Com shakespeare.

06/05/09 - Sobe o pano. Mas dessa vez de verdade, no teatro Barreto Júnior, onde a turma foi convidada a assistir o espetáculo 100 shakespeare, do grupo Pia Fraus, meus conterrâneos de São Paulo.

Uma coisa me chama muito a atenção no teatro paulista - excelência técnica e falta de identidade. O que é falta de identidade? É resultado de um ecletismo excessivo. Paulistas fazem de tudo, o que eu me pergunto é: porque eles não fazem as raízes deles? E em São Paulo descobrir sua raíz é literalmente, caçar um agulha num palheiro. Não ouço regionalismo paulista. Pela contrário, um grupo competentíssimo de São Paulo - como são todos os que vêm para cá - usou Gilberto Freire, assombrações do Recife Velho. Quero dizer, onde está o regionalismo deles? Não é uma crítica de forma alguma, até porque a qualidade deles não me deixa criticá-los, mas um indagamento que acho pertinente. A cena Recifense, por outro lado, tem muitas pessoas fazendo, e bebendo em raízes e sendo "popular" ou "armorial" ou "pintoso" mesmo mas toda essa riqueza se torna estéril na mão de artistas sem qualidade técnica. Ver os grupos paulistas me leva a essas reflexões.

Bem, 100 shakespeare se vale, na verdade, de apenas 43 bonecos e diversas formas de manipulação, são tantos bonecos que não é necessário cenário, basta deixá-los ali que o palco se preenche de vida. Ingrid levantou que a expressão dos bonecos é sombria, quase grotesca, conferindo à encenação com eles uma espécie de surrealismo. Enquanto assistia não pensei nada disso. Pensando agora creio que se eles fossem mais bem feitos seriam menos humanos.

Os atores, no debate depois do espetáculo - gostaria de saber o nome do mediador, uma figura engraçadíssima - os atores usaram muito o termo 'imagético' para descrever o espetáculo, não creio que a palavra exista, mas gostei muito do neologismo, achei-o bastante 'imagético'. As cenas representadas vieram de nove peças do dramaturgo inglês e para 'sonho de uma noite de verão' os atores escolheram uma cena ambígua, diga-se de passagem, com cavalos e pênis enormes que deveria aparecer na luz negra, para não ficarmos prestando atenção demais nos seus pênis, mas a luz negra falhou e ficamos lá prestando atenção nos pênis e refletindo a profundidade humana de um pênis de cavalo.

Minha principal crítica desse espetáculo, assim como todos os espetáculos de "linguagem" é que são muito bonitinhos mas não dizem muita coisa. Eu, como público, tenho ânsia de algo humano na representação, na absurda e estúpida necessidade de comunicação do ator, que é uma das grandes garras, que é uma força inexplicável que nos põe em contato com nós mesmos. Esse mais íntimo, mais profundo do teatro não havia nessa representação; era bom de se ver, era bem feito, mas nesse aspecto, estéril. Enfim gostei.

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