Sobe o Pano. Finalmente

07/07/09 - Sobe o pano. Dia de ensaio geral e apresentação de fim de módulo/período/cadeira/ o que for. Eu mesmo subi meu pano às dez da manhã quando fui no Sesc pegar a curtina para usarmos de coxia. Para outros subiu à meio dia e meia para pôr cortina, passar a cena, rever o texto. Para André Filho subiu lá pras duas horas da tarde. Para outros subiu as dez pras seis...

Enfim, num dado momento o pano sube para todos. Depois de posta cortina foi um sem nada pra fazer danado. Ainda tentamos ensaiar Mauro, Thaysa e eu, mas não deu muito certo. Foi bom para Mauro aprender a me espancar, mas não dei muito certo. Enquanto isso na sala de justiça Biagio e Camilla ensaiavam 'A obscena senhora D' com André pela primeira vez. Entre quatro e cinco da tarde começamos o primeiro ensaio gerla a fim de orientar os contra-regras, e mesmo para um negocinho simples como nosso é necessário um serviço horrendo de contra-regragem. Arruma cena, arruma luz, desarruma a cena, desarruma a luz. Oito vezes no total. No meio disso chegam Dolores e Geraldo para ensaiar, também pela primeira vez com André, Roberto Zucco.

Seis da tarde. Todos muito nervosos começamos o verdadeiro ensaio geral - para mim, em particular, horrível - Ainda não muito afinado com Mauro na cena de 'Navalha na carne' com dificuldades nos figurinos e objetos de cena. Com Biagio completamente ausente de 'Álbum de Família' porque voltou todas as forças para 'A obcena Senhora D'. Eu entendo que ele só foi pensar na 'Senhora D' ontem, mas fiquei triste por ele ter meio que escanteado 'Álbum' de seus pensamentos.

Mas existe um ditato milagroso que prega uma excelente estréia para um péssimo ensaio geral. Ditato que contraria todas as leis da lógica e encontra seu fundamento em uma da psicológia - Quando o esnaio geral é uma merda, o ator se conscientiza e dá o dobro na estréia. Talvez seja. Só talvez. Talvez seja uma dessas forças misteriosas do teatro, só talvez.

O que sei é que a apresentação foi mil vezes melhor que o ensaio geral. Em Álbum houve uns tropeções de texto e uns probleminhas de marca, mas no geral a cena foi muito boa. E em Navalha eu me surpreendi em como tudo funcionou e se afinou na cena. Realmente mágico.

Senti muito por não poder ver o trabalho dos outros grupos, coisa que queria muito.

Agora deixo no blog minha proposta - Deveríamos montar uma temporada chama 'pout-porri' com essa esquetes, e passar dois, três meses do segundo semestre apresentando, é uma experiência de palco e temporada importantíssima para todos os alunos da escola SESC; é uma maneira de nos mantermos unidos e nos experimentarmos mais afundo com grupo e é uma forma de termos consciência do contato com o público. Fica a sugestão.

Muita merda.

Memorial

06/07/09 - Sobe o pano para a última aula de Neemias Dinarte Produções. Primeiro enrolamos muito para começar, já que o grupo de realismo/naturalismo e seu reflexos nos dias de hoje terminou o trabalho meia hora depois que a aula começou.

Começamos eu, Felipe e Vila com teatro grego e reflexos na realidade. Foi bem, muito ruim mesmo. Nós fizemos realmente a pesquisa e realmente discutimos, mas não nos organizamos de forma a nos articular para a turma de forma convencinte. No final foi feito nas coxas e foi. Morreu esse boi.

Como disse na aula e deixo registrada aqui a reflexão - Desde a grécia, onde houve a institucionalização do teatro, até os dias de hoje, quase são se tem fontes para a produção do teatro que se não o governo. Ainda hoje, quer fazer uma produção que não cara, qual a solução? Caixa, Petrobrás, Funcultra e por aí vai... Apesar de uma certa autonomia de instituições como a Caixa e a Petrobrás, por exemplo, de uma certa forma elas sempre serão 'estatais'. Enfim, ainda são limitadas as fontes para produção teatral, de uma certa forma, o teatro, ainda hoje, três mil e poucos anos depois ainda é, principalmente em Recife, donde vos falo, 'estatal'.

Depois o pessoal do Renascimento não estava pronto, o do realismo não tinha chegado, foi o pessoal mais maluco 'do experimentalismo à destruição das formas' que veio com a seguinte tese - experimentalismo representa uma atitude artística, e não um movimento propriamente dito. Daí mostraram como os caras que andamos estudando com Andre - Stan, Artaud e Grotowski - foram 'experimentais', so sentido que experimental é quem ao entrar em contato profundo com uma linguagem vigente, proponha mudanças na mesma a fim de procurar novos códigos e significantes desses códigos (abri o dicionário de semiótica hoje).

Enfim, quanto à destruição das formas Biagio buscou um livro chamado "O teatro pós-dramático" onde se elabora que há uma tendência para um teatro que destrói a dramaturgia, que privilegia o acontecimento teatral por si.

Eu tava pensando e cheguei a conclusão que esses exercícios de 'destruição da dramaturgia' ainda são ecos do que Artaud propunha, que Meyerhold propos antes dele, que é uma tendência que vem procurando se afirmar já há um século e pouco e muito importante para o teatro como arte - A referência do teatro no teatro - durante o estudo da história do teatro nós estumamos o teatro com referências na literatura principalmente (literatura dramatúrgica) arquitetura, artes plástica (a tão falada perspectiva, no Renascimento) e assim como todas as artes, o fenômeno cênico é uma composição de outros fenômenos, mas é importante afirmar que a arte plástica para o teatro não é um uso de outra expressão plástica, a arte plástica para teatro é arte plástica para teatro. Fim. Para que no todo da composição a referência do teatro seja o teatro, uma espécia de afirmação do alicerce da arte.

Agora pensar nisso me faz pensar em milhões de outras coisas - Legal a iniciativa, mas o que o público, o pobre coitado do público, tem a ver com isso? E nisso eu tenho minhas reservas com essa história de destruição da dramaturgia. Não digo que é impossível, que é errado, nada disso. Digo o mesmo que disse em sala 'experimentar é pôr linguagens distintas em diálogo, não é dar pinta'.

Depois foi o pessoal do Renascimento. Destaque fulminante para a performance de Noronha como seminarista (?) Engraçado, em controle do público, chic. Uma das coisas mais legais que eles trouxeram como legado do movimento renascentista foi a quebra do vínculo divino, foi trazer o teatro para questões humanas. Bacana.

Por fim o Realismo e no realismo chegamos de novo, mas sem surpresas, nas novelas. Esses meses de aula com Neemias foi uma verdadeira reflexão sobre a teledramaturgia brasileira. Vou pular esse tópico, deixá-lo para outra ocasião, chamarei a crônica de "Teledramaturgia Brasileira".

No fim de tudo houve a entrega dos memoriais, destaque para o desenho de Vila, o vaso de Geraldo, a máscara de Paulinha (linda), a brincadeira 'algumas verdades', de Camilla, que nos fez rir muito. O vídeo de Ju com fotos nossas e embaladas por Osvaldo Montenegro, Xuxa e Toquinho - Detalhe, nas fotos embaladas por Osvaldo, se tem a impressão que estamos mortos (!). Por fim a grande atração da noite foi o vídeo de Mauro, com entrevistas de todos os alunos sobre o professor e as aulas. Hilário.

Fim. Muita merda.

