Pobre ou quase II

03/06/09 - Sobe o pano. Hoje sim foi o dia do teatro pobre. Ou quase.

Conversamos um pouquinho e fomos para a pergunta fatal: Quem começa. Eu, Felipe e Thaysa começamos, eu não sei muito sobre o trabalho dos outros grupos, então vou me deter um pouquinho no da gente.

Nossa primeira idéia foi mecher na cena de Édipo Rei, corrigindo o que não deu certo e limpando-a, mas Felipe trouxe o texto "Navalha na Carne" de Plínio Marcos, e acabamos ficando com ele.

Li o texto enquanto lia o livro de Grotowski a procura ferrenha da minha verdade na história daqueles três personagens - um cafetão, um viado e uma prostituta numa pensão sórdida. Todas conectadas por relações de interesse, sadismo e decadência.

Propus ao grupo ligar essas relações aos conceitos de ator santo x cortesão de Grotowski, o grupo aceitou e fizemos três improvisações em cima do texto em que o cafetão, o viado e a prostituta, ao chegarem no clímax, trocam suas inquietações por inquietações ligadas ao trabalho do ator, sugerindo a platéia a relação entre a pessoa que se prostitui e o artista que se prostitui.

A cena foi construída numa estética 'pobre', ou seja, os atores, sem auxílio nenhum, foram responsáveis por criar as personagens e seu ambiente.

Os frutos desse laboratório foram muito mais saboroso que o de Artaud, ainda que ambos, para mim, tenham tido a mesma importância.

Depois Beto, Vila e Paula fazendo uma experiência em cima de "entre quatro paredes" de Jean Paul Sartre. Muito bacana a maneira como eles criaram esse ambiente do inferno e a tensão que une a aprisiona as personagens.

Vou fugir da ordem, pois não a tenho mais em mente. Dolores e Geraldo apresentaram de novo "Roberto Zuco" de Bernard-Marie Koltès (descobri o autor, lálálálá), mas com algumas diferenças, de novo destaque para dolores, muito ritualística oferecendo o corpo do filho como hóstia à plateia.

Biaggio e Camilla continuaram com "A obscena Senhora D" de Hilda Hilst, mas mudaram os excertos. Foi interessante como desconstrução do corpo imediato, que deu lugar à escadas, alavancas, relações de duplicidade e outros afins da viagem de cada um.

Tiago e Mauro fizeram um criação coletiva chamada "Dia grilado". Muitíssimo engraçado, ainda que a dramaturgia tenha sido ferrenhamente criticada por André "era melhor terem escolhido um texto" disse. Mas eu achei que eles encontraram, dentro da mímica e de seu contexto, muita verdade.

Noronha, Garrel, Marquinos e Bianca fizeram um pedaço de "O beijo da mulher aranha" tema trazido pelo professor para um exercício que fiz com Marquinhos nas primeiras aulas. Bacana como eles criaram duas "consciências" das personagens, interpretadas por Garrel e Bianca, e como eles fizeram o beijo passar do plano material para o etéreo. André criticou a dramaturgia, blábláblá.

Por último, mas não menos importante, Guil e Thaty se inspiraram numa música de Placebo chamada "20" para fazer uma cena muito fofa, que também tem um trabalho interessante de desconstruição de corpo e voz. Precisa dizer que André criticou a dramaturgia?

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