dança contemporânea

21/05/09 - Sobe o pano no Apolo, o espetáculo é 'por um fio em lã', solo de dança com Juan Guimarães. O espetáculo foi concebido para trabalhar com o tema do aborto, agora achei que ele procura abstrair bem a temática da qual trata, há quem discorde, mas para mim foi abstrato.

Há vários jogos interessantes com fios, como metafora a linha da vida, há uma cena no final que remete à crianças, talvez no final o espetáculo entregue mesmo um pouco o jogo. Achei o dançarino bom, verdadeiro, depois,voltando para casa no mesmo ônibus que ele ouvi ele dizendo sobre entradas erradas e alguns improvisos e pensei o seguinte:

Engraçado como é ser público, no teatro já sou menos iludido, já fico mais crítico, mas na dança ainda sou bastante inocente e por várias vezes me ponho aberto para o que vem, seja o que for. Na verdade, fico triste pelas vezes que fico analisando peças, digo para mim mesmo "pára e assiste, Diogo, deixa de ser chato, ninguém merece" é verdade.

Interessante mesmo foi o debate depois, mediado por Sérgio Reis, figura muito interessante da qual falo depois. Foi uma grande rasgação de ceda; o interessante disso é a função social deste debate oferecido pelo Sesc depois do espetáculo.

Não defendo que ele seja exclusivo para a classe, de forma alguma, entretanto penso o seguinte - é um debate, um momento para trocar idéias e conhecer sobre o processo dos artistas, não é a hora dos agradecimentos, rosas e afins. Sei que não curarei esse mal com uma crônica, mas parafraseando os gestores do Sesc "deixo aqui registrado..."

Outro ponto engraçado é o que é dança e o que é dança contemporânea, isso porque 'por um fio em lã' diz ser dança, mas é montado com várias intenções do que seria 'dança contemporânea', mas não me aprofundar no assunto, não vale a pena.

Ah, foi isso, acabou esse relatório.

Crueldade

19/05/09 - Sobe o pano, dia da crueldade. Chegamos todos por volta das cinco horas, mas com o nervosismo, põe lona, prepara as bugigangas - e tivemos de tudo, pedaços de carne, uma verdadeira aquarela de tintas guache, carvão, incenso, máscaras, um pedaço de pau para Dolores, uma bacia, tesoura, merda, lanternas, sonoplastia, carvão... Enfim muitas coisas, fomos começar pelas sete da noite.

Primeiro foram Paulinha, Vila e Beto apresentando "Prostituta Respetitosa", de Sartre . Muito bacana, nos colocaram todos pra dentro pelos braços, Mauro (uma vez contra-regra, sempre contra-regra) fez o trenzinho na luz junto à Tiago na sonoplastia enquanto o trio repetia freneticamente frases soltas; as luzes se apagam e Evilásio aparece completamente sujo grudado na parede, como um desesperado; as luzes se apagam, eles nos tiram enquanto procuram por um ministro, um senador, algo assim; as luzes se apagam, Roberto estupra Paula no escuro; as luzes se apagam, Roberto é tingido de todas as cores (teoricamente, na verdade ele foi pintado de verde, como o incrível Hulk, fazer o quê). Fim.

A discussão proposta pelo grupo era sobre o racismo e as verdadeiras cores do ser humanos, achei muito bacana.

Depois fomos nós, eu, Thaísa e Felipe, nervosíssimos. Fomos fazer Édipo Rei. Deitamos todos, tentamos os importunar com a praga que dizimava Tebas, os sentamos e inquirimos, como Édipo, quem havia matado o rei, Tirésias surge e revela a verdade, todos se levantam e acusam Édipo até que ele se cegue.

Tentamos muita coisa e não deu certo quase nada, mas valeu a experiência. Queríamos levar o público, no primeiro momento, á um nível de desespero que o fizesse querer sair dali sem poder, queríamos assutar, fomos ridículos. Azar. Depois, não percebemos que manipular dezessete pessoas leva tempo demais.

O engraçado foram os feedbacks contrastantes. Alguns viajaram bastante, outros não. Enfim, cada um fez seu próprio espetáculo, dessa perspectiva foi válido.

Logo em seguida Tiago, fazendo "Marat Sade", de Peter Weiss, foi estranho, faltou acreditar no que se está fazendo. Mais importante que processo, nota, aluno, professor, cachorro ,gato, dar cambalhota, agradar, não agradar, é acreditar no que se está fazendo. E encontrar isso é a busca de uma vida.