Interface III

02/07/09 - Sobe o pano. Iríamos mostrar para Paulinho tudo que fizemos em relação à nossa interface, isso quer dizer, uma imagem de sete. Mostramos, professor nos ajudou no sentido de nos orientar para não sofrermos demais com os compassos, deixamos uma pessoa para marcá-los e nos dar as deixas enquanto podemos nos mover à vontade. Também trabalhamos e pensamos muito esse movimento com expressão. Dificílimo. O tempo vem correndo, vou começar a cortar tudo que não der certo.

Uma coisa que refleti que é muito interessante é como cada um pode participar do projeto. Na hora de definir e escolher as imagens, eu fiz o serviço praticamente sozinho e fiquei muito decepcionado por não ter sido algo feito por todos. Mas ontem, durante os ensaios, cada um foi dando sua pitada no trabalho, não é que não queriam participar, é a cada um cabe uma maneira própria de se envolver, eu preciso aprender isso.

Os ratos comeram os homens e morreram todos envenenados

01/07/09 - Sobe o pano. Ninguém sabia o que Evânia faria na aula. Agora todos sabem.

Primeiro ela vez alongamento, aquescimento com o pega gato e rato em duplas, o que rendeu muitas risadas e uma queda linda de Juju no chão.

Depois nos divulgou as notas... uiuiui... Bem, a maioria passou, mas quem não passou por nota tem que apresentar um seminário para a semana e quem não passou por falta tem que fazer a análise de dois espetáculos da cidade e trazer e entregar, quem não passou pelos dois faz os dois. Bonitinho, não é.

Num segundo momento lemos outro texto de Brecht, O Mendigo ou o Cão Morto, ou como Evânia batizou a partir de uma frase célebre do texto "os ratos comeram os homens e morreram todos envenenados" legal, não é?

O texto é muito bom, também me pegou, fiquei com vontade de interpretar. Trata de um rei que se depara com um mendingo cego e se depara com a própria cegueira intelectual. Faz você refletir sobre milhões de coisas, sobre o que é mais importante: a vitória de um rei ou o almoço de um faminto?

Nós lemos o texto e depois o matraca fez um ensaio do texto para a gente ver. Muito bacana o trabalho deles, dialogam principalmente, pela leitura que fiz, com a dialética e o teatro pobre. Todos muito gostosos de se ver em cena - Lele, Ju Garrafinha, Viva, Maurício e Catarina. Depois de o assistirmos começamos a conversar sobre o texto. Tivemos vários 'vran' no debate - começamos com a questão da cegueira do mendigo não estar pronta, queríamos saber se era proposta ou não foi feito ainda; não foi feito, mas será, a idéia é que ele seja cego - Depois partimos para a questão do humor no texto, do riso que te puxa metade da boca e te faz pensar "porra, tô rindo disso?" não porque é ruim, mas é porque é trágico, não deveria ser tão engraçado...

O texto tem reflexões muito boas, como a dos ratos, a de Napoleão - que não era um rei, mas um marinheiro de cabeça excepcionalmente grande... Enfim.

Depois eu puxei a discussão para o trabalho de ator. Como o texto é interpretado por vários atores nos mesmos papéis, puxei uma discussão sobre como esse rei seria o mesmo rei nas três personagens, mesmo que em momentos diferentes.

Não é bem uma solução, mas eu senti uma vontade estética de ver algo que relacionasse os reis. É claro que é o mesmo rei, mas são personagens diferentes do mesmo rei. Enfim, uma confusão. Claro, eles só tiveram dois ensaios, por isso que não houve a afinação da personagem do rei, com o tempo isso virá com naturalidade. Chatice minha mesmo.

Navalha na carne

30/06/09 - Último dia do mês, sobe o pano. Último dia de ensaio antes do ensaio geral próxima terça. Dia de Navalha na Carne, de Plínio Marcos, comigo, Mauro e Thaysa.

Mauro foi ótimo, pegando a responsabilidade que foi de Felipe e assumindo, no início teve um medo de me esbofetear mas depois pegou no tranco, tenho as aftas para provar.

André se apropriou das cenas fragmentadas para propor um ritual de jogo, como se houvessem interrupções e a cena fosse sendo arbitrada e substituída entre os jogadores. Ficou interessante. Talvez seja um distanciamento. Talvez...

Muito trabalho no quesito de intenção para mim, Thaysa e Mauro que, assim como foi comigo, Ju e Biaggio, ficamos indo e voltando no texto para acertar as marcas e dar o sangue da cor que a personagem necessita.

André mudou as marcações no sentido de tirar as sugestões poéticas que nós imprimimos no exprimento com teatro pobre, como o espelho ser o rosto da platéia, a cama que existe simplesmente de uma mudança de plano do ator e a navalha materializada na mão de Thaysa. Usaremos figurinos de verdade, navalha de verdade, espelho de verdade, o ritual ficou todo na troca; que também dialoga com o sistema coringa de Boal e enfim, alguém também deve ter feito isso antes, porque alguém sempre fez antes.

Thaysa saiu muito mal, se sentindo um lixo. Foi muito engraçado porque Ju também se saiu assim do ensaio de Álbum de Família, abaixo meus pensamentos sobre isso.

Primeiro, se estão pedindo de você, é porque você está dando, quando não pedirem, aí sim se preocupe, segundo, é preciso um acabamento, por isso se pede, por isso se cobra; ninguém é ruim ou bom, existe apenas a sua doação, e sua capacidade de fazer o que pedem.

Exemplo, um diretor vê um ator dar um texto e diz "sublinhe as palavras, como se a pessoa para quem você fala não estivesse te entendendo, faça com escarnio"; um mau ator vai fazer um pouco disse e manter boa parte do que fazia, um bom ator vai abandonar o que fazia e fazer o que pediram. É muito difícil se desligar de nosso vícios e aceitar a insegurança da doação.

Leitura circular

29/06/09 - Sobe o pano para falarmos do moderno ou pós-moderno. Ninguém sabe ao certo e no final, talvez tanto faça.

Nessa história do combate do tradicional com o destrutivo, a vanguarda. Neemias nos falou sobre os musicais da Broadway, os circuitos adjuntos, como o off-Broadway é chamado. E como lá esses dois movimentos são bem definidos. No Brasil ambos os circuitos também são definidos, entretanto representados por o 'Global' e o marginalizado. Assim como em São Paulo e no Rio também existem movimentos de teatro mais comerciais ou puristas. Aqui no estado é menos mas também há.

Outra coisa interessante foi o que o professor comentou sobre os atentados de onze de setembro. Quando a moral estava baixa e estabelecimentos fechavam, nova yorkinos se mudavam de cidade os artistas da Broadway saíram as ruas pedindo para o povo ficar, pedindo fé. Muito bonito.

Outra coisa são esses espetáculos que duram para sempre, os grandes musicais, 'cats', 'oklahoma', 'les miserables' duram para sempre. Isso me faz pensar no teatro brasileiro, que vive jogando suas coisas fora por uma questão histórica de baixo auto-estima e, também, muito público ainda por ser formado. Seria bom pensar num certo purismo no nosso teatro, que quando quer, não faz feio a nenhum outro. Há iniciativas nesse sentido, como o Angu, com a temporada de repertório que fizeram no começo do ano, Zé Celso, com as comemorações dos 50 anos do Oficina, Antunes, com o prêt-à-porter. Mas pode haver mais, bem mais...

Depois ouvimos uma das clássicas de professor Neemias - A relação entre teatro experimental x teatro inexperiente ou mesmo ruim. A frase é mais ou menos assim, acredito que ela valha a transcrição "Minha gente, tem menino aí que faz um curso de iniciação e já quer ser diretor, aí diz que é diretor de teatro 'experimental', pois eu digo o que é esse teatro experimental, o menino não sabe dirigir, mas tá 'experimentando', os atores não sabem atuar, mas estão 'experimentando', os técnicos não sabem fazer o serviço deles mas estão 'experimentando'; resultado: uma merda. Esse teatro experimental não minha gente, por favor, sejam humildes" Palavras de sabedoria. O pós moderno (?) tem disso mesmo. Uma coisa é dominar (dominar, dominar não é fácil nem é feito do dia para a noite) linguagens diferentes e propor o diálogo entre elas; outra coisa é 'experimentar'. Enfim.

