A dona da história

20/05/09 - Sobe o pano no Teatro Capiba. Evânia estava fazendo mais uma etapa do estudo dos diretores mas eu não atuei nem dirigi, sequer sei que texto foi que elas fizeram, depois corrijo. Eu fui assistir "A dona da história", texto de João Falcão dirido por Thom Galiano com Raphaela de Paula e Cátia Cardoso no elenco.

Eles se chamam 'Trupo Errante' e 'Pé Nu Palco', é o povo de Petrolina. Bem, antes de rasgar a ceda, algumas explicações.

Morei em Petrolina de janeiro de 2004 a julho 2007, dos quatorze aos dezessete, minha formação como homem começou lá, no sertão de pernambuco, terra de uva, de manga, de são francisco, de carranca, do colégio dom bosco, da igreja da matriz, do monumento da besteira, de juazeiro da bahia, da easycomp informática, da orla, da ponte, das ilhas, do samba de velho, dos matingueiros, do river shopping e também do sesc Petrolina, onde o bicho do teatro me mordeu.

Thom Galiano foi meu professor e é um dos encenadores mais inteligentes que já vi. Tudo isso se confirma no espetáculo, que conta a história dessa mulher que fica voltando para seu eu do passado mudar as coisas e melhorar seu presente; ou o seu eu do presente ouvir o seu eu do futuro e mudar as coisas para melhorar. Enfim é uma confusão, sempre é, João Falcão pega o crédito por isso.

Rapha e Cátia são realmente muito parecidas e estão maravilhosas, no debate após o espetáculo, mediado por Leidson Ferraz foi lembrado que na montagem original era usado um aparato enorme e complicado para fazer os efeitos de trangressão cronológica sugeridos pelo texto e aí entra a genialidade de Thom - com duas atrizes, dois pares de all-star, um violão e um degrau ele faz o trabalho de não sei quantos canhões de luz, esteiras, fundos falsos e afins.

Estamos estudando, ainda que por alto, o teatro pobre de Grotowski e não apenas esse, mas os outros trabalhos que conheço de Thom, como "pararupara", "Fatias de um defunto", "eu chovo, tu choves, eles chovem..." já me mostraram como um teatro pobre é imensamente mais rico que qualquer mecanismo que se traz ao palco.

Outra coisa que pensei ao assistir é como precisamos dissociar a conceito de ator de qualidade de atores globais, duas ilustres desconhecidas do interior de pernambuco, por uma hora e meia fizeram a mim e a platéia ir do riso ao choro e de volta ao riso como uma mágica inexplicável. Assim como o espetáculo de Januzelli, "o porco", ou o espetáculo de conclusão de uma turma da federal de brasília "Adubo ou a sutil arte de escoar pelo ralo" ambos trazido ano passado pelo palco, mostra que assim como existe um "cinema de arte" existe o "teatro de arte". É um termo feio, sei, mas ilustra bem a questão.

E com isso um puxão de orelha para a produtora de João Falcão, que limitou o número de apresentações por querer produzir o texto com "atrizes globais" ao invés de investir no que está aí, bem feito e pronto para ganhar a visibilidade que merece, que vergonha.

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