessa vez acho que houve menos momentos de luz que da última vez, é um trabalho delicado do qual não posso falar muito porque é pessoal, mas levo fé neles.

Também era bom um pouco mais de direção, para evitar o balé no palco, mas só isso também.

Enfim, esperar semana que vem ou a próxima para assistirmos a última rodada, estou ansioso.

Professor Tortsóv III

14/04/09 - Sobe o pano seis e meia em ponto que Professor André não tem tempo a perder. Nem nós, nem nós. O ideal era cumprirmos a segunda rodada de apresentações naquela terça. E para os que não fizeram nem a primeira, fazer duas no mesmo dia. Era a idéia.

Não deu, o tempo é cruel demais com todos nós. Começamos novamente naquele silêncio aterrador do "quem vai primeiro?" André resolveu isso com alguma facilidade, olhou nos olhos de Thaísa e perguntou "tu já foi?" ela "não", "então pode ir". E tudo foi resolvido.

Ela e Evilásio representaram "um bonde chamado desejo" filme que foi visto pelos alunos umas semanas atrás, inclusive Evilásio fez nada mais, nada menos que a personagem interpretada por Marlon Brando, ui. Destaque para manguinha da blusa dele, mui sexy.

Da cena o que me marcou - A naturalidade, um dos grandes problemas discutidos nos livros de mestre Torsóv é a atenção dispersa na platéia, veneno para o ator, que deve se concentrar na vida de seu personagem e isso foi um ponto positivo na apresentação deles, realmente não deram a mínima para nós, público, no bom sentido.

Fiquei de costas para Thaísa e quase não a vi, portanto nem sei direito. Agora quanto à Evilásio senti falta que ele terminasse a banana, pois ninguém guarda uma banana para se comer depois, o que foi aquilo? Nos bastidores ele me disse "Mas é que eu comecei a comê-la no tempo errado" e eu pensei "na vida não tem tempo certo de comer a banana" e faltou um pouco de raiva, houve uma discrepância pois Thaísa dizia "pare de gritar, fale baixo" e Evilásio não gritava nem falava alto; e não apenas em uma questão de volume, mas principalmente numa questão de energia. Evilásio é um excelente ator e imagino que ele resolverá isso com facilidade para a semana.

A segunda cena foi "Casa de Bonecas" Roberto Brandão e Ingrid (guil, depois põe teu sobrenome aqui que eu esqueci) . Enfim, Beto foi mamão e Ingrid fria e calculista, a vulgo modo. E isso já são quinhentos pois são verdadeiros opostos de suas personalidades.

Da cena deles vou junto com as anotações do professor Tortsóv - pelo texto era possível perceber que a personagem de Roberto estava muito mais agitada do que foi interpretada, e aí houve ruído. Detalhe para o jogo de pernas por debaixo da mesa, que ficou visível à platéia, os pezinhos comunicando o que os rostos de mármore das personagens forçavam por ocultar.

Faltou um pouco de troca de olhar. nossa cena: minha, de Biaggio e Ju, é quase que toda fundamentada na troca de olhar. Acho uma ajuda massa pois ao olhar para o rosto da outra personagem e tendo feito um estudo bacana a reação é quase espontânea, os atores devem ser como os sistemas solares e as galáxias. Não uma galáxia estática, mas dinâmica, onde de momento em momento os atores vão adquirindo o status de Sol atraindo os outros e depois trocam sendo atraídos, e esse movimento constante de atração e órbita cria a energia que preenche o palco.

Salvo isso a dicção, mas tenho para mim que para Beto e Guil falar com clareza será a tarefa mais fácil da semana.

A última cena da primeira rodada foi a de Thaty, Jailton e André, que também fizeram Casa de Bonecas. Nessa cena também vou junto com professor Tórtsov - logo no começo, se Jailton quer comê-la tem que ter mais tesão, muito mais, força Noronha que tu agarra ela. Quanto à Thaty, atenção no monocórdio. De todas as vezes que a vi subir no palco, poucas vezes a vi calibrar o timbre da voz, coisa importante para não termos sempre Thaty no palco. Destaque para o ponto em que ela se despede da personagem de André, para mim o momento de maior luz na cena, ficam desenhadas com clareza o desgosto em Jailton, e o flerte entre Thaty e André; agora o trabalho é levar essa luz para o resto da cena. Fiquei sabendo depois que André é um homem prestes à morte, isso pode ficar mais claro, o desenho do sentimento pode ser maior.

André tem que tomar cuidado com o desejo de falar com a platéia, hábito de certos tipos de montagem mas fora de contexto naquela cena, o peguei duas vezes morrendo de vontade de segredar sua vida para um dos espectadores.

