Professor Tortsóv IV

Acabada a primeira rodada voltámos nós, eu Ju e Bi para o segundo tapa.

Primeiro achei que não faríamos, ou não faríamos todos, e essa semana tem sido para mim o momento de aprender a confiar. Biaggio que está me ensinando. Mesmo ausente ele estava lá conosco, sempre esteve. E mais importante de tudo, veio para fazer a cena.

Não ensaiamos uma única vez com ele a semana toda por motivos pessoais, teve o aniversário de minha mãe, Páscoa, a despedida de um amigo dele para Argentina, e aí vai. Não mentirei, até os 45 do segundo tempo achei que ele ia arriar. Mas não arriou, foi lá e fez a cena conosco. E foi assim que eu aprendi mais uma lição nesse longo aprendizado da confiança.

Essa semana em dupla, eu e Ju trabalhamos mais o aquescimento da cena, muito fácil, na verdade o grande desafio é o quanto de nosso calor, que é um fogo bruto e alto, podemos emprestar às personagens sem confundirmos com nós mesmos. E a improvisação, a execução da cena no improvável, no tapa, no terreno das coisas vivas e espontâneas em oposição às propostas pensadas em excesso.

Sozinho trabalhei a sonoplastia interna e adquiri uma habilidade que antes só conseguia com músicas - a de reter e ouvir um som com clareza na minha imaginação - e o enriquecimento da personagem, reforcei algumas camadas, dei mais um forro para ele novos recheios vieram me preencher em cena. Estudei mais o texto, encontrei novas informações que clarearam minha percepção emocional de Edmundo.

Uma coisa curiosa, que acho que nunca consegui fazer antes foi me preencher sozinho com um sentimento, através da minha imaginação. Antes da cena começar, eu tinha acabado de dar meu primeiro beijo em mamãe, num arrebatamento interior e logo após ouvira papai engatilhar o revólver, assim temi pela minha vida, tão próxima de tornar-se completa. Tudo isso enquanto Totinha morria para quase parir. Aos poucos os estímulos internos geraram um medo que apossou meu corpo, estava assustadíssimo e não no campo dos pensamentos, mas eu só me sentia assustado, na verdade eu nem sabia porque eu estava assustado, foi uma viagem muito louca.

Quanto à cena, teve mais vida mas não tenho grandes comentários, só fazer o que prof Tortsóv mandou:

- Rechear mais o começo da cena, esquentando mais o relacionamento de ambos, buscar mais nitidez e ao mesmo tempo mistura nas cores do amor de filho/mãe versus amor homem/mulher

- Trabalhar a projeção de voz, para a platéia nos entender, claro

- Deixar mais claro os motivos de nosso nervosismo, e separar o de cena do nosso

- Uma pizza de mussarela e um Guaraná Antartica para Beto Brandão

- Nos culmes não ter sequer tempo de respirar

- Trabalhar mais afundo as pausas

- Fixar meu diapasão

- Trabalhar nonô

- Concertar o balé

Algumas considerações sobre essas notas:

1) A pausa talvez tenha sido por um erro de texto no meio da cena, que teve que ser concertado na tora. Talvez, mas vou estudar para ver se não dou umas paradas sem sentido.

2) Meu diapasão, tenho percebido que faço isso, as vezes mudo uma oitava a minha voz quando deveria apenas modular. É importante a cor na voz, mas se eu não controlá-la, fica um negócio muito estranho, tenho mesmo que trabalhar isso para não ruir minha personagem.

3) O balé, foi uma cena muito improvisada, encontraremos o meio termo para a semana e creio que o balé diminuirá.

4) O Trabalho de Nonô é mais de Ju que meu. A culpa não é minha que ela é doidinha por mim e não consegue pensar em outro homem, mesmo quando precisa. Essa mamãe só quer saber do filho em cena. (brincadeirinha, dessas cheias de verdade, mas brincadeirinha).

E falando em trabalho na cena. Thiago e Paulinha deram show. Serei sincero, semana passada, dado os problemas com o texto, eu mal entendi a cena, as palavras estavam soltas, não construiram o sentido. Ontem pude entender e me emocionar, muito, com a cena. Fiquei triste com eles, pensei "coitados, que sorte cruel tiveram!" quis consolá-los, quis tirá-los dali, enfim, foi duas mil vezes melhor. Agora no começo. Houve uma queda nítida do meio para o final, principalmente pelos dois pontos que André Filho levantou: 1- uma carga dispersa, uma energia que ainda não tem um objetivo definido, ainda não tem um contorno bem torneado 2) um crescente.

Agora eles estão no caminho, eles demonstraram claramente que pensaram, que sabiam o que era necessário e são ótimos atores, e mais, são dois atores muito trabalhadores, irão encontrar o caminho para entregar no palco o que eles sabem que deve existir lá.

Vou ser mal agora, aquele beijinho... sei não, é como as lágrimas. Camilla falou um negócio interessantíssimo "Se Paula chora do começo ao fim da cena, e daí" é importante dar o valor que essas coisas tem, tanto o beijo quanto a lágrima não podem ser vulgares, devem vir dum fogo maior que a necessidade mostrá-los em cena.

Entretanto destaque para a entrada de Thiago, me arrepiou a energia e concentração com que ele entrou em cena.

Por fim mas não menos interessante Felipe e Marquinhos em "dois perdidos numa noite suja". Muito pelo contrário, interessantíssima a troca de personagens. Eu discordo de André, acho que a cena perdeu um pouco com a troca, Felipe me surpreende em cena, a entrega dele é ótima. Mas dessa vez acho que houve menos momentos de luz que da última vez, é um trabalho delicado do qual não posso falar muito porque é pessoal, mas levo fé neles.

Também era bom um pouco mais de direção, para evitar o balé no palco, mas só isso também.

Enfim, esperar semana que vem ou a próxima para assistirmos a última rodada, estou ansioso.

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