A partir daí a ordem se perde em minha mente, mas acho que depois foram Biaggio e Camilla, com a "Obscena Senhora D.", de Hilda Hilst, a tal. Muito impressionante, entramos todos com Biaggio cheio de fita adesiva falando coisas estranhas e nos posicionando enquanto Camilla dançava loucamente em cima da mesa. Depois descobri que ela estava derrubando o convencionalismo da mesa posta, antes disso pensei que ela era uma striper mesmo. Muito bacana o texto e a maneira como eles brincaram com ele. Adorei a cena em que eles devoravam a carne. Não tem mais muito o que dizer, essas coisas são o que são e são muito válidas assim.

Depois Ju, Thaty e Guil em Álbum de Família. Aplauso para Ingrid, eu sei que as meninas se descabelaram para fazer a cena delas e foi muito bacana, o destaque de Ingrid foi como ela conseguiu contornar a neurose de Ju com as escapadinhas e enroladinhas de Thaty. A cena ficou muito bacana, com elas fugindo de medo da irmã no meio da noite, com malhas super finas, ui ui. Deram beijinhos na plateia, Noronha e Geraldo, para ser mais preciso.

Elas ficaram agoniadas porque não saiu "Artaud" mas no seu consolo eu argumento que a única pessoa que poderia fazer "Artaud" era Artaud, e nem ele se fez, portanto não sofram.

Depois... depois, quem foi mesmo hien? Acho que foi André Garrel e João Lobo, definitivamente a grande revelação da noite. João atuou de uma forma que surpreendeu a todos além dos limites do explicável, no mesmo Marat Sade, inclusive houve o primeiro nu do curso, com João tirando a roupa e entrando na bacia para ficar muito, muito doido. André estava na mesma onda, muito impressionante e saiu ameaçando a todos com uma tesoura para finalmente picotar o cabelo de João, numa paródia de Zé Celso, em "Para por um fim no juízo de Deus".

A penúltima foi DJ Dolores com Geraldo, novamente não foi Artaud, mas foi incrível. Geraldo colocou bosta para cheirar, mas só funcionou para quem estava em linha reta, quem estava nos lados não sentiu o cheiro, tanto melhor ou tanto pior, acho. Dolores se destacou, voz, energia, tudo, muito, muito bom vê-la em cena. Ah, sim, não sei qual foi o texto, depois descubro e corrijo.

Por fim Marquinhos, Noronha e Bianca em outro texto que não lembro. Muito interessante, foi uma cena tapa, Marquinhos, o pai de Bianca e Jailton saia, Noronha estuprava a irmã, o pai chegava, via a filha morta e estuprada e matava o filho. Muito forte, muito rápido. André criticou a dramaturgia.

Deixa eu falar meus pareceres sobre essa história de dramaturgia. Eu entendo perfeitamente que André nos direcione para textos seguros, isso porque somos principiantes e é melhor não arriscarmos em coisas ruins, já que temos interesse e potencial, porém é preciso ver a verdade de cada texto. O ideal é encontrar uma literatura respaldada que nos fale, mas se encontrarmos a verdade em coisas mas simples, também acho que não a devamos ignorar.

No geral, minha visão sobre o trabalho de Artaud foi - Uma liberdade muito maior e menos noiática sobre o ofício de atuar, não tem a ver com menos esforço, e sim com mais liberdade. A grande busca dum processo que vibre seu corpo todo, desde o dedo mindinho até o último fio de cabelo e a grande concessão poetica no palco, necessária a tornar nossa arte mágica.

Morgou

12/05/09 - Não teve aula, a fiandeiros foi apresentar. Evânia daria aula para apresentarmos a quarta etapa do trabalho com diretores. Mas ela não pode por motivos pessoais e morgou.

A dona da história

20/05/09 - Sobe o pano no Teatro Capiba. Evânia estava fazendo mais uma etapa do estudo dos diretores mas eu não atuei nem dirigi, sequer sei que texto foi que elas fizeram, depois corrijo. Eu fui assistir "A dona da história", texto de João Falcão dirido por Thom Galiano com Raphaela de Paula e Cátia Cardoso no elenco.

Eles se chamam 'Trupo Errante' e 'Pé Nu Palco', é o povo de Petrolina. Bem, antes de rasgar a ceda, algumas explicações.

Morei em Petrolina de janeiro de 2004 a julho 2007, dos quatorze aos dezessete, minha formação como homem começou lá, no sertão de pernambuco, terra de uva, de manga, de são francisco, de carranca, do colégio dom bosco, da igreja da matriz, do monumento da besteira, de juazeiro da bahia, da easycomp informática, da orla, da ponte, das ilhas, do samba de velho, dos matingueiros, do river shopping e também do sesc Petrolina, onde o bicho do teatro me mordeu.

Thom Galiano foi meu professor e é um dos encenadores mais inteligentes que já vi. Tudo isso se confirma no espetáculo, que conta a história dessa mulher que fica voltando para seu eu do passado mudar as coisas e melhorar seu presente; ou o seu eu do presente ouvir o seu eu do futuro e mudar as coisas para melhorar. Enfim é uma confusão, sempre é, João Falcão pega o crédito por isso.

