Humano demais

28/4/9 - Sobe o pano. Último dia das apresentações de Stanislavski na disciplina de interpretação. Teoricamente. Cheguei atrasado e perdi a primeira apresentação de Mauro e Camilla. Azar, vi a segunda.

Para mim a noite começou com a apresentação de João e Bianca, fazendo ninguém mais, ninguém menos e Romeu e Julieta, do filme novo, diga-se de passagem. Eu gostei muito da interpretação dos dois, mas concordo com André que foi "interiorizado demais", até para Stanislavski. Era preciso expressar o sentimento que eu acreditei que havia nos dois. Como de costume mestre Tortsóv pediu mais momentos de tensão no drama e eles foram trabalhar, parabéns para os dois.

Thaysa e Evilásio pegaram o segundo bonde chamado desejo. Thaysa evoluiu da primeira cena para a segunda e houve um momento lindo onde Evilásio a fuzilou com os olhos. Muito bacana. André pediu que Evilásio trabalhasse com mais afinco outras intenções da personagem, como seu aspecto dominador, sua força, sua exaltação em alguns momentos da cena e Thaysa mergulhasse mais fundo nos sentimentos da personagem. Com certeza eles fecharão na útlima apresentação.

Depois Ingrid e Beto. Ingrid também evoluiu muito em cena e Roberto, como todo bom ator, resolveu problemas antigos para encontrar novos. Eles passaram por um momento 'transformação' muito bacana em que André nos lembrou a todos que a personagem, assim como nós, humanos, tem infinitas cores e é preciso para o ator pintar e rechear a sua personagem como máximo possível. Quando digo máximo não falo de excesso, falo de riqueza, de diversidade.

A ordem em escapa, confesso, mas acredito que depois de Beto e Guil, fomos nós, eu, Ju e Biaggio para nossa última performance em Álbum de Família, que num balanço geral realmente foi pior que a segunda. Mas como disse a respeito de Roberto "erramos novos erros". Nosso principal mal foi a falta de ensaio, que nos desarmonizou, como André colocou bem; quanto a mim, meu principal erra foi a falta de generosidade. Sou um metido mesmo, preciso aprender a ser menos egoísta e mais generoso. E irei, estou trabalhando duro para isso, é que quando não me policio caio em vícios antigos que desejo como todas as forças deixar para trás.

André e Noronha chegaram para apresentar com Thaty e aconteceu uma coisa muito bonita e muito chata - Eles apresentaram de novo e pouco se pôde ver empenho deles em melhorar a qualidade da cena, essa foi a parte chata. A parte muito bonita foi eles terem sido completamente sinceros e nus, como um ator deve ser, de expor a verdade, não muito agrável para a turma e discutirem o que funcionou e não funcionou numa boa. Levantamos um ponto muito importante vou citar nosso professor aqui "Não sofram, se quiserem sofrer, tenham um emprego normal. Façam teatro para ter prazer, façam com tesão".

Biaggio conversando baixinho comigo levantou algo interessante: Se você trabalha num escritório e você não gosta da pessoa do seu lado, você pode simplesmente ignorá-la. Isso parece fácil mas não é, o ser humano, como qualquer coisa viva é atraente e essa indiferença vai te corroer até a cerne de sua alma. Já no teatro não, se você não conseguir se harmonizar com as pessoas com quem trabalha, jamais chegará ao resultado - um espetáculo. Poderá chegar a imitações feias e grotescas, mas jamais ao resultado. Teatro é muito humanos, até me assusta.

Depois, e era a cena que eu mais esperava na noite - a terceira performance de Paulinha e Tiago, dois atores incríveis. Paulinha cresceu bastante em cena e me levou à beira das lágrimas, coisa que nunca faço. É tão triste a história da personagem deles, e escrita com tanta poesia, fico comovido. Essa história de climax parece ter deixado Tiago um pouco nervoso e ele saiu distribuindo gritos 3x4, coisa que também fizemos na nossa cena, por tocar no assunto. Eles passaram por um momento transformação com prof. Tortsóv, e fico feliz por eles, pois ambos queriam muito e Thiago deu uma reviravolta imensa na sua performance, com um final lindo.

