Arena Uzona Oprimida

17/06/09 - Sobe o pano lá pras quatro da tarde. Eu, Beto, Thaty, Villa e Mauro tínhamos que preparar a cena para o Teatro de Arena, nosso assunto no seminário de Evânia para a noite.

O teatro de Arena foi um grupo de teatro profissional que foi na contramão de grupos profissionais que escanteavam um pouco o trabalho dos dramaturgos nacionais, além disso era um grupo de forte tendência comunista e de lá surgiram grandes nomes como o Oduvaldo Vianna Filho, Gianfrancesco Guarnieri, José Renato, Flávio Migliaccio e principalmente foi o laboratório onde Boal começou as experimentações que culminariam no teatro do Oprimido.

Nós ensaiamos uma ceninha em cima de um poema de João Apolinário, chamado "é preciso avisar" e pontuamos bem direitinho como cada um ia abordar o tema.

Curiosidade é que Beto e Mauro não conheciam a música "para não dizer que não falei das flores" de Geraldo Vandré; música que usamos e eles tiveram que aprender (pelo menos o refrão) na tora.

Quanto às apresentações, primeiro fomos nós mesmos, fizemos a cena em cima do poema e falamos sobre o teatro de Arena. Legal como algumas pessoas participaram do debate, discutindo coisas como o alcance político de teatro e os limites entre ambos.

Inclusive conto um caso de boal. Eles foram apresentar uma peça para o MST e na peça eles usavam fuzis de mentira. Então o lider do grupo, depois de assistir convidou os atores todos para fazer uma invasão, Boal disse que não, que os rifles eram de mentira e o líder disse que arranjaria rilfes de verdade para eles. Daí em diante Boal começou a rever o que era teatro político...

Depois de nós foi justamenteo o grupo que falou de Boal, eles focaram no teatro do oprimido e fizeram uma apresentação com o texto sendo enrolado em Marquinhos, muito bacana.

Quanto as conversas de Boal, o teatro invisível foi o que mais chamou a atenção de todos. Porque num primeiro momento Thaysa sugeriu que depois os atores revelariam que na verdade foi tudo uma encenação. Depois Evânia desmentiu, dizendo que na proposta de Boal, a coisa seria toda feita na surdina, sendo que o público jamais saberia que foi ator de uma provocação teatral. Começamos a discutir muito sobre isso. Biaggio levantou algo muito interessante - Que Boal fazia teatro pelos outros mesmo, nunca para si. Pois numa proposta como a do teatro invisível, o ator não tem glória, não tem registro, não tem nada para ele, só a provocação que ele faz no outro. Boal é realmente muito mais sociólogo que diretor. Não porque ele não era diretor, porque ele era, e ao que tudo indica, muito bom. Mas o foco de seu trabalho é muito mais pela arte como instrumento social que pela arte como arte.

O que fiquei pensando foi na teoria de Thaysa - As pessoa tendem a se desvincular emocionalmente do que lhes desagrada. Um teatro invisível que depois mostre para o público, aquele que se desvinculou, que aquilo era teatro, que aquilo do qual ele não quis participar era uma provocação. Uma outra forma de sacudir, de quebrar os preconceitos.

Não tivemos Brecht sei lá por que, no fim tivemos o 'oficina uzinauzona', a maluquice de Zé Celso, também muito importante no teatro nacional pela luta de identidade, liberação face à opressão e, tchan, tchan, tcha, tchan, as dionisíacas. Guil, uma das pessoas do grupo, é fã assumida de Zé Celso. É muito interessante colocá-los ao lado do Arena para ver como a questão política não tem nada a ver com a partidária. A questão partidária, muitas vezes, cega a política.

Li isso numa critica sobre Tchekov, que foi criticado na Russia por não ser comunista militante. A critica alertava que quando se vê as massas por ideologias e se esquece das individualidades que a compõe tem apenas ufonismos e demagogia. E o teatro de Arena tem um pouco disso. Desse cegueira ideológica; apesar que se for para apresentar aspectos duvidosos, o Oficina tem em demasia liberalismo e um certo panfletarismo. Mas não sei... acho a busca deles por expressão própria mais legítima que a do Arena, não sei...

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