Pobre ou quase I

26/05/09 - Sobe o pano. Dia do teatro pobre. Ou quase. Iríamos apresentar, com a cara e a coragem, os experimentos em cima das idéias de Jerzy Grotowski.

Mas não, nossa cara e coragem era tão frágil que chegou ao conhecimento do professor nosso sofrimento, nossa ânsia em cima da pergunta "que porra eu faço?" e ele decidiu conversar conosco e nos dar outra semana.

Primeiro, poucos leram o livro. Eu entendo que os seminários são consecutivos, dando uma semana, uma semana e pouco entre um e outro, porém a bibliografia está conosco há mais de mês, e se tivéssemos nos programado, não digo todos, mas a maioria poderia ter lido alguma coisa.

Outra das pedras onde tropeçamos foi qual ponto do teatro pobre abordar na cena? A turma tendeu a se concentrar no trabalho de ator. E eu me pergunto, por quê? Porque somos ambiciosos, e para mim, como numa tendência da turma, o trabalho de ator proposto por Grotowski é tentador, dessas tentações de carne, que não sei nem explicar direito. Tamanha doação à arte, mergulho tão longe é extremamente tentador.

Tão concentrados nisso que ficamos esquecemos que podíamos focar em outros aspectos do teatro pobre, muito mais permeáveis à realidade do exercício proposto - A criatividade frente à ausência de recursos, o trabalho partitural do corpo, a exploração do espaço cênico. Meu grupo em particular focou na discussão ator cortesão x ator santo, discussão importante sobre a tensão que existe em todos entre a necessidade artística face à egoísta de se estar no palco.

A aula foi muito importante para firmarmos o laço de confiança que temos todos com André e nos lembrarmos da importância de saber como falar.

Humildade é coisa tão difícil, eu que o diga. Às vezes, em meio ao desespero e à preconceitos, a fôrmas rigidas que passam a falsa idéia de segurança nós começamos à atacar tudo que vemos além dos muros que construímos. É preciso, muito, se entregar ao desconhecido. E nisso, como um todo, a turma falhou, ficamos com medo e atacamos quem procurava nos ajudar.

Eca, ficou muito martirizante esse parágrafo, deixo aqui registrado que a situação é importante para reflexão, mas não é tão trágica assim não.

Outra coisa importante é a questão da autenticidade. Uma das coisas importantes que Grotowski diz, e diz com mais enfase ainda que Stanislavski, na minha leitura, é a destruição da fôrma, do caminho; diz com todas as letras - 'Fiz meu treinamento, que funciona para preparar meus atores; mas o que fazer no palco, é a verdade que cada um deve buscar' E nisso um espelho é escancarado na nossa cara em relação à nossas necessidades artísticas - Nós queríamos, como um todo (dou todas as concessões aos casos individuais) fazer certo, e querer fazer certo é igual a não querer fazer nada, certo indica resultado, não conteúdo. E com isso tivemos que nos enfrentar.

Outras questão importantes que foram levantadas, como é comum em toda lavagem de roupa, foram a questão das notas e dos grupos. É interessante que ao fim da Escola SESC a turma faça grupos que continuem, como muitos, batalhando pela arte dos palcos. Entretanto meu apelo é que os grupos não virem panelas e que preservemos o grupo maior, admitindo os subgrupos, para não competirmos, para não nos degladiarmos quando poderíamos crescer e produzir juntos. Só isso.

E o outro foi a nota. Outra coisa vil. Entendo que os professores devam nos avaliar, mas como nós sofremos por causa dessas notas! Paremos, por favor, a arte não pode ser avaliada em números.

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