Felipe e Marquinhos perdi porque fui no banheiro e quando voltei já haviam começado, fiquei do lado de fora da sala ouvindo eles pela fresta.

Assisti então Mauro e Camilla, já melhorados e na última apresentação deles. Melhoraram muito, mas Mauro, tu fala muito rápido meu filho, calma, pelamor de Deus. O último pedaço de texto, do café, é muito bom, gosto demais dele.

E a aula foi isso, os outros ficaram para próxima terça.

Tradução no dicionário

27/4/9 - Sobe o pano. Estou feliz de escrever esse relatório porque ele provavelmente será o menor que já fiz de história do Teatro e o primeiro que consiguerei colocar (quase) todas as pérolas extraídas da aula.

Fomos ler "O Avarento" de Molière. O texto era enorme e só Jailton pôde imprimir (usando a impressora da firma, suponho, quando trabalhava fazia isso direto para o inferno de meu patrão, não é à toa que fui demitido lindo e loura da empresa de engenharia onde nunca mais vou trabalhar... Nossa, que nostalgia); além de Jailton, Neemias também tinha uma cópia.

O plano era lermos os cinco atos do avarento traduzido por um português que havia olhado o dicionário no dia em que traduziu, lermos mais seis páginas de um experimento sobre Mcbeth e ainda vermos trechinhos de "Shakespeare apaixonado" para olharmos os teatros da época. Empacámos no primeiro. O tradutor, que depois Neemias terá a bondade de informar quem foi que eu esqueci, estava realmente inspirado.

A história em si é típica de Molière: Um casal de namorados, ele servo humildo do pai da moça, o velhaco mais sovina que já vi. O tal do velhaco tem um filho que ama a mesma moça que ele, ainda que por razões adversas e para a moça o pai tem um pretendente rico e prestes a morrer, na sua opinião, o marido perfeito. Destaque para Felipe fazendo o Avarento e Thiago um serviçal, renderam risadas na aula.

Estava pensando cá com meus cachecóis e o que o professor está fazendo, nos dando esses textos de época para ler não é só importante do ponto de vista didático, mas muito útil para nós como atores. Fiquei pensando o seguinte: "Que ator é esse que saí de um curso de teatro de dois anos, de carga horária violenta e não sabe ler um texto de época com clareza e um mínimo de intenção na fala?" Seria nos deixar sermos rídiculos de nós mesmos.

A aula acabou com a Gaiola minha e de Dolores, que Ju filmou e depois postarei no Blog, junto com os vídeos de André filho e outras coisas; falando "algumas verdades, parte2".

Abraço.

Circo

23/4/9 - Sobe o pano. A aula começou com um aquescimento punk que já nem lembro qual foi, lembro que foi punk, no estilo de "mecham ossos imaginários e existentes até que eles parem de funcionar".

Depois fomos para os tatames. Disputamos uma corrida frenética eu, Mauro, Roberto, Vila e Marquinhos para trazer oito tatames para a sala, separá-los em duas fileiras, três azuis e um vermelho em cada e brincarmos de circo.

Superdivertido, demos cambalhotas para trás, para frente, de dupla, estrelilnhas e rimos muito, muito mesmo.

Destaque para Garrel, Dolores e todos os corajosos para se arriscar, muito mais importante que fazer certo ou errado é a coragem de correr o risco.

Depois de todo esse trabalho começaram as apresentações. Primeiro Paulinha e Thaísa falando da plasticidade de movimento proposta por tio Stan. Primeiro elas citaram os tópicos da continuidade e suavidade do movimento. Não significa que um ator não deva fazer movimentos interrompidos ou grotescos/violentos. Muito mais quer dizer que ao representar a interrupção, o grotesco e a violência o ator deve sim fazê-los com continuidade e suavidade, uma coisa é representar um ideal físico, outra coisa e inibir sua capacidade criadora com ele. Fizemos o exercício de andar e nesse exercício buscamos perceber a ligação entre todas as partes de nosso corpo, com a consciência de que nosso corpo é interligado e um movimento puxa o outro. Também fizemos o exercício do mercúrio, que não fiz muito bem porque sou metido e pus os carros na frente dos bois.