Daí fomos para o trabalho sofrido dos atores aqui na cidade. É difícil viver de teatro, e no fim aparecem as mais diversas, e às vezes até degradantes tarefas para os atores. Estavamos falando do 'happening' palavra americana para performance, para francesa para improvisação, para portuguesa para faz na hora, termo nacional.

Enfim daí lembramos o Fon-fon, onde os atores passam 6h por dia no Sol sofrendo com CO² e motorista e transeuntes nem sempre educados; A noite do terror, onde os atores ficam correndo e gritando atrás de pessoas que raramente os desejam; os homem estátua das lojas; promoters de super mercado e todas essas tarefas pouco artisticas para nós. É dura essa vida. Todo esse sofrimento para comer; porque não dá para subir num palco, e mostrar arte de verdade para as pessoas passando fome.

Depois fomos ler "aquele que diz sim e aquele que diz não", lemos bem direitinho, num plano de leitura chamado "leitura circular" porque é feita num círculo e cada um lê uma fala, independente das personagens. Brincamos bastante de coro e foi legal para ver como o distanciamento pode ser uma coisa besta, como repetir o texto mudando uma coisa pequena, para fazer pensar.

Depois fomos ler "A lição" de Eugene Ionesco e foi muito, muito divertido. Fiquei com vontade de encenar, não vou nem comentar, porque ainda estou com o texto cá aqui, martelando para eu pensar nele.

Interface II

25/06/09 - Primeiro dia das consultorias com Paulinho para o trabalho da interface corpo-poesia.

Durante a semana houve um encontro entre eu, Dolores e Felipe, nesse encontro suscitamos algumas imagens possíveis e as passei ao resto do grupo por e-mail. Quando nos encontramos com o professor, primeiro buscamos acertar e definir com clareza nosso tema, nossas idéias e principalmente o que faríamos. Conforme a conversa avançou fomos chegando a primeira proposta de imagens, saímos de lá nesse pique, defini uma primeira configuração e fomos para casa. Fim.

Por que não estou falando muito? Porque essas coisas estão todas em fase de feitura, será melhor falar quando sua cara final aparecer.

Saint Joan

23 e 24 - São João.

Perdendo a cabeça

22/06/09 - Sobe o pano. Primeiro de tudo faltam essa mais duas aulas para acabar, aleluia! Foi justamente isso que nos lembrou Neemias, lembrando junto que nós estamos umas quatro aulas atrasados do programa, professor disse não saber como, mas entre a peça que iríamos assistir e não fomos, as dificuldades para ler os textos e os feriados acredito qeu fica fácil saber onde essas quatro aulas foram parar.

Junto às aulas atrasadas fomos lembrados da apresentação do última trabalho da disciplina, falta no meu caso fazer a ficha resumo e organizar o trabalho escrito, quanto a pesquisa e a abordagem dos assuntos sofremos, mas fizemos eu, Felipe e Vila semanas passadas.

Neemias também lamentou não termos a aula extra que ele tanto quis nos dar. E já que ele me deu esse relatório para fazer irei usá-lo como apelo aos alunos - Vamos, por favor, ter essa aula. Não apenas porque o professor quer dar, e isso já é muito, não são todos que teriam essa disposição, mas além, nós precisamos, poderemos fazer bom uso do que ele nos puder passar sobre como ler e abordar um texto.

Enfim começamos a falar do teatro moderno, um dos ponto importantes demonstrados pel oprofessor como tendência do tearo contemporâneo foi o deslocamento do eixo da criação - individual para coletiva - O living Theatre e o grupor Galpão foram usados como exemplos.

Tivemos uma pausa e decidimos deixar a leitura de "Aquele que diz sim e aquele que diz não" para a semana, em compensação tivemos uma gaiola muito especial com Guil, Paula e Ju fazendo com formas animadas uma crítica muito séria. Num primeiro momento uma apresentadora, sei lá, falava sobre valores, ética, moral, essas coisas; num segundo Amy Whinehouse aparecia tão tresloucada quanto é na vida real. Mais simbólico ainda, no final da apresentação, ela "perdia a cabeça" (literalmente) na frente do público. E foi só isso, pronto acabou.

Interface I

18/06/09 - Sobe o pano. Hoje fomos fazer um bate papo coletivo sobre a interface. Foi quente, muito quentinho mesmo.

Eu não estava muito disposto energéticamente por uma série de negligências:

- Foram distribuídos alguns textos para serem lidos pelo grupo, que não foram.

- Não houve uma vontade de participação na concepção.

Aí chegamos na aula, e tínhamos que falar sobre nossas idéias, mas não as tínhamos discutido ainda e nem. Aí fomos discutir, bater idéias, bater boca, blábláblá, tititi. Chegamos num consenso que não é muito consensual, mas foi.

Caminho como metáfora da vida - Agir por não agir. Abstração da força motora. A sustentação dos pólos. Todas essas e outras viagens dentro de imagens conectadas com o corpo.

Prometemos estudar e fazer força para nos encontrar. Veremos.

Os outros grupos farão interface corpo - música (música de liberdade/protesto) e interface corpo - Imagem (cor). Sei lá o que vai sair daí.

Nesse final de curso ando refletindo bem menos, também me interessando menos pelo trabalho alheio, cada vez me foco mais nas coisas que preciso fazer, nas responsabilidades a cumprir. Aff.

Arena Uzona Oprimida

17/06/09 - Sobe o pano lá pras quatro da tarde. Eu, Beto, Thaty, Villa e Mauro tínhamos que preparar a cena para o Teatro de Arena, nosso assunto no seminário de Evânia para a noite.

O teatro de Arena foi um grupo de teatro profissional que foi na contramão de grupos profissionais que escanteavam um pouco o trabalho dos dramaturgos nacionais, além disso era um grupo de forte tendência comunista e de lá surgiram grandes nomes como o Oduvaldo Vianna Filho, Gianfrancesco Guarnieri, José Renato, Flávio Migliaccio e principalmente foi o laboratório onde Boal começou as experimentações que culminariam no teatro do Oprimido.

Nós ensaiamos uma ceninha em cima de um poema de João Apolinário, chamado "é preciso avisar" e pontuamos bem direitinho como cada um ia abordar o tema.

Curiosidade é que Beto e Mauro não conheciam a música "para não dizer que não falei das flores" de Geraldo Vandré; música que usamos e eles tiveram que aprender (pelo menos o refrão) na tora.

Quanto às apresentações, primeiro fomos nós mesmos, fizemos a cena em cima do poema e falamos sobre o teatro de Arena. Legal como algumas pessoas participaram do debate, discutindo coisas como o alcance político de teatro e os limites entre ambos.

Inclusive conto um caso de boal. Eles foram apresentar uma peça para o MST e na peça eles usavam fuzis de mentira. Então o lider do grupo, depois de assistir convidou os atores todos para fazer uma invasão, Boal disse que não, que os rifles eram de mentira e o líder disse que arranjaria rilfes de verdade para eles. Daí em diante Boal começou a rever o que era teatro político...

Depois de nós foi justamenteo o grupo que falou de Boal, eles focaram no teatro do oprimido e fizeram uma apresentação com o texto sendo enrolado em Marquinhos, muito bacana.

Quanto as conversas de Boal, o teatro invisível foi o que mais chamou a atenção de todos. Porque num primeiro momento Thaysa sugeriu que depois os atores revelariam que na verdade foi tudo uma encenação. Depois Evânia desmentiu, dizendo que na proposta de Boal, a coisa seria toda feita na surdina, sendo que o público jamais saberia que foi ator de uma provocação teatral. Começamos a discutir muito sobre isso. Biaggio levantou algo muito interessante - Que Boal fazia teatro pelos outros mesmo, nunca para si. Pois numa proposta como a do teatro invisível, o ator não tem glória, não tem registro, não tem nada para ele, só a provocação que ele faz no outro. Boal é realmente muito mais sociólogo que diretor. Não porque ele não era diretor, porque ele era, e ao que tudo indica, muito bom. Mas o foco de seu trabalho é muito mais pela arte como instrumento social que pela arte como arte.

O que fiquei pensando foi na teoria de Thaysa - As pessoa tendem a se desvincular emocionalmente do que lhes desagrada. Um teatro invisível que depois mostre para o público, aquele que se desvinculou, que aquilo era teatro, que aquilo do qual ele não quis participar era uma provocação. Uma outra forma de sacudir, de quebrar os preconceitos.

Não tivemos Brecht sei lá por que, no fim tivemos o 'oficina uzinauzona', a maluquice de Zé Celso, também muito importante no teatro nacional pela luta de identidade, liberação face à opressão e, tchan, tchan, tcha, tchan, as dionisíacas. Guil, uma das pessoas do grupo, é fã assumida de Zé Celso. É muito interessante colocá-los ao lado do Arena para ver como a questão política não tem nada a ver com a partidária. A questão partidária, muitas vezes, cega a política.

Li isso numa critica sobre Tchekov, que foi criticado na Russia por não ser comunista militante. A critica alertava que quando se vê as massas por ideologias e se esquece das individualidades que a compõe tem apenas ufonismos e demagogia. E o teatro de Arena tem um pouco disso. Desse cegueira ideológica; apesar que se for para apresentar aspectos duvidosos, o Oficina tem em demasia liberalismo e um certo panfletarismo. Mas não sei... acho a busca deles por expressão própria mais legítima que a do Arena, não sei...

Pra valer

16/06/09 - Sobe o pano. Ontem foi para valer, todos sem saber direito que seria o primeiro dia de trabalho para a apresentação final, mas todos já sabendo. Nossa apresentação, inclusive, será dia 07 julho, às 18:30, na sala mesmo.

Primeiro de tudo discutimos o repertório da apresentação, que será:

1 - Prostituta respeitosa - Sartre - Paula, Beto, Villa, Bianca, Noronha.

2 - Dois Perdidos numa Noite Suja - Plínio Marcos - Felipe e Marquinhos

3 - A Obscena Senhora D. - Hilda Hilst - Biaggio e Camilla

4 - Álbum de Família - Nelson Rodrigues -Guil, Thaty e Ju

5 - As Bruxas de Salém - Arthur Miller - Paula e Tiago

6 - Navalha na Carna - Plínio Marcos - Diogo, Mauro e Thaysa

7 - 20 - Placebo - Guil e Thaty

8 - Roberto Zucco - Bernard-Marie Koltès - Geraldo e Dolores

9 - Marat Sade - Peter Weiss - João e André

10 - Álbum de Família - Diogo, Ju e Biaggio

Depois definimos contra-regras para que todos se ajudem, apesar que sei lá como vai ser isso no dia. André às vezes é muito desorganizado, vai na fé que tudo vai dar certo, não se programa direito e quando vê a coisa está saido fora de controle. Vai dar tudo certo no final, porque está sendo feito com muito amor, mas não sei não...

Falando nisso tentamos, na sala, organizar o horário de trabalho de cada grupo com André, um completo desastre, na minha opnião, mas tentamos e meio que conseguimos.

Depois disso fiquei eu, Ju e Biaggio para ensaiar Álbum de Família, assim, na porrada mesmo.

Bem, nem tanto na porrada, ontem de manhã, imaginando que seríamos os primeiros a sofrer, porque geralmente eu sou, ensaiamos. Foi muito bacana nosso ensaio de ontem. Primeiro fizemos uma leitura para tirar a preguiça. Mesmo lá para as dez horas, ainda bocejamos muito... Depois fomos pegando novamente o ritmo de nossa cena, trabalhamos e melhoramos algumas marcas fazíamos e depois passamos umas três vezes trabalhando o todo, mas focando na intenção.

Muito legal pegar uma cena e refazê-la uns meses depois da primeira vez que a fez para um público porque você redescobre o texto, traz novas intenção, lapida antigas, troca, a coisa é toda muito viva, quando você está no jogo, cada cena é diferente, você dará coisas para a continuidade da personagem e da história, mas nunca será a mesma coisa, e isso é muito lindo.

Então à noite, com André, sofremos muito. Juju estava muito nervosa, começou sem ritmo e travando um pouco o texto, para nos ajudar André nos botou para correr e dar o texto, para nos mostrar a energia da pressa, do desespero, do clímax dessa cena e dessas personagens, nos deu uma marcação mais elaborada para a cena e foi só isso. Mas só isso foi feito com tanto esmero que passamos duas horas e meia no "só nisso" Agora é esperar o resultado final.

O malandro/3 vinténs

15/06/09 - Sobe o pano. Fomos assistir à Ópera dos 3 vinténs, de Brecht. Muito, muito legal o filme. Conta a história de Mac the Knife, o grande malandro do Soho londrino e como ele balança entre as esposas, os cabarés, os policias, os políticos e os bandidos do bairro mais sórdido de Londres.

Não surpreende nada que Chico Buarque tenha visto a ligação entre a história e a realidade do morro e do malandro, personagem pitoresca, que existe no inconsciente coletivo e aqui no brasil veste branco, samba e (também) usa uma navalha.

Falando nisso, vou transcrever aqui a letra de "A volta do malandro" música da peça de Chico, que traduz bem a questão e eu adoro.



"Eis, o malandro na praça outra vez
Caminhando na ponta dos pés
Como quem pisa nos corações
Que rolaram dos cabarés
Entre deusas e bofetões
Entre dados e coronéis
Entre parangolés e patrões
O malandro olha assim dei viés
Deixa atravessar a maré
E a poeira sentar no chão
Deixa a praça virar um salão
Que o malandro é o barão da ralé"

Aí o professor destacou a simplicidade do recurso do distanciamento, entretanto como ele não pode ser graça, como às vezes acontece, como ele deve ser pensado, simples justamente para não atrapalhar a peça, para não chamar a atenção demais. A natureza da quebra também deve ser pensada, para dar a sugestão desejada ao público.

O recurso ficou muito forte em mim ao assistir ao filme porque quando ele ia morrer eu estava forte junto com Mac sofrendo por ele morrer, eu gostava tanto dele. E quando ele caí da forca e volta minha vontade foi gritar "Não, agora você morre, eu não sofri tanto pra você viver e brincar de teatro, agora morre! Morre!" Mas ele não morreu, e eu ainda estou com isso me cutucando.

About: Blank

11/06/09 - Sei lá o que teve. Não anotei nada e nem lembro mais.

Distanciamento

10/06/09 - Sobe o pano. Deveríamos ter a apresentação dos seminários de Brecht e Boal hoje, mas devido ao tempo excessivamente curto e os outros compromissos de todo mundo, adiamos todos os seminários para semana que vem.

