Recuperação

08/07/09 - Sobe o pano para a recuperação de Evânia. Eu tinha tentado ensaiar a 'interface' antes, mas por já que metade do meu grupo estava na recuperação e a outra doente (eu inclusive, descobri depois) não pudemos, fiquei tomando sorvete com Mauro e Paulinha até o horário da aula.

Na aula mais surpresas. Muita, muita gente doente, mas a recuperação não estava nem aí para as doenças dos outros.

A primeira a tentar se recuperar foi Ju, com Shakespeare; mas acho que não dei certo. Os trabalhos todos para a semana somados a sei lá mais o quê resultou num trabalho feito com pressa que não funcionou em sala de aula. Para a cena também não aconteceu muita coisa, ela leu um trecho de Romeu e Julieta (ela não me deixou fazer Romeu, que eu queria tanto...) e fim.

Evânia, fazendo perguntas para tentar ajudá-la a desenvolver a pesquisa dela levantou uma coisa interessante: Shakespeare como insurgente. Neemias diz que ele não existe, Evânia que ele foi um 'revolucionário' (ela não disse isso desse jeito não, eu amentei com licença poética) que nos seus textos, mostrava os podres da nobreza. Fiquei pensando o seguinte: Primeiro ele trabalhava para a nobreza, depois ele nunca atacava diretamente, então se ele fazia, fazia na surdina, o que não é nenhuma novidade.

A outra coisa que pensei foi: Na época não se falava do homem comum, não se escrevia peças sobre gente simples, só sobre gente importante: Nobres, personagens históricas; e como toda história tem que ter conflito, se não a peça não rola, então é claro que ele tem pôr defeitos na nobreza. Não sei se vejo a obra dele tão insurgente assim, principalmente quando há relatos que a Rainha vivia bancando ele. Tudo bem que a Rainha Elizabeth é conhecida por ter sido excêntrica e sem papas na lingua. Enfim o questionamento fica suspenso.

Depois foram Dolores e Geraldo nos dar uma prova de amor - Dolores e Geraldo, não sei dizer se os dois estavam de recuperação e fizeram juntos ou se um ajudou o outro, sei que foi junto e ponto. Ah, e o tema foi Sófocles, com Édipo rei. Geraldo falou bastante e trouxe um questionamento massa, que é assim:

Sófocles contribuiu para a segunda 'fase' do teatro grego - e por segunda fase entendemos que ele introduz entre os homens e os Deuses conflito - Os homens ainda devem obedecer aos Deuses, mas ele já podem questionar, eles já podem desafiar - e encarar as consequencias - mas antes a obediência era a lei. Na verdade, antes os homens quase não eram protagonistas das tragédias - Prometeu, Bacantes - Os deuses eram os personagens principais, na segunda fase os homens ganham mais espaço, um espaço que 'históricamente' só é firmado no renascimento, quando os Deuses ficam quase completamente escanteados.

Agora a lição de amor da apresentação de ambos foi: Dolores tem uma vida corrida e não pôde dedicar à recuperação o devido tempo, Evânia percebeu, ficou aquele clima chato onde todo mundo não se encarava direito... E Geraldo usou de todas suas forças para empurrar Dolores para frente, usou dos truques e artifícios mais óbvios imagináveis para ajudar Dolores a passar na recuperação. Dolores desistiu antes de começar; se culpou por não ter se dedicado mais.

O próximo seria Biaggio com o teatro do Absurdo, mas eu estava muito doente e tive que ir embora. Fiquei pensando no dilema ético do professor numa hora dessas e como tudo fica amarrado no aluno: Evânia deu quatro trabalhos para nos avaliar, para quem não conseguiu, seja por falta, seja por nota, houve trabalhos de recuperação. Ou seja, ela deu todas as chances. Mas se o aluno não aproveita nenhuma das oportunidades?

O curso do Sesc não tem, em hipótese alguma, caráter eletista ou de exclusão - muito pelo contrário, é um curso de Teatro, por Deus! Mas existe um compromisso ético, porque quando você diz que uma pessoa está formada num curso, ela precisa estar formada. O que fazer?

A solução encontrada pelo Sesc é boa - Fazer de novo as cadeiras reprovadas. Mas que ainda é uma cruz triste que como curso a escola Sesc tem e deve carregar. É.

0 comentários: