O preço de uma árvore

21/04/09 - sobe o pano na véspera do feriado. Professor Neemias adiou o avarento para a semana que vem justamente para nos mostrar quão avarento é o avarento e nós vimos e ouvimos falar do Renascimento na espanha. Mas antes André Garrel nos presenteou com um relatório mordaz da aula anterior.

Falando em coisas mordazes, Neemias previu que nós estávamos já a tempo demais na fase das "pernas abertas" como ele chamou, talvez esteja certo, talvez estejámos próximos de fechar nossas pernas, quem sabe?

Enfim, a aula começou no siglo de oro espanhol, mas antes dele Neemias nos lembrou que Racine, dramaturgo francês do Renascimento, é como a F. de Pernambuco, dada sua temática "Todos sabem que tem, mas ninguém gosta muito"

Sim, no século de ouro, primeiro vemos Fernando de Rojas, autor de comédias de costumes que já apresentava traços do realismo, segundo o professor precursor do realismo em algumas características.

Também foi abordado a complicada relação entre o humano e o divino entre os dramaturgos do renascimento. Apesar que quando penso nisso só me lembro de Dante e da granda viagem da Divina comédia, onde o homem conhece o divino, o profano e os compreende dentro de sua consciência; um pouco ousado da parte de Dante presumir que fosse possível exprimir por palavras da consciência humana essa relação, mesmo nas palavras completamente viajadas dele. Mas enfim, o fato é que os mesmos dramaturgos que escreviam falando do homem escreviam falando de Deus e as principais formas de teatro religioso do ciclo espanhol é o auto sacramental e a Égloga Pastoral, que Neemias acha um nome muito bonito, pesquisei o nome no meu aurélio e saiu assim: Égloga = Écloga - Substantivo feminino. Do grego - eklogé, pelo latim - écloga - Poesia pastoril, em geral dialogada; bucólica, pastoral.

No meio dessa explicação, o professor comentou como na época os artistas eram mais ecléticos, tipo Da Vinci mesmo, que era pintor, cientista, patati, patata; contrapondo que hoje o conhecimento é mais segmentado e partimental. Fiquei pensando nisso e faço um contraponto, só porque gosto de ser do contra mesmo.

Essa divisão do conhecimento, assim como a divisão do trabalho, é idéia do clássica do capitalismo, mas hoje ela vem perdendo força com o liberalismo. Quando começaram a se espalhar as idéias de capitalismo, o homem não era mais que uma chave de fenda, uma ferramenta. Hoje os colégios já trabalham muito com o conceito de interdiciplinaridade, as empresas de ponta, principalmente as que lidam em demasia com o público ou tecnológia tem mais que consolidado o conceito de "Funcionário multifuncional" que tem discernimento de todas as funções pertinentes à dele e é capaz de executá-las com certa presteza, se necessário.

As disciplinas de faculdade estão cada vez mais confusas e misturadas, coisas como "Engenharia da produção, ou do som, ou dos alimentos"; "Gestão da informação", "Biomedicina". São conhecimentos híbridos.

O próprio ator, ganha muito, mas muito em qualidade se souber, cantar, dançar, tocar, desenhar, enfim, se for assaz questionador para conhecer outras artes. E isso, para os artistas principalmente, não é um conceito novo. Assim vejo que hoje há sim uma tendência para o diálogo entre todos esses conhecimentos específicos que produzimos no século passado.

O professor ainda comentou que mesmo no teatro profano, havia a preocupação com a moral, com a punição dos que agiam errado, e isso perdura até hoje. Fiquei pensando que teatro é uma coisa antiga mesmo, sempre o comportamento humano antigo, épocas anterior ao dos espectadores, e ele aparece quase sempre permeado por esse senso de certo e errado. Talvez as grandes obras de nossa dramaturgia, as verossímeis, os gênios, sejam aqueles capazes de abandonar a moral e entregar às personagens à uma vida real e caótica como é deveras a nossa, ou mais ousado ainda, atacar a platéia destruindo os heróis, como fez Nelson Rodrigues no Brasil, idéias minhas, apenas.

Neemias destacou Lope de Vega, como nome de destaque do ciclo de ouro espanhol. Como homem humilde, bebeu da comédia del'arte italiana e dos costumes dos menos abastados para caracterizar suas peças.

Ao explicar que Lope escrevia Entremezes - esquetes que eram apresentadas aos nobres entre uma refeição e outra - ele lembrou-se da árvore de Júlia, e agora quem vai falar da árvore sou eu - Uma peça de qualidade questionável, com uma atriz fraca e inesperiente em palco no papel principal, não pagou nenhuma pauta pelo tempo que esteve em cartaz, custou 106mil reais ao contribuinte, mesmo que a produção não tenha gasto mais que 10, se chegou a 10, tudo pelo nome de Lívia Falcão e os carinhos da prefeitura.

