Preencha as lacunas

16/04/09 - Sobe o pano. Tívemos três tópicos de trabalho ontem:

- Brincar com a dramaturgia

- Discutir Stan

- Experimentar a posição e o relacionamento do Diretor x Ator

Quanto à dramaturgia, tivémos um texto assim para compeltar:

Título:__________

A - Oi, a quanto tempo não te vejo... como tens passado?

B - Eu vou muito __________

A - Nossa, o que foi que aconteceu? Você __________

B - Exatamente. Eu nunca pensei que isso um dia fosse acontecer comigo, mas __________

A - O que você vai fazer agora?

B - Eu já decidi... vou agora mesmo lá e __________

A - Eu estou surpresa com tudo isso, não seria melhor ir lá e _________

B - Não, preciso fazer isso. Ai, olha que vem chegando _________

C - Oi gente, como vão? _________ o que aconteceu com teu _________?

B - Isso é o que eu vou _________. Você já sabia, não era?

C - Na verdade, eu desconfiava, mas _________. Vou contar um segredo a vocês, eu ________ sempre foi assim.

A - Meu Deus, hoje é o dia das surpresas. Vamos eu vou dar uma coisa pra vocês. __________. Antes, que _________ chegue. Ninguém pode saber, viu!

C - _________. Eu não prometi nada. Ele está vindo... disfarça.

D - Eu quero saber o que está acontecendo aqui? _________ ai, eu não acredito que você fez isso... eu _________ agora não posso mais confiar em você. Eu já sei como vou me vingar... eu _________

E - Minha gente, vocês souberam o que aconteceu lá na _________ -, Ele estava lá, _________ ameaçando tirar a roupa de _________, um escândalo.

A - Essa eu quero ver. Vou _________. Quem sabe não sobra um pouquinho para mim também.

E - Adoro saber as fofocas da área. Vamos ver como essa história vai acabar.

C - Será que ________ vai fazer o que prometeu... Vamos lá.

FIM

Desse exercício eu tirei algumas conclusões como escritor.

Primeiro - sintonia, toda criação coletiva necessita da sintonia, e como nós tivemos que criar em cima do texto de um terceiro que não sintonizou conosco, o principal esforço foi no quesito de assimilar uma hipótese possível de suas idéias.

O texto é escorregadio, no começo ele dá margem a mil possibilidades, mas no fim com a entrada de certos personagens e algumas informações mais concretas ele te força a destruir o que já foi feito e adequar as novas informações ou promover reviravoltas dignas de comédia mexicana.

Num segundo momento discutimos um trecho do livro "A construção da personagem" do mestre Stan. Trecho que ele discute a relação exposição x exibição - e então o mestre nos lembra que expor-se é preciso para interpretar a vida de um papel, entretanto exibir-se é venenoso, até mesmo porque são coisas diferentes, expor é tirar a máscara, exibir é mostrá-la.

Também tratamos da delicada questão da repetição de nossos atributos e sentimentos em cena, da velha pergunta "Como não me repetir no palco?". Eu defendo que se houver o estudo e entrega necessários ao papel, não é preciso ficar se mudando por mudar. Mas tenho muito pouca experiência prática disso, o jeito é viver para testar.

Entrou na pauta da discussão algo que chamou minha atenção, disseram mais ou menos assim "tem atores que três dias depois do espetáculo contínua lá, arrebatado pela personagem. Cuidado, isso é pinta!" Deve ser mesmo. Acho tão interessante para o ator saber aflorar seus sentimentos quanto fechá-los, porque não é um jarro, o trabalho de ator é um delicado controle entre ambos. Então um ator que realmente, caso exista, se arrebate do sentimento da personagem dias depois da apresentação precisa trabalhar suas faculdades de controle, eu acho.

Thaty disse algo muito legal, falou que o ator precisa ter uma "Fase de desmanche" depois do mergulho para voltar a si. Gostei do termo.

Outra coisa levantada foi a questão da interpretação para novela. Bastante diferente da para teatro porque primeiro os atores não tem as personagens completas no início da trama, apenas o mote e algumas informações, isso ao passo que os torna mais vivos, já que realmente desconhecem o futuro na sua totalidade, também os torna em início clichês de si próprios pela falta de material.

Além, discutiu-se a questão de os atores de novela fazerem sempre si próprios. Talvez, é preciso ver as circunstâncias, as personagens das novelas, no âmbito de tempo espaço, socio-cultural variam muito, mas no âmbito emocional, o mais cobiçado pelos atores, são absurdamente repetitivos. A estética é sempre a mesma, a forma de filmar sempre a mesma, é difícil encontrar saídas, por isso tantas pessoas da classe atacam a teledramaturgia brasileira, porque é um formula que tem experimentado pouquíssimas reciclagens.

No último momento da aula fomos dividos em grupos para improvisar trechos de "Gota d'água" do mestre Chico Buarque de Hollanda. A idéia é experimentarmos as relações diretor x ator. Peguei a direção de Thaty e Thiago e estou muitíssimo feliz com meus atores. Dei tarefa de casa para eles e espero que eles façam e quarta veremos o que sai.

A relação diretor x ator é uma faca de dois gumes, pode ser extremamente prazerosa e pobre, pode ser prazerosa e riquíssima, pode ser traumatizante e pobre ou traumatizante e rica. No fim, tudo depende das pessoas. Meu conselho é que os atores não cheguem vazios, é mais negócio para qualquer diretor, até para os chatos que se acham donos do céu, da terra e da verdade trabalhar com algo que já está construído e é crível no ator que com a obtusidade.

Eu sempri vi o diretor como um olho, ele é quem pode ver para dizer o que funciona e o que não funciona. Isso não reduz o trabalho dele, como olho, ele é um visionário, ele é quem afina, é quem sintoniza todos os elementos do espetáculo - cenografia, luz, produção, atores e tudo o mais que for importante para o espetáculo.

E quando digo atores, não apenas os atores com outros elementos mas os atores uns com os outros. Ele é o responsável pela coerência e coesão do trabalho. Mas isso pode ser um trabalho de ouvir pouco e falar muito ou de ouvir muito e falar pouco. Depende da inteligência da figura.

Até hoje à noite, com professor Paulo, todos alongados, sim?

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