A serviço do que não existe

30/4/9 - Sobe o pano. Bem maior foi a quinta-feira. Chegamos mais cedo todos para ensaios do texto "Véu e Grinalda" de Miguel falabella adaptado por Evânia Copino para nossa realidade Jaboatonense. Novamente fiquei no vácuo da produção dos outros grupos ensaiando. Então vamos para os resultados.

Os primeiros a se apresentar foram Marquinhos, Bianca e Garrel dirigidos por Evilásio nos papéis de Bebel, Bárbara e Judith, respectivamente. Destaque para a roupa de Marquinhos, curtíssima e a voz da Garrel, cuspidíssima.

A segunda cena foi feita por Camilla, Thaty e Thaysa dirigidas por Beto Brandão nos mesmos papéis respectivos. Destaque para Thaty, na minha opinião, a melhor cena dela no curso; também para Camilla, alesadíssima e Thaysa muito chata.

A terceira fomos Paula, Dolores, e Eu diridos por Mauro Monezi. Destaque para Paula, também alesadíssima.

A quarta cena foi de Guil, Ju e Noronha dirigidos por Geraldo. Destaque para muitas coisas: a caracterização das personagens, tanto nos adereços, quanto no figurino e maquiagem. Destaque destacado para Guil, que em matéria de Alesadisse aguda venceu todas as antecedentes e o balanço sensual de Noronha na pele de D. Judith.

Depois das apresentações prof. Evânia bateu um papo com os diretores e algumas dos pontos importantes da conversa foram:

- A necessidade do diretor preocupar-se com os aspectos técnicos da montagem, como figurino, maquiagem, cenário, marcas. É comum o diretor inexperiente preocupar-se apenas com a marca e desligar-se dos outras aspectos importantes da produção da cena.

- Os diversos tipos de humor. Não é uma questão de certos e errados, mas é possível conseguir amor acreditando numa história ridícula ou expondo o ator ao ridículo. Não acredito que o ator seja um pedestal que não deva ser ridicularizado. Mas acho que esse ridículo não deva ser depreciativo nem de graça. Assim como não concordo com atores que não se enfeiam ou ridicularizam por suas personagens, também não concordo em atores que por não conseguir humor de outra forma, precisam se humilhar de graça e sem necessidade. Coisas para se pensar.

- E junto do tópico anterior veio a questão da exibição x caracterização do ator. Yoshi Oida escreveu um livro chamado "O Ator invisível", onde ele defende que o ator deve ser invisível, ninguém deve vê-lo em cena, apenas a personagem. E eu acredito que parte da mágica que fazemos está nesse conceito. A relevância disso já é outra história, mas como poderemos dar relevância ao que fazemos se não fazemos com poder, com mágica para funcionar? Enfim, Evânia pôs em pauta que nós atores temos atrativos muito chamativos que precisamos aprender a esconder: Os Cabelos da maioria das meninas, que pouco ou nada muda, os óculos de Ingrid, e coisas mais arraigadas, como certos cacuetes físicos ou partituras vocais que são marcas registradas de certos atores.

Um conceito interessante foi o tirado da experiência com Beto, que chegou com o texto já todo marcado e fervilhando de idéias, desse processo vi a possibilidade de um diretor "paleta" do ator, uma pessoa que possa, pela experiência, trazer cores ou formas que inspirem o trabalho dos que estão no palco. Eu me oponho à isso, prefiro ver o diretor como um instigador, uma pessoa que provoca muito mais que uma que oferece. Mas a qualidade do resultado da cena de Beto foi muito boa e acho que há verdade em ambos os caminhos.

- Os fissurados. No caso eu (metido) e Paula (insegura). Tivemos um grande momento terapia, onde verdades foram ditas, e cada dia me impressiono mais com o poder dos verdadeiros mestres e verdadeiros atores de dizer a verdade. Acho lindo e acho gradioso não só a verdade dita, mas a maneira como um bom ator e um bom mestre sabe dizer a verdade. Acho os professores do curso um espetáculo à parte. Então, Evânia me chamou a mim e a Paula de fissurados, e aceitamos numa boa porque não é mentira. Quanto à Dolores, a inquiriu uma verdade que já estava na boca de todos "Não serão nem os professores que passarão a te cobrar, o professor olha o resultado, será a turma, pois com o tempo, a turma irá cada vez mais procurar as pessoas com tempo e qualidade para trabalhar em grupo. Você pode dar o seu tempo e sua qualidade ao grupo?" Dolores não entendeu, viu como um últimato e já ia pulando do barco quando Geraldo, outra grande personalidade disse algo que também estava na garganta de todos e me fez admirá-lo muito "Pare de se desculpar minha filha. Você está fazendo um monstro da escola SESC, que não é um monstro. Não sofra. Faça o que você pode, se der o máximo de si, será bom. Você não precisa pedir desculpas". E é verdade. Que o tempo dela é curto, lá isso é, mas não é só o dela, muitos no curso também tem tempo curto, é a vida, nunca ninguém tem tempo suficiente, e quem tem é um chato. Enfim, lavamos a alma como num verdadeiro drama.

- Trabalho de limpeza. Geraldo mostrou através de sua experiência como usar artíficos simples para limpar as pessoas e dar mais espaço para as personagens. Vozes, roupas, corpos, tudo a serviço do que não existe. Que lindo.

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