Aqui meu apelo, pel'amor de Deus, todos queremos fazer teatro de qualidade, e os maiores problemas são sempre dinheiro e qualidade de elenco, então por favor, não joguem o dinheiro do contribuinte fora em joguinhos politicos e produções toscas. Sim?

Cervantes disse que os atores não eram muito vista na terra de nossos colonos, por isso suas trupes eram diminutas e se chamavam farândolas ou migingangas, nomes também engraçados que não vou persquisar no meu Aurélio.

Daí fomos para largas esplanações dos palcos Renascentistas na espanha. Um dia prometo que vou mostrar os diversos tipos de palco e a época e lugar onde eles foram usados. Hoje estou com preguiça.

O problema de fazer relatória das aulas de história do teatro é que nunca escrevo tudo que quero, porque Neemias fala muita coisa, como por exemplo toda a história sobre João Denys, professor de luz no curso de Cênicas na federal. Tudo bem, está tudo anotado no meu caderno, um dia transcrevo.

E.T dos Ovos de Ouro

16/04/09 - Sobe o pano. Professor Paulo nos enche de jornal e nos pede para forrar a sala. "Ok, mas para quê"; E como se fosse a coisa mais natural do mundo "Faremos máscaras hoje".

Rebobina a fita "Como é Bial? Estou na disciplina certa?" Estávamos todos. Com cartazes sobresalentes do 'Vale dançar', tesoura, grampeador, tinta guache e fé em Deus fizemos cada um sua máscara. Me considero um total sem talento nesse quesito, mas vá lá, eu fiz meu sorriso.

Tivemos toda sorte de máscaras e algumas realmente se destacaram - o rei Persa de André ou o cacique doidão de Geraldo, por exemplo. Houveram também os Power Rangers Mauro, Roberto e Thaisa, que usaram e abusaram do azul e vermelho nas máscaras. A galinha da Ingrid e o E.T de Evilásio também estavam impagáveis - Se esqueci alguma máscara e quiserem me lembrar depois fico grato.

Prontas as máscaras, estava doido para ver a bagaceira que sairia dali quando o Professor disse "Depois, agora vamos bater papo". E fomos. A ementa chegou à nossas mãos, assim como o trabalho que apresentaremos dia 23 e 30/04 sobre certas ferramentas para a criação e partitura corporal da personagem. Eu, no caso, apresento dia 23 o trabalho sobre o gesto psicológico de Michael Chekhov com Julyana Carla e Camilla Rios. Muito boa a viagem do rapaz.

Pingos nos 'i's, fomos separados em três grupos para contar uma história sem rosto e sem voz. Teríamos nossas máscaras e nossos corpos, e tava bom demais.

Fomos eu, que estava de smiley e virei emoticon, Camilla, que fez um gato doente, Biaggio, o Pierrot cibernético dono do gato, Dolores, o cacique superpoderoso, e Vila, o ET de vargínia. O gato ficava doente, o Pierrot mandava um pedido de ajuda (eu) via internet para o cacique, que fazia a dança da chuva e convocava o ET de Vargínia para transportá-lo até o gato, onde ele pode fazer outra dança ritualística e salvá-lo da doença cruel.

Geraldo pegou Maria Joana, sentou num canto e viajou que Thaísa era um robô que precisava de corda, e já que João era muito preguiçoso para dar corda nela, pediu ajuda para Mauro, o gostosão que mandou Paula, a babona; mas ela era muito fraca e não consiguiu, Ju coitada, jurava que conseguiria mas ninguém prestou atenção nela.

André era um rei, Beto seu súdito que trouxe maravilhosas atrações para entretê-lo - Ingrid, a galinha dos ovos de ouro, Bianca fazendo Dalila (A própria - "Vai buscar Dalila, vai buscar Dalila meu bem...") e Marquinhos, o M.J. A galinha botou o ovo de ouro e deixou a concorrência para trás, o rei Andre roubou ela para si e deixou as outras atrações chupando o dedo. Beto agradeceu no final.

Depois dessa viagem toda sentamos para conversar. Ingrid disse coisas muito interessantes sobre a diferença entre máscaras neutras e expressivas. Disse que as primeiras são mais difíceis pois é preciso comunicar-se com elas e ver o que 'elas querem de você ou vice versa'. Nos recomendou a não tocar nas máscaras para não desfazer a mágica, a mantêla sempre com texturas, com sabores escondidos na fantasia. O que ficou por certo ou quase foi sua capacidade de intuitivamente nos focar no trabalho corporal, por paralizar nossas expressões somadas à nossa voz. Assim vi na máscara uma ferramente interessante de 'soltar a franga', por assim dizer.

Perdão pelas três aulas de atraso, aí vão elas