Hoje fizemos um exercício em cima da função do distanciamento. A turma foi dividida em quatro duplas - Vila e Bianca, Ju e Tiago, Paula e Garrel, Dolores e Mauro e Thaysa e Noronha, eu fiquei de Narrador e a história se chamou "para todo o sempre". A primeira dupla casava na maior felicidade, a segunda representava o casal, um ano depois, distantes, indiferentes; a terceira representava o casal dois anos depois, brigando, culminando com violência física; o terceiro era um 'à parte' onde cada ator falava o que pensava do outro antes do casamento; e a última dupla mostrava a mecanização da desgraça desse casal. Entre cada dupla eu fazia uns comentários débeis que não tinham nada a ver com a verdade, no melhor estilo do speaker, de 'Álbum de Família'.

Infelizmente não tivemos público, fizemos para Evânia e Guil. Através do exercício Evânia buscou nos mostrar que o distanciamento não é uma coisa estranha, mas um recurso estético que busca quebrar o involvimento do público com a cena nos momentos de clímax para que ele pense, para que ele reflita. Tão simples e tão complicado, não é?

Muito interessante o recurso usado por Thaysa e Noronha para mostrar a mecanização, rodando em volta de si mesmos e repetindo os mesmos tristes périplos. Lembrei do teatro pobre ao ver aquilo, como um ator sozinho, com coisas simplíssimas, faz o tempo avançar e retrosceder diante de nossos olhos.

Ficou curtinho essa, mas vai assim mesmo.

Vestido

09/06/09 - Sobe o pano para a leitura de Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues. Houve uma cópia para todos, André tirou as cópias do bolso e depois o pagamos (acho que todos o pagamos, nem sei). Enfim, primeiro conversamos um pouco sobre a importância do texto; a questão da inauguração do modernismo, o texto alinear, psicológico. André comentou sobre as diversas montagens desse texto. Falou um pouco sobre o teatro mítico de Nelson, que não tem nada a ver com Vestido, mas com a montagem de "Senhora dos Afogados", essa sim peça mítica; que foi encenada em 1993 pela extinta (creio?) CTS - Companhia de Teatro Seraphim, onde André atuou e foi dirigida por Antônio Cadengue, nascido em Lajedo, janeiro de 54 que será nosso professor no terceiro período, há uma biografia muito interessante dele, para encher nossos olhos de vontade de conhecê-lo no Itaú cultural, segue o link -

http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_teatro/index.cfm?fuseaction=personalidades_biografia&cd_verbete=8986

- Coisa interessante que André contou sobre a montagem foi em relação aos figurinos, que lembram as roupas do siglo d'oro español. Essa concepção se deu durante a captação de recursos da peça, onde Cadengue foi pedir patrocínio para Geralda Farias, PFL, socialite riquíssima e dita interessada em movimentos culturais. Quando Cadengue a apresentou o projeto ela disse "A elite não quer Nelson Rodrigues" Ele botou um ovo e fez os figurinos Elizabetanos como reação à idéia que Nelson não fale às elites, sugerindo que a família Drummond venha justamente da elite.

Fazer o quê Antônio? As pessoas, ainda hoje, tem medo do espelho...

Quanto a leitura foi, foi menos enfadonha, mas ainda assim a achei tacanha, eu já conhecia o texto e queria ter ouvido na leitura o gosto daquele texto. Egoísmo meu, para muitas pessoas, era o primeiro contato, não dava para querer um espetáculo na primeira leitura, fazer o quê?

Depois do texto fomos discutir o que apresentar na conclusão. Aí tivemos umas pequenas discussões porque parte do grupo queria uma peça nova, outra parte queria trabalhar nas cenas que foram desenvolvidas durante os exeperimentos em cima das idéias de Stan, Artaud e Grotowski. Bem, eu fui assumidamente a favor das cenas. Por que? Questão de tempo, temos menos de um mês para montar algo novo, do nada? Não é impossível, mas me preocupo com a qualidade.

Nisso me vem uma reflexão que tenho feito bastante, é mais ou menos assim: O ator deve amar desafios, tá bom. Mas ser bom não é pegar o desafio maior que a perna, ser bom é saber vencer o desafio de cada degrau de cada vez. E uma montagem feita em 20 dias é desafio de muitos degraus. Podemos nos focar no acabamento das cenas, que é o desafio de um degrau só. Mas não deixa de ser um desafio, como todos descobriremos daqui para frente. Uma das inteligências do ator é saber até onde vai. E explorando esse limite, não o forçando, encontrar a riqueza inesgotável de seu ser.

Aí discutimos, discutimos e optamos pelo mais simples, que poderemos fazer com mais amor justamente por ser mais simples: trabalhar em nossas cenas. Sem falar na questão do tempo.

O Nada.

08/06/09 - Sobe o pano. Dia de assitir o vídeo "Artaud" filmagem de uma peça, elenco Rubens Correia e Ivan Albuquerque. Neemias disse que Rubens passou boa parte de vida artística estudando o trabalho de Artaud, que já conheciamos algo dos exercícios com André. Porém o vídeo me abriu de forma única.

Não posso falar muito da película, pois realmente é difícil explicar, é uma coisa, é fragmentado, de uma lógica caótica, tem muito poder nas mãos, em pequenos gestos que se ampliam, tem a dimensão do sonho, realmente. E também dialóga com Grotowski, é um teatro pobre, não tem pretensão nos seus efeitos, é um ator e o público, só isso. E tudo isso. Ele não urra, não dá chilique, mas se tem a impressão de assistir à um sonho. Muito bom.

Ele fala dos girassóis de Van Gogh no texto. O que sei (posso estar errado) sobre os girassóis é que são quadros que ele pintou para outros artistas que ele havia convidado para um retiro de intensa produção. Colocou cada quadro no quarto que ele havia preparado.

Infelizmente, Van Gogh sempre foi tido por louco, além dos problemas com alcolismo. Nenhum dos convidados apareceu, isso foi pouco antes dele se matar. Ninguém entendia a beleza do movimento pintado, uma pena. E Neemias lançou a pergunta "por que ele pintou o girassou, o girassol é uma flor feia"; mas é a flor que se volta para sol, vale pensar nisso...

Vendo o vídeo também fiquei pensando sobre a relação "levo minhas coisas para o palco" x "não levo nada para o palco" e o que é, realmente, esse nada?

Massagens

04/06/09 - Sobe o pano. Primeiramente fomos discutir os espetáculos vistos anteriormente - "Imagens não explodidas" e "por um fio em lã".

Discutimos sobre a abstração e o aristotélico na construção do espetáculo, sobre o espetáculo que se encerra em si e o espetáculo que o espectador leva para casa.

Eu fiquei viajando na seguinte reflexão, que vou passar adiante - Será que um espetáculo concebido de forma aristotélica mas construido através da abstração não poderia também se tornar um espetáculo que se leva para casa?

Depois fomos fazer alguns dos exercícios mais gostosos que já fiz na escola Sesc. Primeiro fomos brincar de pesado, criando um gestual que explorasse essa qualidade. Fizemos em duplas, fiz com Bianca e acabamos em algumas das posições mais engraçadas de toda a minha vida.

Foi interessante para mim, como ator, saber que posso, quando quiser, pensar em qualidades para minhas personagens e fazer pequenos laboratórios como esse, começar não com o gesto definido, mas com a busca da qualidade desejada no gesto, seja ele o que for. E dessa busca encontrar o gesto que melhor traduza a qualidade adaptada ao contexto, assim as possibilidades aumentam e se tem outra ferramenta para evitar cair nos clichês.

Depois fomos buscar o leve, primeiro sozinhos e depois todos juntos, foi uma viagem muito agradável.

Por fim o melhor. O professor nos dividiu em dois grupos e pediu que uma pessoa de cada grupo deitasse e fechasse os olhos. Eu como mais amostrado fui o primeiro do meu grupo, que era composto por: Eu, Thaysa, Paula, Bianca, Guil e Marquinhos.