Rapha e Cátia são realmente muito parecidas e estão maravilhosas, no debate após o espetáculo, mediado por Leidson Ferraz foi lembrado que na montagem original era usado um aparato enorme e complicado para fazer os efeitos de trangressão cronológica sugeridos pelo texto e aí entra a genialidade de Thom - com duas atrizes, dois pares de all-star, um violão e um degrau ele faz o trabalho de não sei quantos canhões de luz, esteiras, fundos falsos e afins.

Estamos estudando, ainda que por alto, o teatro pobre de Grotowski e não apenas esse, mas os outros trabalhos que conheço de Thom, como "pararupara", "Fatias de um defunto", "eu chovo, tu choves, eles chovem..." já me mostraram como um teatro pobre é imensamente mais rico que qualquer mecanismo que se traz ao palco.

Outra coisa que pensei ao assistir é como precisamos dissociar a conceito de ator de qualidade de atores globais, duas ilustres desconhecidas do interior de pernambuco, por uma hora e meia fizeram a mim e a platéia ir do riso ao choro e de volta ao riso como uma mágica inexplicável. Assim como o espetáculo de Januzelli, "o porco", ou o espetáculo de conclusão de uma turma da federal de brasília "Adubo ou a sutil arte de escoar pelo ralo" ambos trazido ano passado pelo palco, mostra que assim como existe um "cinema de arte" existe o "teatro de arte". É um termo feio, sei, mas ilustra bem a questão.

E com isso um puxão de orelha para a produtora de João Falcão, que limitou o número de apresentações por querer produzir o texto com "atrizes globais" ao invés de investir no que está aí, bem feito e pronto para ganhar a visibilidade que merece, que vergonha.

A Nau Naufragada

18/05/09 - Sobe o pano. O espetáculo "Viva a Nau Catarineta" do GRUDAGE, que estava pautado pelo palco giratório para o dia seguinte passaria essa segunda no Sesc de Piedade para fazer uma visita aos alunos da escola Sesc. Claro, ninguém lembrou que é maio, que semana passada choveu quase todo dia, o espetáculo é teatro de rua e o sesc não tem estrutura coberta para teatro de rua.

Enfim choveu. A turma do GRUDAGE ficou lá embaixo tirando um som e nós tivemos que ter aula. A pegadinha é que prof. Neemias preparou a aula imaginando a hora, hora e meia que perderíamos assistindo o espetáculo e convesando sobre ele. Enfim, foi uma aula mais devagar...

Nós fizemos a avaliação do andamento das aulas responde as seguintes perguntas:

1 - Como estou escrevendo minha história no teatro?

2 - Como estou sendo orientado para isso?

Depois trocamos e fomos lendo uns as dos outros em voz alta. Engraçado como cada um se olha. Ouve muita rasgação de ceda para o lado do professor Neemias, que acho meio sem por quê. Neemias é barbado e ele sabe a qualidade do que faz.

Foi engraçado ver como há os humildes, que admitem com a tristeza dos desiludidos que não escreveram história nenhuma, há os que saem contando os títulos, há os metafísicos, que buscam refletir o que realmente ficou das coisas feitas e há os loucos.

Ver isso me deixou profunda uma marca do perfil da nossa turma, que é uma turma jovem, muito crua de teatro ainda, e extremamente ambiciosa, é curioso ver como todos se punem por não estarem em palcos dando o sangue, como há um clima de frustração por estarem juntos tantos atores a procura de um espetáculo (pirandello); pensei agora que esse povo precisa é gozar mesmo.

Nisso lembro uma coisa importante que Neemias vive dizendo - usem esse espaço para experimentar, para aprender praticando coisas ao invés de ficar louco com milhões de coisas.

Inclusive eu, quando começei a reponder as perguntas quis ser o "esperto que sabia o que era história" e ia mostrar minha história pelos registros que tenho dela, as mensalidades do curso, os programas das peças que já atuei, os certificados dos cursos que fiz e com isso tudo só ia mostrar o metido que sou.

Fiz diferente, e aí é a prova da interferencia de titio Neemias, em vez de sair contando documentos olhei com olhar crítico as coisas que já fiz e vi que estive desesperado, querendo fazer, fazer, fazer para acertar.

De repente agora na escola Sesc estou aprendendo a fazer pela necessidade artística, fazer não por fazer, mas fazer porque é necessário. A necessidade é crucial para qualquer ator.

E com isso também estou aprendendo a me livrar das coisas desnecessárias, mas aos poucos, que sou muito egoísta ainda.

Imagens que não explodiram

14/05/09 - Dia de ir ver Imagens não explodidas no Apolo, não pude, sorry.