E Thaty tem uma bomba em mãos, ela tem uma passagem fortíssima no fim da cena e correu dela com um fogo danado. O jeito é enfrentar minha filha. As coisas que você diz naquele momento da carta são a Pedra no Caminho de Drummond, você pode enfrentá-la e ser lembrada como a grande atriz que você é ou pode correr dela, como correu ontem, e nós nunca saberemos do que você é capaz.

Entretanto eles foram os únicos que foram pegos no momento transformação do nosso querido professor André 'Tortsóv'. Inveja geral na sala.

E falando nesse momento lembrei de duas coisas. Uma importantíssima para o ator - houve um problema com o texto na cena de André, Jailton e Thaty, levantaram na turma a questão da dificuldade de reter o texto.

Na "Criação de um papel" do Mestre Stanislavski, ele faz uma cena de Shakespeare sem deixar que os atores leiam o texto, usando das próprias palavras para atingir os objetivos da cena. E é aí que quero chegar. Um ator que esquece texto é um ator que não tem razão de ser na cena. Nenhuma personagem está lá somente para aparecer para o público. Muito pelo contrário, todos estão lá por um motivo e com um propósito - na verdade não apenas um, mas vários, que vão se sucedendo e substituindo na linha de ação - portanto um ator que não saiba o texto, mas entenda seu motivo de ser poderá tranquilamente dar andamento à cena. O texto, visto desse prisma frio, como coisas para falar no palco, é veneno para o ator. Mestre Stan sugere que devamos correr ao texto quado estivermos prontos para expressar a nuança de espírito na riqueza de nossas personagens. Não nos afobemos, por favor. E nunca, nunca, em cena aberta, olhemos para uma pessoa e digamos "Pára a cena. Era teu texto". A não ser que seja uma proposta, mal do mundo contemporâneo.

E ainda sobre isso, tive a oportunidade de ensaiar com Jailton para a cena de 'Anjo Negro' e sei o ator incrível que ele é. Não tenha medo meu filho, vai com tudo, você não precisa da aprovação de André nem do público, você precisa de coragem para continuar. Assim que você pegar esse tesão e ir até o fim todos irão te atirar flores na ribalta. Como no exercício do estuprador. Ali você até quis, por alguns segundos, recuar, mas não, foi até o fim e foi uma cena que jamais eu esquecerei.

Set Light ou Panelão

13/04/09 - Sobe o pano. A aula começou com o relatório da aula do dia 30/03, feito por Evilásio e muito aplaudido por Camilla Rios, que foi elogiada por sua performance na gaiola.

Sobre a gaiola da Camilla, ela destribuiu para mim, pelo menos, uma tradução do discurso chamado "wear sunscreen", de Mary Schmich, jornalista america para uma coluna que ela assina ou assinava na Nova Tribuna de Chicago que virou vídeo institucional de uma agência de propaganda dos gringos, caiu na Internet, no fantástico e tem circulado muito. Abaixo a minha versão preferida dele, a quem interessar possa.



Quanto a aula, começamos com uma breve discussão do filme "A Viagem do Capitão Tornado" para que Neemias nos passasse os principais pontos da commédia del'arte - Como a profissionalização do ator, a simbiose entre ator e personagem, os roteiros - chamados de Canobaccio e Suggeto, estruturas com largas possibilidades para os Lazzi - cacos, improvisações ou pintas.

Estou citando os termos em Italiano pois foi um forte da aula, esse e os exercícios de commédia del'arte citados pelo professor - como o arlequim que quebra uma estátua e para não ser repreendido pelo amo, assume seu lugar ou mesmo quebra um espelho e imita o amo para que ele não perceba. Há também o exercício do doutor, em que outro ator assume o controle de suas mãos e o clássico exercício do Pantaleão - andar como se guardasse dinheiro do cofrinho.

Existem algumas coisas que chamam minha atenção na Commédia - o teatro de entreterimento ponto. Hoje existe isso muito mais forte no cinema. Em Introdução ao teatro, Evânia pega com força no ponto da relevância socio-cultural do que estamos fazendo. Talvez essa reflexão excessiva de nossa importância em nosso contexto seja um pouco paralisante para o fazer teatral, talvez devêssemos fazer com naturalidade e ver, com entrega, onde nosso fazer nos leva. Assim, naturalmente as visões mais importantes no âmbito social teriam destaque, mas mesmo assim todo o fazer teatral teria sua importância pois foi feito com verdade; muito diferente da afetação e pedantismo ao qual estamos habituados.

Os temas importantes saltam aos nossos olhos - aquescimento global, crise do petróleo, tráfico de drogas. Mas só porque o lemos no jornal talvez não devessemos pular para fazê-los no palco. Talvez pudéssemos entender que não temos conhecimento ou exposição o suficiente do assunto para tratá-lo com a sensibilidade de um artista.