O exercício era nada mais, nada menos, que uma massagem de todos na pessoa deitada. Depois a pessoa era içada e ia dar uma passeio de olhos fechados carregada pelas pessoas do grupo. Como fui primeiro tive mais tempo e muito, muito gostoso.

Depois ajudei a massagear todo mundo, uma coisa importante dessa massagem é que conforme você vai se habituado, você busca novas formas de massagear, assim deve ser com a personagem, se ela tem uma tarefa, é importante que o ator descubra mil formas de realizar essa tarefa, para escolher dentre as mil a que melhor serve à personagem. E a única forma de encontrar essas mil formas é fazer da forma que se sabe e depois ir procurando pequenas alterações, ou bruscas, dependendo das circunstâncias, e vendo quais dessas alterações desfiguram a tarefa e quais propõe uma outra forma de fazê-la, criando assim um repertório para a escolha de cada patitura.

Finda as massagens, nos dividimos em grupos para comerçarmos a pensar nas interfaces, trabalho final do lab. de corpo. Meu grupo ficou - Eu, Paula, Thaty, Garrel, Dolores, Felipe e Mauro e nossa interface é com a poesia. Fizemos um exercício de abstração de ideias proposto pelo professor e chegamos às poesias que falam do caminho como metáfora da vida.

Fim. Tchau.

Claro!

03/06/09 - Sobe o pano. Dia da última etapa do trabalho dos diretores, o texto foi "Claro" de David Ives. Mas antes dele ouvimos músicas de Chico Buarque e lemos poemas sobre a época da ditadura e os movimentos artísticos contra a censura. Temas de nossos próximos trabalhos.

Não pudemos muito assistir uns aos dos outros, porque fizemos tudo de uma só vez, entretanto posso falar um pouco sobre o que percebi enquanto atuava (sim, enquanto atuava fiquei olhando para ver o trabalho dos outros, não tenho ética nenhuma) e sobre as discussões depois da cena.

O texto, a título de introdução, narra a história de um casal que vai errando e voltando no texto até conseguirem um final feliz.

Começaremos por Ju, que dirigiu Tathy e Jailton. Noronha como sempre muito bom, com um tempo excelente de comédia, fez um namorado machão. Na discussão se valou que às vezes a relação tempo x qualidade não é diretamente proporcional, outros fatores podem ser levados em conta, ainda que quanto mais tempo maior a qualidade, muito tempo não significa necessariamente qualidade. No caso de Ju, mesmo com poucos ensaios a cena ficou boa. Isso porque a diretora não foi pretensiosa e ao assumir todos os encalques do processo, ganhou sustentabilidade na cena.

Depois Paula, que dirigiu Thaysa e Mauro. A grande pergunta de Evânia era se Paula teria o pulso para dirigir amigos, mas Thaysa e Mauro são tão generosos que mantiveram o respeito durante todo o processo. É muito interessante você calçar os seus sapatos e se entender quando ator, como ator, obediente, ainda que criativo; e quando diretor, diretor, detentor da palavra final, responsável (mais que o ator, não quero dizer que o ator não precise ser responsável) seguro.

Coisa interessante foi o momento de Paula dar a nota, ela quis se comparar com Peter Brook para decidir que número se dar. E a gente dizia "não sofra, minha filha" e ela "mas eu não tenho tanta certeza se está bom" enfim a nota que ela se deu foi baixa mas acho que Evânia vai relevar.

Biaggio me dirigiu com Bianca. Primeiro vou falar de Bianca, menina super generosa, adorei contracenar com ela. Quanto ao trabalho de Biaggio, foi o único que tentou desconstruir um pouco a cena, com umas 'esquisitices' (não são esquisitices de verdade, são proposta, ahauhauahuah). Mas no resto ele foi um ótimo diretor, nos orientado durante o caminho.

Ingrid dirigiu Doloros e Tiago, mas Tiago não pode ir à aula, e Guil, num ato de extrema coragem nos moldes de 'o show tem que continuar' assumiu o lugar de tiago com bigodes e trejeitos de homem para fazer par à Dolores. Outra coisa foi marca ousada de pegar nos seios de Dolores, que constrangiu muito Tiago durante os ensaios, o que mostra a necessidade de confiança entre as partes envolvidas no fazer teatral.

Camilla dirigiu Beto e Marcos que fizeram um par gay muito lindo. Roberto como sempre impressiona pela feminilidade bonita que ele sabe fazer, Marquinhos é mais atirado, azar. Uma coisa interessante foi Beto achar que Camilla talvez tivesse dificuldades em dirigir a cena por não identificar nele muito o tempo do humor. Quebrou a cara, Camilla fechou.

Findo o debate sobre a cenas Evânia nos avisou da última etapa de nosso curso - seminários sobre Brecht, Boal, Teatro de Arena e Oficina para as próximas semanas. Vamos ver no que vai dar.

Pobre ou quase II

03/06/09 - Sobe o pano. Hoje sim foi o dia do teatro pobre. Ou quase.

Conversamos um pouquinho e fomos para a pergunta fatal: Quem começa. Eu, Felipe e Thaysa começamos, eu não sei muito sobre o trabalho dos outros grupos, então vou me deter um pouquinho no da gente.

Nossa primeira idéia foi mecher na cena de Édipo Rei, corrigindo o que não deu certo e limpando-a, mas Felipe trouxe o texto "Navalha na Carne" de Plínio Marcos, e acabamos ficando com ele.

Li o texto enquanto lia o livro de Grotowski a procura ferrenha da minha verdade na história daqueles três personagens - um cafetão, um viado e uma prostituta numa pensão sórdida. Todas conectadas por relações de interesse, sadismo e decadência.

Propus ao grupo ligar essas relações aos conceitos de ator santo x cortesão de Grotowski, o grupo aceitou e fizemos três improvisações em cima do texto em que o cafetão, o viado e a prostituta, ao chegarem no clímax, trocam suas inquietações por inquietações ligadas ao trabalho do ator, sugerindo a platéia a relação entre a pessoa que se prostitui e o artista que se prostitui.

A cena foi construída numa estética 'pobre', ou seja, os atores, sem auxílio nenhum, foram responsáveis por criar as personagens e seu ambiente.

Os frutos desse laboratório foram muito mais saboroso que o de Artaud, ainda que ambos, para mim, tenham tido a mesma importância.

Depois Beto, Vila e Paula fazendo uma experiência em cima de "entre quatro paredes" de Jean Paul Sartre. Muito bacana a maneira como eles criaram esse ambiente do inferno e a tensão que une a aprisiona as personagens.

Vou fugir da ordem, pois não a tenho mais em mente. Dolores e Geraldo apresentaram de novo "Roberto Zuco" de Bernard-Marie Koltès (descobri o autor, lálálálá), mas com algumas diferenças, de novo destaque para dolores, muito ritualística oferecendo o corpo do filho como hóstia à plateia.

Biaggio e Camilla continuaram com "A obscena Senhora D" de Hilda Hilst, mas mudaram os excertos. Foi interessante como desconstrução do corpo imediato, que deu lugar à escadas, alavancas, relações de duplicidade e outros afins da viagem de cada um.

Tiago e Mauro fizeram um criação coletiva chamada "Dia grilado". Muitíssimo engraçado, ainda que a dramaturgia tenha sido ferrenhamente criticada por André "era melhor terem escolhido um texto" disse. Mas eu achei que eles encontraram, dentro da mímica e de seu contexto, muita verdade.