O exercício do mercúrio tem por objetivo perceber a energia que corre e torneia o corpo em compasso com o movimento. Essa mesma energia era aproveitada de outra forma no exercício que eu, Camilla e Ju propusemos para a turma - o gesto psicológico de Chekhov. O gesto, como já foi dito, é uma forma de carregar energeticamente o corpo antes da cena, despertando sentimentos, força de vontade e dando presença para o mesmo.

E exercício era uma experimentação em busca do gesto e dele tirei algumas conclusões: 1- é preciso ser mais simples no gesto, o gesto busca o que há de mais intimo, a essência, a força de vontade, o sentimento. Os gestos desenvolvidos pela turma não são falhos, entretanto se classificam, em sua maioria, nos gestos que servem o propósito de uma cena ou de uma fala. São gestos psicológicos específicos. Durante o exercício poucos conseguiram um GP (gesto psicológico) global, que abrange a essência da personagem do início ao fim da peça. Claro que essa essência mudo no decorrer da ação, mas o GP é sempre um ponto de partida, nunca um de chagada. Salvo isso eu gostei muito do desempenho da turma e me senti honrado de aplicar o exercício.

Abraço.

Do jeitinho que eu queria

22/04/09 - Sobe o pano. Dia dos diretores mostrarem seu trabalho na aula de introdução ao teatro.

Primeiro tivemos meia hora extra para afinar os atores. Não o fiz, jurei que eles estavam afinados e mandei eles se concentrarem apenas. Errei feio.

Bem, vamos às apresentações. Primeira cena Geraldo e Evilásio dirigidos por ninguém mais, ninguém menos que André Garrel. A cena foi improvisada e foi boa, destaque para a presença de palco de Geraldo, forte. Evilásio estava fraco, senti falta da presença dele em cena, estava muito apagado. E tu falou muito baixo, da próxima gostaria de ouvir com clareza. Houve um problema de ritmo, mas isso é porque foi improvisação, imagino.

A segunda cena era para ter sido Guil e Brandão dirigidos por Dolores, mas problemas técnicos os impediram, azar.

Depois Ju e Mauro, dirigidos por João, que impressionou a todos com suas habilidades de diretor. Como disse a professora "João é o chato que todo mundo gosta" e é verdade. O curso perderia muito sem ele por perto. Da cena tirei um conselho que gostaria de dar para Mauro "Diga cada palavra do seu texto como se desse um beijo na mulher amada". Faltou carinho com o texto, o resto - corpo, voz, presença de cena, estavam bons. O mesmo para Ju, só que ao contrário, precisa criar corpos e vozes para as personagens. Destaque para a comunhão deles, trocas de olhares poderosas em cena. E Mauro, agarre Ju com força, meu filho, pode pegar que eu não mordo.

A terceira cena apresentada foi estreada por Paulinha e Marquinhos e dirida por Bianca, a revelação de nosso curso. Na minha opinião, a cena mais forte e melhor representada, grande destaque para Paulinha, que me emocionou muito no papel de Joana, com voz, com corpo, com olhar, e Marquinhos não ficou atrás, mantendo uma atmosfera cortante e atraente toda a cena. Parabéns para a diretora. Agora Paulinha, balançou em cena um pouquinho, finque esses pés no chão.

A quarta foi Camilla Noronha, que não balançaram, Camilla estava ótima, usando do gesto psicológico para dar força à Joana e Noronha estava ótimo de Creonte, forte, a mão dele ao mandar e voltar os seguranças chamou muito minha atenção. Destaque para a concentração de Camilla.

Eu, por fim, dirigi Tiago e Thaty, consegui algumas coisas e não consegui outras. Não caracterizei minhas personagens, Tiago era Tiago e Thaty foi Thaty, mas estavam afinados um com o outro, não rolou muita comunhão e a vida física ficou fraca. Consegui embasar o texto e encontrar motivações vivas para meus atores, mas só foi até aí, da próxima trabalharei melhor por meus atores, que diga-se de passagens, são ótimos e foram muito generosos comigo.

Abraço