Set Light ou Panelão

13/04/09 - Sobe o pano. A aula começou com o relatório da aula do dia 30/03, feito por Evilásio e muito aplaudido por Camilla Rios, que foi elogiada por sua performance na gaiola.

Sobre a gaiola da Camilla, ela destribuiu para mim, pelo menos, uma tradução do discurso chamado "wear sunscreen", de Mary Schmich, jornalista america para uma coluna que ela assina ou assinava na Nova Tribuna de Chicago que virou vídeo institucional de uma agência de propaganda dos gringos, caiu na Internet, no fantástico e tem circulado muito. Abaixo a minha versão preferida dele, a quem interessar possa.



Quanto a aula, começamos com uma breve discussão do filme "A Viagem do Capitão Tornado" para que Neemias nos passasse os principais pontos da commédia del'arte - Como a profissionalização do ator, a simbiose entre ator e personagem, os roteiros - chamados de Canobaccio e Suggeto, estruturas com largas possibilidades para os Lazzi - cacos, improvisações ou pintas.

Estou citando os termos em Italiano pois foi um forte da aula, esse e os exercícios de commédia del'arte citados pelo professor - como o arlequim que quebra uma estátua e para não ser repreendido pelo amo, assume seu lugar ou mesmo quebra um espelho e imita o amo para que ele não perceba. Há também o exercício do doutor, em que outro ator assume o controle de suas mãos e o clássico exercício do Pantaleão - andar como se guardasse dinheiro do cofrinho.

Existem algumas coisas que chamam minha atenção na Commédia - o teatro de entreterimento ponto. Hoje existe isso muito mais forte no cinema. Em Introdução ao teatro, Evânia pega com força no ponto da relevância socio-cultural do que estamos fazendo. Talvez essa reflexão excessiva de nossa importância em nosso contexto seja um pouco paralisante para o fazer teatral, talvez devêssemos fazer com naturalidade e ver, com entrega, onde nosso fazer nos leva. Assim, naturalmente as visões mais importantes no âmbito social teriam destaque, mas mesmo assim todo o fazer teatral teria sua importância pois foi feito com verdade; muito diferente da afetação e pedantismo ao qual estamos habituados.

Os temas importantes saltam aos nossos olhos - aquescimento global, crise do petróleo, tráfico de drogas. Mas só porque o lemos no jornal talvez não devessemos pular para fazê-los no palco. Talvez pudéssemos entender que não temos conhecimento ou exposição o suficiente do assunto para tratá-lo com a sensibilidade de um artista.

E esse talvez seja um mérito da commédia - eles admitem as próprias limitações e fazem algo frívolo do ponto de vista socio cultural. Imaginam quantas descobertas importantes no Renascimento, e na própria Itália! E mesmo assim os artistas estavam preocupados em divertir. Hoje o contexto é outro, é verdade. Há o cinema, o teatro de uma maioria Recifense é assaz banal e mesmo na sua banalidade é carente de qualidade.

Tivemos um intervalo que quase durou o tempo certo e não tivémos a gaiola por carência de elenco. Azar. No segundo bloco fomos para a França e para a Inglaterra, ainda que por alto.

Para o grande expoente francês - Molière - e o inglês - Shakespeare - São areia demais para uma hora e pouco de aula. Mas o professor foi gentil em pintar o contexto em que eles surgiram. Desconhecia, por exemplo, o rigor acadêmico que ia se firmando na frança e agora entendo melhor a crítica de Molière. Falando nele, lembrei de André Garrel, que bebe da fonte e faz críticas seríssimas e contextualizadas no meio da bufonaria de sua comédia.

Sobre Shakespeare é a segunda vez que Neemias toca no ponto do absurdo ou da inesistência de seu teatro. Quanto ao absurdo, pensei em transpor isso para nossa realidade, com curupiras aconselhando presidentes a reiventar o assistencialismo ou coisa parecida. Quanto a inesistência, afinal, quem garante a morte de Elvis, não é mesmo?

Ingrid levantou uma coisa curiosíssima - perguntou a visão do professor sobre o panorama do teatro europeu e brasileiro como um todo nos dias atuais. O professor disse que aos seus olhos estávamos dividos ainda na experimentação, no contemporâneo e nos que mantinham tradições. De uma forma geral isso é verdade. Mas eu, ainda um moleque, já me sinto pouco confortável com esse teatro dito "contemporâneo" já me inquieto com o excesso de proposta, com a falta de naturalidade, com um certo descaso para o público, de um novo eletismo vicioso. Queria ver um teatro mangue. Um teatro marginal. Recife, na sua posição cênica pouco profissional, é um local excelente para a reinvenção e destruição das idéias cult. Um dia ainda faço isso.

Porque é o seguinte - a partir do momento em que há o desconforto de uma classe ativa, é tempo de mudanças.

Outro ponto foi o mangá. E não venho o denfender como um fã, mas como um pensador de nossa história. Primeiro o mangá é um desenho com um público alvo diferente - adolescentes e adultos, principalmente - algo talvez novo para alguns, mas desenhos adultos são coisa bastante antiga. Por isso as histórias intrincadas e os valores diferenciados. Eles exploram o fantástico, o sexo e a violência porque são artigos de venda no mercado - se eles são culpados disso, hollywood também é. Outra - porque a estética do desenho animado seria inferior para a discussão da condição humana que qualquer outra? Existem verdadeiras obras de arte no quesito do mangá, como o Neon Gênesis Evangelion, que em 24 episódios mudou minha maneira de ver o mundo.

Além, é uma manifestação cultural antiga e importante no Japão, com a globalização e uma boa equipe de Marketing ganhou o mundo.

Outra coisa que lembrei nessa história de mangá é o cosplay, um teatro do público, baseado na imagem de todos no desenho, outra manifestação cênica que considero ainda inferior, pela falta de cuidado no trabalho dos atores, já que a estética fala mais que o conteúdo, mas importante para todo ator conhecer e analisar.

Houve mais, mas ficará para outro post.

Abraço a todos e boas apresentações hoje na aula de André.

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