Noronha, Garrel, Marquinos e Bianca fizeram um pedaço de "O beijo da mulher aranha" tema trazido pelo professor para um exercício que fiz com Marquinhos nas primeiras aulas. Bacana como eles criaram duas "consciências" das personagens, interpretadas por Garrel e Bianca, e como eles fizeram o beijo passar do plano material para o etéreo. André criticou a dramaturgia, blábláblá.

Por último, mas não menos importante, Guil e Thaty se inspiraram numa música de Placebo chamada "20" para fazer uma cena muito fofa, que também tem um trabalho interessante de desconstruição de corpo e voz. Precisa dizer que André criticou a dramaturgia?

A gaivota

01/06/09 - Novo e último mês da desse período, que como temos sofrido para dar conta de tudo, mas tenho a impressão que o pior ainda está por vir. Enfim hoje fomos ler "A gaivota" de Anton Tchekov, texto pontual do Realismo.

O texto é particularmente importante para a turma pois foi com ele que fizemos o teste para entrar na escola Sesc. Entretanto a leitura foi enfadonha do mesmo jeito. Não li nenhuma personagem e não consegui prestar muita atenção, admito. Entretanto quando prestava atenção ia buscando aquilo de que falei no última crônica: o humor, a ridicularização, os traços caricatos das personagens, tudo que fez Tchekov dizer "escrevi Voudevilles e Stanislavski fez dramas psicológicos" e encontrei muito humor, encontrei traços caricatos nas personagens e consegui visualizar um encenação pastelão da Gaivota muitíssimo leve, dignissímo do maior dramalhão mexicano.

Daí volto à importância do papel do encenador e à reflexão acerca dos clichês que criamos do passado: Artaud era visceral, Brecht político, Stan profundo (que é profundo?) blá blá blá. E entender que esse legados, assim como as personagens, são empobrecidos (no sentido depreciativo) se vistos de uma perspectiva unilateral ou monocromática.

E mais, por que, nos dramas psicológicos de Stan, ele não poderia inserir doses generosas de humor, como Brech inseria de ironia em seus textos? No livro "a criação de um papel" dois dos papéis escolhidos por Stan para demonstrar suas preparação são comédias!

Claro, isso me leva a outra reflexão - Rindo comigo ou de mim? Isso cabe a cada um decidir.

Também foi feita uma comparação, por um santo/pecador da turma, quanto à personagem da gaivota, aquela atriz narcisista cujo nome me escapa, e Augusta Ferraz, interessante...

É interessante também destacar as 'etnias' da sala pela ótica da leitura. Pela maneira como cada um lê é possível deduzir vários traços acerca da pessoa, como formação, hábitos, etc...

Nos foi sugerido assistir ao filme "O baile" de Ettore Scola, o mesmo diretor do capitão tornado. Que ainda não assisti, mas talvez assista em breve.

Semana que vem teremos um vídeo de Rubem Correia interpretando num espetáculo chamado "Artaud". Até lá.

Improvisação.

28/05/09 - Sobe o pano. Bianca, Marquinhos, e mais alguém que já não lembro foram fazer o comentário e exercício sobre o exercício de postura proposto por tio Stan. Já Geraldo e Dolores foram falar de improvisação.

Quanto ao primeiro, vimos como a postura é o início de qualquer partitura, e como deve manter nosso equilíbrio e energias prontos para o movimento que ela prepara, fizemos brincadeiras com cegueira e cabos de vassoura, a título de experimentação.

Na segunda Geraldo falou muito sobre a improvisação que fornece informações ao ator, e a livre. Quanto a isso lembro do que M. Chekov fala sobre improvisação - É necessário algo definido, um começo e um fim, para que o ator se sinta realmente livre para improvisar - penso o seguinte, mesmo que quem coordena o exercício ou o diretor não tenham dado orientação, o ator vai precisar escolher algo, de seu passado/presente/futuro/imaginação/sonhos/o raio que o parta para começar; a única coisa que se improvisa do nada é o nada.

Nisso Chekov apresenta um programa bem legal para exercitar improvisações. Vou falar um pouquinho dos exercícios propostos.

1 - Escolha um começo e um fim, se possível aleatórios ou contrastantes, depois defina um tempo e comece.

2 - Quando se sentir à vontade, vá inserindo cada vez mais informações, novas marcações no meio da cena, um tema. Procure sempre variar ao máximo e trabalhar com situações contrastantes ou caóticas.

Pronto. Não procure mudar o tempo, mantenho instável. 5 a 10 minutos é suficiente para cada improvisação.

Geraldo trabalhou isso com balões e tempo ritmo, com os balões deveríamos improvisar um movimento, então essa foi nossa largada, e, para desafiar-nos mais, uma música foi solta para improvisar no ritmo oposto ao da música, foi uma bruta confusão. Mas gostei. Aprendi e pensei fazendo.

O poder dos Deuses. Será?

27/05/09 - Sobe o pano. Evânia infelizmente não pôde dar aula. Acho que foi saúde. Quem estava lá para nos aparar foi professor Almir, figura interessantíssima. Que nos aqueceu corpo e mente com um exercício de interpretar de olhos fechados algumas das características mais gostosas ou marcantes de personagens célebres, como Medéia, Maria Antonieta e outros...

Foi muito, muito gostoso, porque pudemos interpretar livres de muitos de nossos preconceitos em relação à interpretação, como exercício da fase de preparação da personagem, acho um instrumento muito bacana. Depois fomos ensaiar para a apresntação dos diretores semana que vêm.

Biaggio está dirigindo a mim e Bianca, passamos o texto, vimos algumas marcos, trabalhamos intenção, um trabalho super tranquilo...

Por fim Almir reuniu a turma e fez um exercício com Noronha. o fez ficar parado o encarando e pouco a pouco, bem devagarinho, interpretou a agonia de um choro. Foi muito forte realmente. Ele me contou que da outra vez a pessoa que o ficou vendo chorou junto. Noronha não chorou, mas de fato sua performance nos tocou a todos. No final ele disse "Estão vendo. É o poder de um Deus" Interessante não?

Pobre ou quase I

26/05/09 - Sobe o pano. Dia do teatro pobre. Ou quase. Iríamos apresentar, com a cara e a coragem, os experimentos em cima das idéias de Jerzy Grotowski.

Mas não, nossa cara e coragem era tão frágil que chegou ao conhecimento do professor nosso sofrimento, nossa ânsia em cima da pergunta "que porra eu faço?" e ele decidiu conversar conosco e nos dar outra semana.

Primeiro, poucos leram o livro. Eu entendo que os seminários são consecutivos, dando uma semana, uma semana e pouco entre um e outro, porém a bibliografia está conosco há mais de mês, e se tivéssemos nos programado, não digo todos, mas a maioria poderia ter lido alguma coisa.

Outra das pedras onde tropeçamos foi qual ponto do teatro pobre abordar na cena? A turma tendeu a se concentrar no trabalho de ator. E eu me pergunto, por quê? Porque somos ambiciosos, e para mim, como numa tendência da turma, o trabalho de ator proposto por Grotowski é tentador, dessas tentações de carne, que não sei nem explicar direito. Tamanha doação à arte, mergulho tão longe é extremamente tentador.

Tão concentrados nisso que ficamos esquecemos que podíamos focar em outros aspectos do teatro pobre, muito mais permeáveis à realidade do exercício proposto - A criatividade frente à ausência de recursos, o trabalho partitural do corpo, a exploração do espaço cênico. Meu grupo em particular focou na discussão ator cortesão x ator santo, discussão importante sobre a tensão que existe em todos entre a necessidade artística face à egoísta de se estar no palco.

A aula foi muito importante para firmarmos o laço de confiança que temos todos com André e nos lembrarmos da importância de saber como falar.