E esse talvez seja um mérito da commédia - eles admitem as próprias limitações e fazem algo frívolo do ponto de vista socio cultural. Imaginam quantas descobertas importantes no Renascimento, e na própria Itália! E mesmo assim os artistas estavam preocupados em divertir. Hoje o contexto é outro, é verdade. Há o cinema, o teatro de uma maioria Recifense é assaz banal e mesmo na sua banalidade é carente de qualidade.

Tivemos um intervalo que quase durou o tempo certo e não tivémos a gaiola por carência de elenco. Azar. No segundo bloco fomos para a França e para a Inglaterra, ainda que por alto.

Para o grande expoente francês - Molière - e o inglês - Shakespeare - São areia demais para uma hora e pouco de aula. Mas o professor foi gentil em pintar o contexto em que eles surgiram. Desconhecia, por exemplo, o rigor acadêmico que ia se firmando na frança e agora entendo melhor a crítica de Molière. Falando nele, lembrei de André Garrel, que bebe da fonte e faz críticas seríssimas e contextualizadas no meio da bufonaria de sua comédia.

Sobre Shakespeare é a segunda vez que Neemias toca no ponto do absurdo ou da inesistência de seu teatro. Quanto ao absurdo, pensei em transpor isso para nossa realidade, com curupiras aconselhando presidentes a reiventar o assistencialismo ou coisa parecida. Quanto a inesistência, afinal, quem garante a morte de Elvis, não é mesmo?

Ingrid levantou uma coisa curiosíssima - perguntou a visão do professor sobre o panorama do teatro europeu e brasileiro como um todo nos dias atuais. O professor disse que aos seus olhos estávamos dividos ainda na experimentação, no contemporâneo e nos que mantinham tradições. De uma forma geral isso é verdade. Mas eu, ainda um moleque, já me sinto pouco confortável com esse teatro dito "contemporâneo" já me inquieto com o excesso de proposta, com a falta de naturalidade, com um certo descaso para o público, de um novo eletismo vicioso. Queria ver um teatro mangue. Um teatro marginal. Recife, na sua posição cênica pouco profissional, é um local excelente para a reinvenção e destruição das idéias cult. Um dia ainda faço isso.

Porque é o seguinte - a partir do momento em que há o desconforto de uma classe ativa, é tempo de mudanças.

Outro ponto foi o mangá. E não venho o denfender como um fã, mas como um pensador de nossa história. Primeiro o mangá é um desenho com um público alvo diferente - adolescentes e adultos, principalmente - algo talvez novo para alguns, mas desenhos adultos são coisa bastante antiga. Por isso as histórias intrincadas e os valores diferenciados. Eles exploram o fantástico, o sexo e a violência porque são artigos de venda no mercado - se eles são culpados disso, hollywood também é. Outra - porque a estética do desenho animado seria inferior para a discussão da condição humana que qualquer outra? Existem verdadeiras obras de arte no quesito do mangá, como o Neon Gênesis Evangelion, que em 24 episódios mudou minha maneira de ver o mundo.

Além, é uma manifestação cultural antiga e importante no Japão, com a globalização e uma boa equipe de Marketing ganhou o mundo.

Outra coisa que lembrei nessa história de mangá é o cosplay, um teatro do público, baseado na imagem de todos no desenho, outra manifestação cênica que considero ainda inferior, pela falta de cuidado no trabalho dos atores, já que a estética fala mais que o conteúdo, mas importante para todo ator conhecer e analisar.

Houve mais, mas ficará para outro post.

Abraço a todos e boas apresentações hoje na aula de André.

Ahhh Eu aviso que Neemias não entendeu o lance BBB EST de ser! Ele não gostou da alusão, mas...enfim...continuemos aqui juntinhos...vivendo "confinados ao Teatro!"
Huahauhauhauhauhu!

Encorporemos então Stanilavsk...

Bem...Nouussaa!
Que bom que temos esse espaço afinal, assim podemos interpretar, escrever, dialogar, e viver intensamente essa turma e essa arte que formou uma combinação tão gostosa juntas!
Assim...digo a todos que sem alusão a prémios de milhões de reais, O BBB SESC ESCOLA DE TEATRO existe sim, para que interiorizemos ainda mais nossos vínculos tão bem formados desde o inicio de nosso conhecimento, já temos intimidade de quem passou um ano junto e a timidez e cautela de quem jamais machucaria um amigo.
Enfim...hj é terça e ferrou!!! Tem cena pra André...aiiiiiiiii e lá vamus nós!
Arrasem!!!!!!!!!!!
Abraços e bjus na alma!