Humildade é coisa tão difícil, eu que o diga. Às vezes, em meio ao desespero e à preconceitos, a fôrmas rigidas que passam a falsa idéia de segurança nós começamos à atacar tudo que vemos além dos muros que construímos. É preciso, muito, se entregar ao desconhecido. E nisso, como um todo, a turma falhou, ficamos com medo e atacamos quem procurava nos ajudar.

Eca, ficou muito martirizante esse parágrafo, deixo aqui registrado que a situação é importante para reflexão, mas não é tão trágica assim não.

Outra coisa importante é a questão da autenticidade. Uma das coisas importantes que Grotowski diz, e diz com mais enfase ainda que Stanislavski, na minha leitura, é a destruição da fôrma, do caminho; diz com todas as letras - 'Fiz meu treinamento, que funciona para preparar meus atores; mas o que fazer no palco, é a verdade que cada um deve buscar' E nisso um espelho é escancarado na nossa cara em relação à nossas necessidades artísticas - Nós queríamos, como um todo (dou todas as concessões aos casos individuais) fazer certo, e querer fazer certo é igual a não querer fazer nada, certo indica resultado, não conteúdo. E com isso tivemos que nos enfrentar.

Outras questão importantes que foram levantadas, como é comum em toda lavagem de roupa, foram a questão das notas e dos grupos. É interessante que ao fim da Escola SESC a turma faça grupos que continuem, como muitos, batalhando pela arte dos palcos. Entretanto meu apelo é que os grupos não virem panelas e que preservemos o grupo maior, admitindo os subgrupos, para não competirmos, para não nos degladiarmos quando poderíamos crescer e produzir juntos. Só isso.

E o outro foi a nota. Outra coisa vil. Entendo que os professores devam nos avaliar, mas como nós sofremos por causa dessas notas! Paremos, por favor, a arte não pode ser avaliada em números.

Realidade Cênica

25/05/09 - Sobe o pano. Hoje começamos a falar do realismo, mas não sem antes as considerações gerais tão interessantes que permeiam nossas aulas.

Aliás, nos relatórios das aulas prefiro mesmo me deter nas considerações gerais que no tema propriamente disso, isso porque os temas estão pontualmente registradas na apostila e nos livros da história do teatro, as considerações do professor são história fresquinha, vinda direta do forno. Inclusive noto uma mania ou um padrão na maneira como os gestores do Sesc se colocam em público na seguinte frase "Quero deixar aqui registrado..." sempre que vão falar alguma coisa, começam com a fase célebre, me pergundo, por que? Não creio que verei resposta.

Comçamos com puxões de orelha em relação à nossa leitura, semana que vem leremos "A gaivota", de Tchekov (acho que escrevi o nome dele certo, se não, deixo aqui registrada minha ignorância) para que essa leitura não seja enfadonha, como foram outras.

Estavámos todos muito nervosos com a apresentação de Grotowski no dia seguinte e passamos mais um tempo com Neemias tentando nos acalmar. E aqui vai uma consideração básica:

Eu sei que "Lab. de Interpretação I" deveria ser só Stanislavski. Dito isso é o seguinte: Mesmo que a escola Sesc tente preservar um certo 'academismo' é preciso admitir se há algum 'academismo', também falta algum. O interessante da diversidade entre cada professor não é a disciplina que eles ensinam, mas a pessoa em si, suas preferências, suas manias e generosidades, a maneira como ela encara o trabalho teatral e como ele influenciou sua vida.

Assim defendo com unhas e dentes a iniciativa de André de nos mostrar o seguinte: Eu nunca farei Stanislavski, nem Artaud, nem Grotowski, eu só farei Diogo Testa porque eu sou Diogo Testa. É importante estudar e conhecer o máximo possível. Mas o que passou é fonte, não fôrma. André nos pediu experimentos e nos quisemos dar espetáculo, outra lição importantíssima aí: Humildade, aceitação dos erros. Nosso medo de fazer 'errado' as cenas de André quase nos consumiu, e André veio para nos dizer 'não existe errado, existe teatro, e tentar já vale muito' esse tipo de conhecimento não tem preço.

Falando em realismo e mais precisamente em Tchekov uma das reflexões que tenho feito acerca é a frase do próprio é "escrevia Voudevilles e Stanislavski as transformava em dramas psicológicos" essa reflexão faço acerca da importância do encenador.

Assim como Stan, Grotowski transformou "Fausto" de Goethe, texto romântico, na sua própria estética, o galpão transformou Romeu e Julieta em teatro de rua. Zé Celso meche em tudo que toca, Antunes transformou as comédias de Nelson Rodrigues em peças míticas e as míticas em mais míticas ainda. Aí quando Neemias diz - o documento mais importante é o texto, eu penso 'cuidado'. Tudo bem que Neemias não fala do texto sem preconceitos. Ele sempre dá detalhes e características pontuais que identificam as montagens do período.

Não adianta, essa é minha reflexão, pensar teatro dramaturgia, na nossa contemporaneidade, ou pós-contemporaneidade ou seja lá o que for é claro que a dramaturgia é uma ferramenta na mão dos 'montadores', sejam eles atores, diretores ou ambos. E era sim desde sempre, só não tinha os nomes que tem hoje e pronto.

Não me recordo mais por qual motivo, mas durante a aula nos perguntamos: O que é kichute? Segundo a Wikipedia "Kichute é um calçado, misto de tênis e chuteira, produzido no Brasil desde a década de 70 ".

Uma das coisas que me chama a atenção no teatro do período é a relação universal x temporal, principalmente pelos textos de Tchekov e Ibsen. Isso também acontece em Shakespeare e nas tragédias gregas, mas volta com força aqui. No homem comum, não nos heróis históricos, como era antes, reside o que fala a todos, mesmo que ele seja colocado em uma situação do espaço/tempo que fale da situação social da platéia. A gaivota mesmo, enquanto existir teatro terá sua força. Jardim das Cerejeiras enquanto houver uma classe dominante e uma dominada e assim por diante.

De novo, em algum ponto da aula que ninguém sabe bem ao certo como, caímos na telenovela. Neemias diz que é bom usá-la como exemplo pontual porque todos conhecem a telenovela brasileira, portanto algo perto dos alunos. Verdade, acho difícil que um brasileiro, em algum ponto da vida não tenha contato com a telenovela produzida no país. Mentira, porque não acho algo proximo da maioria dos alunos. Entre faculdades, empregos e a Escola Sesc, acho difícil que existam muitos na turma que assistam telenovelas, portanto nem tão próximo. Desconfio, e faço esse comentário com certa maldade. Que as telenovelas estão mais próximas do professor que dos alunos. Não sei, posso estar enganado.

Mas sim, a telenovela chegou porque ela, em sua concepção cênica se aproxima muito do realismo no quesito que procura imitar com o máximo de fidelidade a vida real. Depois migrou para a acepção de telenovela como 'produto cultural', sujeito à tensões do mercado e da arte ao mesmo tempo. E daí começamos a discutir 'merchan', como chamam os Barbixas, grupo de comediantes constantemente evocado por Beto, Tiago, Mauro e Vila; da teledramaturgia brasileira, chegamos a imaginar um cenário onde não haveriam mais comerciais entre os programas, um cenário onde a propaganda já estaria tão culturalmente enraiazada na programação da TV que elas seriam simbiotícas, e não complementares, como são hoje.

Quanto à essa história de imitar a realidade com fidelidade ferrenha, Neemias também citou a peça "um sábado em 30" encenada pelo TAP aqui em Pernambuco. O texto tem traços muito fortes de racismo, e um casal de negros que assistia a uma apresentação saiu do espetáculo se julgando pessoalmente ofendido.

É isso, o negócio é esperar até semana que vem, a leitura.